Mercado financeiro
13 de setembro de 2008Durante um encontro informal em Nice, no sul da França, os ministros das Finanças da União Européia reafirmaram neste sábado (13/09) a necessidade de que sejam tomadas "medidas a fim de restabelecer a confiança, através da transparência e da responsabilidade dos atores do mercado financeiro".
O comissário do bloco para o mercado interno, Charlie McCreevy, foi convocado a estabelecer, em outubro próximo, um conjunto de propostas visando aumentar a transparência das ações dos operadores financeiros. Embora o pacote de medidas ainda não esteja definido, serão estabelecidos pré-requisitos a serem respeitados pelas agências de rating que quiserem operar dentro da UE.
O ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrück, afirmou durante o encontro em Nice que a Alemanha apóia o plano do governo francês – atualmente na presidência rotativa da UE – de aumentar a cooperação entre as agências nacionais que supervisionam os bancos e as seguradoras. Sua colega francesa de pasta, Christine Lagarde, afirmou que embora 80% dos bancos respeitam os critérios europeus, "temos que chegar aos 100%".
Caso Lehman Brothers ecoa nos mercados internacionais
Do encontro na cidade francesa participou também o presidente do Banco Central Italiano, Mario Draghi, que por sua vez também preside o Fórum de Estabilidade Financeira, que agrega bancos centrais reguladores das economias mais fortes do mundo. Na última sexta-feira (12/09), Draghi teria dito que os bancos internacionais precisariam de no mínimo 246 bilhões de euros para compensar a grave crise que assola o setor. O valor supera o que havia sido previsto anteriormente.
A tensão nos mercados financeiros foi agravada pelo situação do banco norte-americano Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimento dos EUA, que passa por uma violenta crise, acentuada na última semana.
Tanto o ministro alemão Steinbrück quanto o presidente do banco central alemão, Axel Weber, acreditam que é preciso analisar com cautela a hipótese de que a situação no Lehman Brothers poderá ser contornada na manhã de segunda-feira (15/09), com a abertura das bolsas asiáticas.
"Esperamos que isso aconteça, mas não me pergunte como essa operação de salvação vai se dar", afirmou Steinbrück em Nice. "É uma fogueira de tensões. Se o Lehman Brothers for realmente salvo, então os efeitos negativos na Alemanha serão poucos", observou Weber.
Imposto sobre valor agregado: questão controversa
Na reunião em Nice, os ministros da UE não conseguiram chegar a um acordo a respeito da proposta de redução do imposto sobre valor agregado em determinados setores dentro dos países do bloco. O argumento usado pelos opositores da idéia é o de que não se sabe ao certo se a redução proposta irá realmente contribuir para gerar mais empregos.
O ministro alemão Steinbrück estima que tal redução do imposto acarretaria aos cofres públicos alemães prejuízos de mais de 12 bilhões de euros. Para um país pequeno como a Dinamarca, por exemplo, as perdas ficariam em torno de um bilhão de euros.
O comissário europeu Laszlo Kovacs, autor da última proposta de redução do imposto sobre valor agregado em julho último, não perdeu ainda as esperanças de aprovar as medidas que diminuam o imposto para determinados setores.
"É evidente que há duas escolas de pensamento. E também é verdade que houve um debate infindo, que acabou num beco sem saída". O debate deste sábado, acredita Kovacs, representou, porém, uma luz no fim do túnel. Além de que, cita o comissário, a história recente da União Européia mostra que acordos são, apesar de tudo, possíveis.