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Martin Schulz: crônica de uma lenta queda política

Sabine Kinkartz | Nina Werkhäuser | Peter Hille av
9 de fevereiro de 2018

Líder social-democrata queria ser chanceler federal. Depois, ao menos chefe da diplomacia da Alemanha. Agora está de mãos abanando. Depois de renunciar à presidência partidária, ele desiste também da pasta do Exterior.

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Martin Schulz
Após declarar que SPD iria para a oposição, Schulz voltou atrás e decidiu negociar coalizão com MerkelFoto: picture alliance/dpa/F. Gambarini

O social-democrata Martin Schulz voltou atrás, nesta sexta-feira (09/02), em seus planos de assumir o Ministério do Exterior no próximo governo federal de coalizão da Alemanha. Desde o anúncio da intenção, dois dias antes, a resistência intrapartidária era grande demais, assim como a pressão externa.

Segundo pesquisas de opinião, três em cada quatro alemães eram contra tê-lo como chefe da diplomacia nacional. Entre seus correligionários, o quadro não era mais promissor, com uma decidida maioria se opondo a suas pretensões ministeriais.

Leia também: Opinião: A humilhante despedida de Martin Schulz

O debate sobre a pessoa de Schulz ameaçava comprometer a votação dos filiados do partido sobre a formação de uma coalizão de governo entre o Partido Social-Democrata (SPD), a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU).

Renunciando à chefia da diplomacia alemã, ele espera ter dado "fim aos debates de pessoal dentro do SPD". Na quarta-feira, após a conclusão das negociações de coalizão, Schulz já renunciara à presidência do partido, entregando-a à chefe da bancada social-democrata no Bundestag (Parlamento alemão), Andrea Nahles.

Derrocada gradativa

Bater no fundo do poço – e depois afundar ainda mais: é mais ou menos assim que Schulz deve ter se sentido nos últimos meses. Em que momento a queda ficou óbvia?

No encerramento das eleições legislativas, em setembro último, quando o SPD teve seu pior resultado do pós-guerra, com 20,5% dos votos? Quando – após o fracasso das negociações sobre a "coalizão Jamaica", a aliança governamental entre CDU/CSU, verdes e Partido Liberal Democrático (FDP) – Schulz anunciou, com inicial veemência, que o SPD seguia indisponível para uma "grande coalizão" com os conservadores, para em seguida voltar atrás?

"É uma situação que nunca ocorreu na história da Alemanha"

Quando ele classificou como "excelente" o resultado das sondagens entre SPD e conservadores, e logo em seguida seus correligionários desmontaram publicamente esse resultado? Ou quando seu suposto amigo Sigmar Gabriel, que Schulz pretendia substituir à frente do Ministério do Exterior, o acusou de falta de respeito e quebra de palavra?

A posteriori, é difícil identificar o momento que acabou transformando Schulz na sombra de si mesmo. Certo está que ele deu guinadas demais, acabando assim com a própria credibilidade. Nada mais faz lembrar o político que, um ano atrás, chegou para guiar sua legenda do vale de lágrimas de volta à luz; que em março de 2017 foi eleito líder partidário com 100% dos votos; que obteve tamanho apoio para o SPD nas enquetes que superou meteoricamente a CDU/CSU, sendo por isso festejado como um Messias.

Após as eleições legislativas de setembro de 2017, o SPD ainda seguia o seu presidente. Ao serem anunciados os resultados, ele anunciou que entraria para a oposição, tocando assim um ponto sensível do partido. A derrota fora clara demais, a necessidade de renovação era óbvia demais. Mas aí a "coalizão Jamaica" fracassou. O que era mais importante: o SPD e seu desejo de renovação, ou a Alemanha, que estava sem governo?

Schulz se decidiu pelo país – mas não de imediato. Primeiro insistiu que o partido não estava disponível para uma reedição da "grande coalizão" com a CDU/CSU. E só cedeu sob a pressão de seu velho companheiro de legenda, o presidente Frank-Walter Steinmeier. Mas no SPD, muitos levaram a mal essa volta atrás.

Andrea Nahles e Martin Schulz
Com seu discurso, chefe de bancada parlamentar Andrea Nahles superou importância de Schulz em congresso extraordinário em BonnFoto: picture alliance/dpa/K. Nietfeld

Nahles: a grande esperança social-democrata

Cada vez mais, Schulz tinha que lutar pela própria sobrevivência política. Nas redações de jornais, seu obituário político já estava pronto para publicação, quando, em 21 de janeiro, um congresso partidário extraordinário votou na cidade de Bonn sobre o resultado das sondagens com os conservadores.

A votação só não resultou em fracasso e consequente renúncia de Schulz graças à decidida intervenção de Nahles. Após um desanimado e inconvincente discurso do líder, em apenas seis minutos a chefe de bancada de 47 anos conseguiu mudar o curso do vento, permitindo o próximo passo no sentido da malvista aliança governamental.

No entanto, mesmo depois de concluídas as negociações, o destino da grande coalizão SPD-CDU/CSU não está selado. Mais de 460 mil filiados do Partido Social-Democrata ainda terão que decidir se estão de acordo com o contrato ou não. É hora de a presidência da legenda realizar intensa ação de persuasão, tendo Nahles à frente.

Schulz não tem mais força nem influência para enfrentar a vontade do partido. Se ele tivesse insistido em permanecer como presidente do SPD ou em assumir a pasta do Exterior, só teria fortalecido os opositores da grande coalizão na próxima votação dos filiados, a ser realizada em 4 de março.

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