Roma sem polítcos
16 de novembro de 2011Secundado por um governo de tecnocratas, o primeiro-ministro nomeado da Itália, Mario Monti, entra na luta contra a crise de endividamento que levou seu país à beira do colapso financeiro. Nenhum dos ministros escolhidos é político de carreira: são professores universitários, diplomatas, juristas, executivos. E, até segunda ordem, o próprio Monti estará à frente da pasta da Economia, como anunciou nesta quarta-feira (16/11).
"Trabalhamos com grande seriedade, num tempo curto; ao escolher valorizamos a qualidade. Estamos convencidos com o resultado, pois recebemos muitos sinais de encorajamento de nossos parceiros europeus e de todo o mundo", declarou o respeitado economista.
Eficiência parece ser a marca registrada desse novo governo italiano: Monti formou seu gabinete em menos de uma semana, reduzindo a 16 ministros o aparato governamental inflacionado de Silvio Berlusconi. O tempo urge: pouco antes de ser anunciado o novo gabinete, a taxa de juros dos títulos públicos italianos voltou a ultrapassar a marca crítica de 7%. Com a rápida formação de sua equipe, Monti quer transmitir uma mensagem de confiança.
Ilustres desconhecidos
Excluído o próprio Monti, os nomes da maioria dos chefes de pasta são pouco conhecidos do grande público. No máximo Corrado Passera, diretor executivo do maio banco italiano, o Intesa Sanpaolo, que foi nomeado para a Infraestrutura e Indústria. Trata-se de um ministério-chave para Monti, que definiu como sua meta central o impulso econômico ao país.
Passera criticava repetidamente o governo Berlusconi por sua inação contra a crise. Assim como a maior parte dos empresários italianos, ele saudou a mudança em Roma. "As poucas declarações de Monti levam a esperar um programa de rigorosa contenção, incentivo à economia e equalização social. Em conjunto, tudo isso voltará a impulsionar o crescimento de forma duradoura, levando a desenvolvimento, competitividade e coesão social."
Uma das tarefas mais difíceis para o novo gabinete cabe à ministra da Justiça, Paola Severino. A especialista em direito penal precisa reformar o sistema de Justiça. Os processos demoram demais, promotores públicos usam inquéritos espetaculares para se projetar, e registros confidenciais acabam indo parar com frequência excessiva na imprensa.
No contexto do processo contra a estudante norte-americana Amanda Knox, Paola Severino acentuou que o Estado de Direito na Itália funciona. "Existe a importante garantia de poder reavaliar um processo em segunda instância. É preciso registrar esse fato", declarou na ocasião.
Mais católico e menos político
Entre os novos chefes de pasta, o nome de maior projeção internacional é certamente o do romano Andrea Riccardi, professor de História e estudioso da Igreja moderna e contemporânea, indicado para a Ajuda ao Desenvolvimento e Integração. Ele é fundador da comunidade católica Sant'Egidio, engajada no campo do trabalho social e da paz. Em 2009, recebeu o Prêmio da Paz de Aachen.
"Não sei se fazemos política. Como bom filho de 1968, estou convencido de que tudo é política. Acho que em Sant'Egidio trabalhamos em duas coisas que constituem política: uma se refere à paz; e a outra diz respeito à cultura de vida – e cultura de vida é sempre diálogo."
Além de pensador político, Riccardi é também um homem da Igreja, tido em alta consideração pelo Vaticano. Na fase final de Berlusconi, as relações entre a Igreja Católica e Roma eram mais do que glaciais. Aqui, Monti emite outro sinal importante: seu governo será mais católico e menos político. À mesa de seu gabinete não sentará um único político partidário ativo.
Autor: Tilmann Kleinjung, de Roma (av)
Revisão: Alexandre Schossler