Meio ambiente fica em segundo plano na corrida à Casa Branca
24 de setembro de 2012Economia e política social são os temas que dominam o debate da campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos. As questões ambientais não têm recebido muita atenção, nem dos eleitores, nem dos candidatos. Segundo uma sondagem feita em janeiro pelo centro de pesquisas Pew Research Council, de Washington, 43% dos eleitores acham que as questões ambientais têm alta prioridade para o presidente e para o Congresso, em comparação com 57% em janeiro de 2007. Hoje, os temas de alta prioridade são economia, desemprego e déficit orçamentário.
"A economia dos EUA está no centro da campanha eleitoral para ambos os candidatos", constata Daniel Kammen, em entrevista à Deutsche Welle. Isso é comum em tempos difíceis, diz o cientista político do Energy and Resources Group da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Ele lembra que quando o presidente Obama e seu adversário, Mitt Romney, mencionam o meio ambiente, o fazem somente ao falar sobre geração de empregos e independência energética dos Estados Unidos.
O candidato republicano promete criar 12 milhões de novos empregos. Romney afirmou em agosto que até 2020 o país será independente da importação de energia, através da exploração de carvão, petróleo e gás, além de fontes renováveis.
As promessas podem seduzir um ou outro eleitor desiludido por anos de desemprego relativamente alto, na opinião de Kammen. "Mas tais anúncios não podem ser considerados políticas ambientais de longo prazo. Romney tem mostrado pouco ou nenhum interesse em adotar a energia limpa como uma de suas bandeiras", ressalta o especialista. "Seu programa foca em ampliar a extração de gás natural. De resto, continua tudo como está."
Fratura hidráulica
Tanto os republicanos como os democratas preferem uma estratégia que envolva diferentes fontes energéticas. Obama também defende a maior promoção do gás natural como alternativa ao petróleo e ao carvão. Segundo o Ministério da Energia dos EUA, o país tem cerca de 24 trilhões de metros cúbicos em reservas de gás de xisto.
Mas o gás só pode ser extraído por fratura hidráulica, método controverso para obtenção de gás natural, pelo qual uma mistura de água, produtos químicos e areia é injetada na rocha, quebrando-a e liberando o gás dentro dela. Ambientalistas criticam o método, por consumir grandes quantidades de água. Além disso, eles temem que a mistura possa contaminar o lençol freático e até mesmo causar terremotos.
Acesso a reservas
Entretanto, a fratura hidráulica é um negócio em expansão em estados importantes para a campanha eleitoral, como Ohio e Pensilvânia. Obama é popular entre os sindicalistas dessas regiões justamente por apoiar esse método. "Sou um grande fã do gás natural como oportunidade para gerar empregos e reduzir nossa dependência de fontes estrangeiras de energia", disse Obama em Ohio no início de setembro, acrescentando que o importante é que a exploração seja executada com segurança.
Romney também é um adepto do método. O adversário de Obama, entretanto, gosta de ressaltar a reputação do presidente como defensor do controle estatal sobre a atividade, como prova da ambivalência do democrata em relação à tecnologia de extração de gás natural.
Os projetos ambientalistas de Romney preveem a liberação de áreas marinhas na costa da Carolina do Norte, Carolina do Sul e Virgínia para a exploração de petróleo. Além disso, quer que os estados detenham o controle sobre a produção de energia em seus territórios. "Romney não pretende renovar os créditos fiscais para a produção de energia eólica, o que poderá custar 40 mil empregos", adverte Courtney Hight, vice-diretora na organização ambientalista Sierra Club. "E poderá reduzir também as chances de os Estados Unidos se tornarem um líder no setor de energia limpa."
A política econômica de Romney se reduz a "perfurar mais, poluir mais e desregulamentar mais", acusou Hight em entrevista à Deutsche Welle.
Sucesso reduzido
"A política ambiental de Obama não foi muito bem-sucedida", avalia Daniel Kammen. "O presidente conseguiu, entre outras coisas, elevar os padrões de eficiência para veículos novos, mas isso deveria ser parte de um pacote ambiental abrangente", critica o cientista político de Berkeley.
Como "a maior derrota ambiental", ele vê o fracasso do projeto de lei de 2009 "American Clean Energy and Security Act", que previa a introdução de um sistema de comércio de emissões para reduzir os gases de efeito estufa. Embora a lei tenha sido aprovada na Câmara dos Deputados, não houve decisão no Senado.
"Ela era muito ampla, muito complicada, muito volumosa e tinha muitos efeitos não planejados", lembra Jim DiPeso, diretor da ConservAmerica, acrescentando que o papel não era sequer apoiado pelas organizações ambientais. "Tal lei deveria ser mais simples, menos burocrática, ele deveria usar os poderes da economia de mercado", disse à Deutsche Welle o especialista em meio ambiente. "O país também necessita de soluções conservadoras como alternativa para as políticas existentes", acredita DiPeso. "O povo americano não pode ficar restrito a apenas um único conjunto de soluções."
Autora: Holly Fox (md)
Revisão: Francis França