Massacre reacende debate sobre armas de fogo nos EUA
17 de dezembro de 2012"Isso poderia ser um divisor de águas": nesse ponto, a maioria dos convidados de talk shows estava de acordo. E eles não falaram de outro tema neste fim de semana, na TV norte-americana: o massacre na escola primária Sandy Hook, no estado de Connecticut, onde 20 crianças e seis adultos foram mortos. Antes, o atirador de 20 anos de idade já havia matado sua mãe a tiros em casa.
"Se o assassinato brutal de crianças de seis a sete anos de idade numa escola não levar a um endurecimento das leis de controle de armas nos EUA, o que levará então?", perguntou-se repetidamente.
Em entrevista à emissora de TV NBC, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que não pertence nem à ala republicana nem à democrata e que, no passado, sempre defendeu um endurecimento da legislação sobre armas de fogo, exortou Barack Obama a tomar a iniciativa. "O presidente tem de dizer à nação o que deve ser feito, em vez de devolver a batata quente para o Congresso. Isso deve ser a prioridade de sua agenda", disse Bloomberg.
Através de leis mais rígidas e maior vigilância, o prefeito conseguiu diminuir drasticamente a taxa de homicídios em Nova York. Ele apontou para as consequências, afirmando que se nenhuma mudança ocorrer, 48 mil pessoas serão mortas por armas de fogo no decorrer do segundo mandato de Obama.
Medo infundado do lobby das armas?
Bloomberg enumera o que pode ser feito: Obama deve garantir que leis existentes sejam aplicadas com maior rigor – por exemplo, processando-se aqueles que faltem com a verdade ao requerer uma licença para uso e porte de armas. O presidente deveria também proibir por lei os fuzis de assalto e outras armas pseudomilitares. Além disso, deveriam ser proibidos pentes com mais de dez cartuchos, e ser obrigatória a verificação de antecedentes, também durante a venda de armas em feiras.
Segundo o prefeito de Nova York, o direito constitucional ao uso e porte de armas deve permanecer, mas, ao mesmo tempo, é necessária uma regulação. Bloomberg explicou ainda ser um mito o medo dos políticos frente ao poder do lobby nacional das armas, a Associação Nacional de Rifles (NRA). "O poder da NRA é altamente superestimado", disse Bloomberg, acrescendo que "todas as pesquisas mostram que a opinião pública quer dar um fim a essa carnificina, e se 20 crianças não forem suficientes, então eu não sei o que ainda está por vir".
Também à NBC, a senadora democrata Dianne Feinstein, da Califórnia, declarou que iria apresentar ao novo Congresso um projeto que proíba a venda de fuzis. Segundo Feinstein, o presidente Obama poderia se engajar para que tal lei seja aprovada. "Ela iria proibir a venda, a transferência, a importação e a posse de tais armas, não de forma retroativa, mas no futuro."
O mesmo vale para os pentes com mais de dez cartuchos. Há mais de um ano que se vem trabalhando na lei e em seus detalhes, implicando a proibição de mais de 900 armas. "A meta é banir as armas de guerra das ruas de nossas cidades", disse a senadora.
Comparável ao 11 de Setembro?
A impressão é que agora, após o massacre, tais projetos de lei encontram maior apoio. Também o senador independente Joe Lieberman defendeu, na emissora conservadora Fox News, a proibição de fuzis de assalto. Lieberman exigiu ainda a instauração de uma comissão de inquérito para investigar como catástrofes semelhantes à de Newtown podem ser evitadas.
O senador democrata Dick Durbin comparou a repercussão de Newtown com os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Na ocasião, a nação também se uniu e foi possível avançar com mudanças legislativas, declarou o senador.
Silêncio do lobby de armas
Mesmo que todos estejam de acordo que leis mais de rigorosas de uso e porte de armas de fogo não consigam, por si só, impedir todos os massacres, esse foi claramente o foco dos debates. A ausência dos defensores de armas de fogo nas discussões chamou a atenção.
O jornalista David Gregory, apresentador de Meet the Press na NBC, explicou que foram convidados todos os 31 senadores pró-porte de armas no novo Congresso, mas que nenhum aceitou o convite. Bob Schieffer, do programa da CBS Face the Nation, também informou que a NRA teria recusado seu convite. Assim, neste domingo, somente poucas vozes conservadoras foram ouvidas na televisão. Uma delas foi a do deputado texano Louie Gohmert, um dos que defendem que a solução do problema seria aumentar o número das armas de fogo.
Referindo-se à diretora Dawn Hochsprung, que também foi morta a tiros, Gohmert comentou à Fox News: "Por Deus, como eu desejaria que ela tivesse um fuzil M4 trancado no seu escritório! Assim, ao ouvir os disparos, ela não teria que investir heroicamente [contra o assassino], sem nada nas mãos. Ela teria é dado cabo dele, lhe estourado a cabeça, antes que ele matasse aquelas preciosas crianças".
Autora: Christina Bergmann (ca)
Revisão: Augusto Valente