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Violência

Daniel Scheschkewitz (sv)20 de novembro de 2007

Fantasma da violência paira sobre escolares alemães. Após descoberta de dois casos de massacres programados em escolas do país, especialistas alertam para necessidade de mais psicólogos nos estabelecimentos de ensino.

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Polícia fecha escola alemã em Kaarst: suspeita de chacina premeditadaFoto: AP

O nome do escritor e dramaturgo alemão Georg Büchner (1813–1837) vem sendo estampado nos últimos dias na Alemanha com freqüência. Não que as peças do autor de A Morte de Danton venham sendo encenadas com mais freqüência, mas duas escolas que levam seu nome foram palco de ameaças de violência em massa.

Deutschland Verbrechen Schule Köln Amoklauf Eingang
Escola Georg Büchner em Colônia: tragédia evitadaFoto: AP

Na última sexta-feira (16/11), a polícia detectou o plano de dois alunos da Escola Georg Büchner, de Colônia, de saírem atirando para matar colegas, professores ou quem estivesse ao redor. Após confessar os planos, um deles, de 17 anos, se suicidou.

Apenas alguns dias depois, nesta terça-feira (20/11), policiais fecharam outra escola de mesmo nome, desta vez em Kaarst, também no estado da Renânia do Norte-Vestfália, sob suspeita de que um adolescente planejava o mesmo no local.

O alerta veio de investigadores finlandeses, que descobriram, através de um chat na internet, as intenções do aluno. "Levamos essas suspeitas muito a sério", afirmou um porta-voz da polícia a uma emissora de televisão alemã, ao justificar que a suspeita tenha feito com que as autoridades suspendessem as aulas e fechassem as portas da escola.

Outros casos

Nos últimos dez anos, os massacres em escolas em todo o mundo deixaram um saldo de 269 alunos e 253 professores mortos. A maioria deles ocorreu nos EUA, mas a Europa tem se tornado cada vez mais cenário de tais chacinas.

Finnland Flagge auf Halbmast Trauer nach Amoklauf
Escola na Finlândia após massacreFoto: AP

O último caso foi o de uma escola em Tuusula, na Finlândia, que terminou com a morte do próprio mentor do massacre, de 18 anos, de seis de seus colegas, da diretora e de uma enfermeira da escola. Há de se lembrar que a Finlândia ocupa no ranking da pedagogia escolar européia um dos primeiros lugares.

Na Alemanha, há exatamente um ano, um jovem de 18 anos de Emsdetten feriu 11 crianças e se matou depois. Em abril de 2002, na cidade de Erfurt, 28 pessoas morreram em conseqüência de um massacre provocado por um escolar.

Porte de armas

O controle do porte de armas de fogo é rígido no país e até mesmo as chamadas facas borboleta tiveram seu uso recentemente proibido. Em quase todas as escolas do país, foram definidos "planos de prevenção de situações de crise", com a previsão de alarme imediato da polícia em casos de emergência.

"O plano de segurança serve para garantir a comunicação. As escolas precisam saber a quem recorrer num caso desses e devem ter uma equipe apta a reagir nessas situações. No plano, estão listados os números importantes de telefone e está definido quem faz o quê numa emergência", explica Hans-Jörg Blessing, porta-voz do Ministério da Cultura de Baden-Württemberg.

Exercício de poder

Deutschland Verbrechen Schule Köln Amoklauf Waffe
Porte de armas: controle rígido não impede tragédiasFoto: AP

Em vários estados alemães, estão sendo oferecidos cursos para professores, a fim de orientá-los a reconhecer com mais agilidade alunos com comportamento suspeito. "Quem planeja um massacre como esses, quer exercer poder. E quem ainda anuncia uma coisa dessas, quer ter certeza de que está provocando medo. Por outro lado, um anúncio pode também ser interpretado como alerta para outros se protegerem", analisa Dieter Glatzer, psicólogo escolar de Stuttgart.

Segundo Josef Kraus, da Confederação dos Professores Alemães, uma das tarefas dos psicólogos que atuam nas escolas é exatamente essa: reconhecer os escolares que poderiam estar aptos a cometer tais crimes. No entanto, o número de psicólogos atuantes nos estabelecimentos de ensino do país é muito pequeno, aponta Kraus.

Poucos psicólogos e assistentes sociais

"Temos, em média, um psicólogo por dez mil alunos, enquanto seria necessário, pelo menos, um para cada cinco mil. Precisamos, de fato, de mais profissionalismo para lidar com o assunto. Os professores estão sobrecarregados. Principalmente em escolas que têm que lidar com mais freqüência com o problema da violência, precisamos de mais psicólogos e assistentes sociais", reivindica Kraus.

Amoklauf in Erfurter Schule - Kerzen und Blumen
Velas e flores em lembrança à chacina de ErfurtFoto: AP

"Outro problema grave é a assistência aos sobreviventes e familiares de vítimas dos massacres – todos, via de regra, traumatizados com o ocorrido. As pessoas que têm que elaborar um vivência dessas não conhecem mais a normalidade. Isso significa que, um dia, elas vão voltar fortalecidas para aquilo que os que não passaram por isso chamam de normalidade do dia-a-dia, mas o ocorrido está tão ancorado em suas vidas, que elas vivem uma outra espécie de normalidade", descreve Christine Alt, diretora da Escola Gutenberg, em Erfurt, cenário da pior chacina ocorrida numa escola alemã.

Soma de fatores

Consenso entre os especialistas é o fato de que os massacres não são uma peculiaridade das escolas, mas sim um fenômeno social. Em 90% dos casos, os jovens escolares criminosos foram movidos por razões que não estão diretamente ligadas aos estabelecimentos de ensino.

Muito deles tinham problemas em casa, cresceram num ambiente familiar tenso ou tiveram por muito tempo contato com videogames e jogos de computador violentos. Na maioria dos casos, houve uma soma de vários desses fatores. "Seria esperar demais da escola pensar que ela poderia corrigir tais influências", resume Kraus como representante dos professores do país.