Melhores condições para a produção do café
11 de setembro de 2004Um novo código de comportamento para o mercado mundial de café foi apresentado nesta sexta-feira (10/09), em Hamburgo. A iniciativa alemã conta com o apoio de diversas organizações não-governamentais, do Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, de produtores internacionais e da indústria alemã do café.
Empresas de torrefação e distribuição como Tchibo, Kraft e Nestlé participam do projeto, que entrará em sua fase de testes em cafezais da África, Ásia e América Latina. O código prevê normas que visam a garantir um padrão social, ecológico e econômico para a produção e comercialização sustentáveis do café em todo o mundo.
O objetivo é melhorar as condições de vida dos produtores, assegurando um salário mínimo para os trabalhadores sazonais, contratos de trabalho e carga horária fixa. O direito à escola e o acesso ao sistema de saúde, extensivo à família, também devem ser garantidos.
Com relação ao plantio, a meta é priorizar a preservação ambiental. O código estipula que os produtores de café utilizem produtos agrícolas, como pesticidas e adubos, que não agridam o meio ambiente. Relaciona ainda medidas para evitar o desperdício de água e oferece dicas para a criação de redes de esgoto com base nas diretrizes ecológicas.
Crise profunda
"O setor cafeeiro atravessa uma crise profunda", afirmou Uschi Eid, deputada do Partido Verde e secretária do Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, lembrando que o preço do café atingiu a maior baixa dos últimos 30 anos.
Com a cotação abaixo do seu custo de produção, os produtores não conseguem cuidar dos cafezais de forma adequada, ou seja, respeitando padrões ecológicos e leis trabalhistas.
Outro aspecto é a queda do padrão de vida. Cerca de 25 milhões de agricultores estão ameaçados de cair na pobreza. Um cultivo intenso e não-sustentável poderia acabar com diversas plantações de café em países tradicionais gerando um impacto negativo na demanda mundial do produto.
Com o nome de Common Code for the Coffee Community, CCCC, a iniciativa será financiada em conjunto pelo governo alemão e a indústria do café. Eid justificou o apoio: "O código pode contribuir a longo prazo para melhorar as condições de vida dos produtores. A vantagem é que ele foi criado para o mercado mundial e elaborado por produtores, ONGs e empresários".
Brasil marca presença
O brasileiro Manoel Bertone, diretor executivo do Conselho Nacional do Café, que participa do projeto, esteve presente no lançamento do CCCC. "O objetivo é melhorar nossa qualidade de vida e a de nossos trabalhadores, proteger o meio ambiente bem como assegurar um relacionamento estável e equilibrado com nossos parceiros comerciais".
Bertone salientou ainda que o código pode ajudar no incremento da produção mundial do café, destacando, porém, que "o sucesso deste código depende da cooperação de todos os setores".
Alemães e o café
O interesse alemão em melhorar os padrões sociais dos produtores de café e contribuir para uma estabilização do mercado cafeeiro é também conseqüência do elevado consumo da bebida no país. Em 2002, o consumo per capita foi de 160 litros.
"Nossos consumidores querem ter certeza de que o café não é apenas saboroso, mas que também foi produzido em condições adequadas. Por isso é importante para nós participar desta iniciativa", resumiu Annemieke Wijn, da Associação Alemã do Café.