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Nobel de Literatura

7 de outubro de 2010

Autor peruano ganha a homenagem não só por sua contribuição literária, mas também devido ao engajamento político. Pela primeira vez em 20 anos o Nobel de Literatura vai para um escritor latino-americano.

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Uma vida por ideais políticos: Mario Vargas LlosaFoto: AP

Pela primeira vez em 20 anos, um escritor latino-americano ganha o Prêmio Nobel de Literatura. A Academia Sueca anunciou nesta quinta-feira (7/10) que o peruano de 74 anos, Mario Vargas Llosa, foi escolhido para receber o mais prestigiado prêmio literário do mundo. A escolha não se deve somente pela criação artística do autor, mas também por sua atitude, sua trajetória como um idealista cosmopolita que gosta de ultrapassar fronteiras.

Vargas Llosa tem influenciado o mundo há vários anos com seus mais de 30 romances, diversos ensaios e peças, sempre lutando por seus ideais políticos e sociais. A Academia Sueca o homenageia, segundo comunicado da instituição, por sua “cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre resistência, revolta e derrota individual”.

Peter Englund, presidente do júri de literatura do Nobel, explicou a decisão: "Ele tem mostrado que a grande literatura pode mudar o mundo. E uma grande literatura é uma literatura mundial ".

Telefonema em Nova York

Vargas Llosa vive no momento em Nova York, onde leciona na Universidade de Princeton. "Ele acordou às 5h para preparar uma aula. Quando ligamos para ele, às 06h45, ele já estava trabalhando vigorosamente", acrescentou Englund. Vargas Llosa anunciou que irá receber o prêmio pessoalmente em Estocolmo no dia 10 de dezembro. Seu novo romance, El sueño del celta, será lançado em 3 de novembro.

Vargas Llosa disse ter ficado "muito, muito emocionado e animado", segundo a Academia. "No começo, pensei que um amigo estava fazendo uma brincadeira comigo", disse o escritor, de acordo com o jornal espanhol El Mundo.

Entre seus romances mais conhecidos - muitos dos quais de inspiração autobiográfica - estão A festa do bode (2000), Tia Júlia e o escrevinhador (1977) e O paraíso na outra esquina (2003), todos publicados na Alemanha pela editora Suhrkamp. Vários de seus livros foram também filmados.

O anúncio foi festejado com entusiasmo nesta quinta-feira (7/10) no estande da Suhrkamp na Feira do Livro de Frankfurt. "Estamos todos pulando de alegria ", disse Ulla Unseld-Berkéwicz, que dirige a editora alemã. "É uma decisão maravilhosa. Ele é um grande contador de histórias do seu tempo. Ele cunhou a frase 'literatura é fogo' e exatamente assim são as suas obras ", definiu.

"Acima de tudo, legível"

O mais famoso crítico literário alemão, Marcel Reich-Ranicki, se disse satisfeito com a escolha de Vargas Llosa, embora tenha ressalvas quanto ao sul-americano. A homenagem, segundo ele, é “bastante razoável e justa" e ponderou: "Não devemos colocá-lo nas alturas e falar em um Flaubert, o que seria um exagero.”

Buchcover Mario Vargas Llosa Das Fest des Ziegenbocks
Capa de edição alemã de "A festa do bode"Foto: Suhrkamp

O crítico acha Vargas Llosa um “bom escritor”, que tem uma "grande influência" e é, "acima de tudo, legível”. “O que é muito importante, na Alemanha, pois isso é coisa rara por aqui nos últimos tempos”, opinou Reich-Ranicki.

Como jornalista, apresentador de televisão e presidente da associação de escritores PEN Internacional, Vargas Llosa sempre fez política ativamente. Em 1990, ele se candidatou ao cargo de presidente no Peru, mas perdeu surpreendentemente no segundo turno para Alberto Fujimori. Após esta derrota, voltou a se dedicar à literatura, se mudou para a Espanha e recebeu a nacionalidade espanhola, sem perder a peruana.

Vida pouco sedentária

Filho de um jornalista, Llosa viveu desde a infância uma vida pouco sedentária. As escolas religiosas, academias militares, anos na universidade em Madri e Paris, trabalhos temporários em Londres, Barcelona, depois no Peru e um autoexílio na Espanha.

Já aos 18 anos, se casou com sua "Tia Júlia", dez anos mais velha do que ele. O casamento terminou em divórcio. Com sua segunda esposa, Patricia, tem três filhos. Foi ela que atendeu na quinta-feira em Nova York o telefonema da Academia Sueca e não entendeu, em um primeiro momento, sobre o que se tratava a ligação. "Depois me ligaram de novo e me disseram que eu tinha recebido o prêmio", disse Vargas Llosa à edição online do diário madrileno El Mundo.

Nos últimos anos, o Prêmio Nobel de Literatura foi recebido em seis vezes consecutivas por autores europeus – incluindo um turco. Em 2009, a alemã Herta Müller foi a homenageada. O último latino-americano vencedor do Prêmio Nobel de Literatura foi o mexicano Octavio Paz, em 1990. Vargas Llosa é o sexto escritor da América Latina a receber o Nobel de Literatura.

O prêmio é dotado de cerca de 1,1 milhão de euros, sendo entregue tradicionalmente em Estocolmo no dia 10 de dezembro, data da morte do químico e industrial sueco Alfred Nobel, instituidor da honraria.

Autor: MD/dpa/rtrs
Revisão: Carlos Albuquerque