Marina tem maior chance de angariar votos de indecisos, dizem analistas
18 de agosto de 2014A primeira pesquisa de opinião realizada pelo Datafolha após a morte do candidato a presidente Eduardo Campos, divulgada nesta segunda-feira (18/08), mostrou que Marina Silva (PSB) – até então candidata a vice e provável substituta de Campos na chapa – absorveu não apenas os votos do colega, como também os dos eleitores indecisos e que votariam em branco e nulo.
Em comparação à sondagem anterior, de julho, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) aparecem com os mesmos percentuais – 36% e 20% dos votos, respectivamente. Na última pesquisa, Campos aparecia com 8% da preferência do eleitorado. O número de indecisos caiu de 14% para 5%; o de brancos e nulos, de 13% para 8%; e a soma do percentual dos outros candidatos, de 8% para 5%.
De acordo com a nova sondagem, Marina absorveu os votos de Campos e, também, 13% de eleitores que estavam indecisos, contabilizando 21% e ficando em empate técnico com o candidato tucano. O percentual de Marina na pesquisa se assemelha muito ao obtido por ela no primeiro turno das eleições de 2010, quando, em disputa com Dilma (46,91%) e José Serra (32,61%), recebeu 19,33% dos votos válidos – o que correspondeu a 19,6 milhões de eleitores.
Para o cientista político Valeriano Costa, da Unicamp, a morte de Campos antecipou um movimento que provavelmente seria visto no decorrer da campanha eleitoral. O ex-governador de Pernambuco ficaria mais conhecido ao ser associado à então vice, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, e, assim, se tornaria a terceira força na eleição deste ano, considera.
"Essa era a expectativa quando Marina foi escolhida para ser a vice de Campos. O eleitorado que votou nela em 2010 estava indeciso e era contra a bipolarização de PT e PSDB", afirma Costa. "Agora, o eleitorado ficará dividido entre três blocos: o principal, formado por PT e PMDB, e as chapas de Marina e Aécio disputando um lugar no segundo turno contra Dilma. O jogo pode até virar, mas seria uma revolução muito forte."
Para o sociólogo Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, inicialmente, o crescimento do PSB com Marina à frente é resultado do impacto emocional da trágica morte de Campos. "Eleição é um misto de voto racional e conteúdo emocional. Muitas vezes, perfis políticos de salvadores da pátria podem influenciar o eleitorado por meio de mensagens emotivas", afirma o especialista, que também considera impossível prever qual candidato irá ao segundo turno com a atual presidente Dilma.
Capital eleitoral de 20 milhões de votos
A provável cabeça de chapa do PSB entra na disputa deste ano com um capital político de cerca de 20 milhões de votos obtidos na eleição de 2010. Segundo especialistas ouvidos pela DW, Marina tem a maior chance de angariar votos de eleitores ainda indecisos pelo fato de ter a menor rejeição entre os três principais candidatos na disputa. Na pesquisa divulgada nesta segunda-feira, Dilma aparece com 34% de rejeição, seguida de Aécio (18%) e Marina (11%).
A popularidade de Marina aumentou ainda mais durante os grandes protestos na metade do ano passado, que levaram milhões de brasileiros às ruas. Os manifestantes viram na provável candidata do PSB – que, naquele momento, tentava coletar e validar milhares de assinaturas para registrar o partido Rede Sustentabilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – uma política que poderia romper com a bipolarização e com a corrupção no sistema político.
"Marina puxou muitos votos da classe média, que é basicamente o público dos protestos do ano passado. O eleitor considera que ela vai levar mais ética para a política", afirma o cientista político Leonardo Paz Neves, professor do Ibmec/Rio e coordenador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). "Ela captura votos não só da população do Norte e do Nordeste, mas também da classe média dos grandes centros urbanos, que tem mais acesso à informação."
Para Marco Antônio Villa, historiador e ex-professor de ciências sociais da Universidade Federal de São Carlos, Marina tem também uma linguagem mais próxima daqueles que estão desiludidos com a chamada política profissional – que, para ele, é o eleitorado urbano, de boa formação escolar e que questiona as práticas eleitorais tradicionais. Apesar de tudo, ele não considera a candidatura de Marina como de ruptura ao sistema atual.
"Seu programa será o do PSB e não o da Rede. Tem um figurino alternativo, politicamente falando, mas de pouca consistência econômica", diz Villa. "Certamente, sua pequena experiência administrativa vai ser explorada pelos adversários, assim como a ausência de propostas sobre os problemas fundamentais da economia brasileira."
Porém, ainda é cedo para afirmar se a provável candidata do PSB vai conseguir aumentar – ou até mesmo diminuir – a intenção de voto, já que a propaganda partidária eleitoral no rádio e televisão começa a ser veiculada a partir desta terça-feira e prossegue até 2 de outubro. Dos 25 minutos para os presidenciáveis, a chapa encabeçada pelo PT terá cerca de 11 minutos; a do PSDB, 4 minutos; e a do PSB, 2 minutos.
Marina venceria segundo turno
Ainda de acordo com a pesquisa do Datafolha, na simulação de um provável segundo turno, Marina fica numericamente à frente de Dilma – com 47%, contra 43% das intenções de voto para a atual presidente. Porém, a pequena distância configuraria empate técnico nos limites máximos da margem de erro, que, na sondagem, foi de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Contra Aécio, a atual presidente Dilma venceria o pleito no segundo turno por 47% a 39%. A diferença de oito pontos percentuais mostra que candidata do PT ampliou sua vantagem em relação à simulação feita em julho, quando o cenário era de empate técnico (44% a 40%).
O segundo turno do pleito será uma grande surpresa, já que a costura de apoios será decisiva. Mesmo assim, para especialistas, mesmo que num segundo turno Aécio apoie Marina – ou vice-versa –, muitas vezes, a adesão do eleitor não deverá coincidir com o pensamento do candidato que costurou o apoio.
"É mais fácil o eleitor de Aécio votar em Marina no segundo turno do que o contrário", diz Costa. "O eleitor da Marina é aquele 'nem-nem': nem PSDB, nem PT. Já o núcleo duro do eleitorado tucano não deve se aproximar de Marina por ela ser evangélica e ter sido militante do PT."
A nova sondagem do Datafolha mostra que Dilma estava em processo de recuperação de intenção de votos entre julho e agosto, ao mesmo tempo em que a aprovação à sua gestão aumentou seis pontos percentuais (de 32% para 38%). A pesquisa do Datafolha foi realizada entre 14 e 15 de agosto, em 176 municípios e com 2.843 eleitores.