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Membros da OMS lançam investigação sobre resposta à covid-19

19 de maio de 2020

Moção aprovada em assembleia da organização foi patrocinada pela União Europeia, que pediu investigação independente sobre reação internacional à pandemia. Ao mesmo tempo, bloco reiterou apoio à OMS após ameaças dos EUA.

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Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra
Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra Foto: picture-alliance/Photoshot/WHO

A Assembleia Mundial da Saúde, órgão decisório da Organização Mundial da Saúde (OMS), aprovou nesta terça-feira (19/05) uma resolução para iniciar uma investigação da resposta global à pandemia de coronavírus, inclusive sobre o papel do organismo ligado à ONU. A resolução não enfrentou objeções dos 194 Estados-membros da assembleia.

A resolução, aprovada durante a conferência anual da OMS, foi patrocinada pela União Europeia. Em uma declaração em nome do bloco, a UE solicitou uma "avaliação independente e abrangente" da resposta internacional à pandemia.

Por outro lado, a UE manifestou apoio à OMS na terça-feira depois que o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a ameaçar cortar o financiamento do seu país ao organismo, desta vez permanentemente.

"Este é o momento da solidariedade, não é o momento de apontar o dedo ou minar a cooperação multilateral", disse a jornalistas Virginie Batti-Henriksson, porta-voz das Relações Exteriores da União Europeia.

A resolução não estabeleceu imediatamente um prazo para a investigação, mas o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse à assembleia na segunda-feira que considera bem-vinda uma avaliação independente num "momento oportuno".

Ghebreyesus também afirmou que a pandemia "ameaça rasgar o tecido da cooperação internacional", mas que a OMS continuará liderando a luta global contra o coronavírus.

Falando na cúpula da assembleia na terça-feira, o chefe da OMS ainda agradeceu "os muitos Estados-membros que expressaram seu apoio e solidariedade" à organização.

Ghebreyesus não mencionou diretamente o novo ultimato dado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que ameaçou suspender permanente o financiamento se a organização não passar por reformas nos próximos 30 dias.

"Queremos prestar contas mais do que ninguém", disse Ghebreyesus.

O ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, afirmou que o objetivo da investigação sobre a resposta internacional à pandemia deve ser identificar melhorias, e não procurar culpados.

"Juntos, enfatizamos o papel central da Organização Mundial da Saúde na gestão internacional da saúde", disse Maas em comunicado. "É importante fortalecer a OMS, apoiá-la e prepará-la de forma ainda melhor para o futuro. A resolução destaca que, na situação atual, a gestão aguda de crises é a prioridade. Em uma etapa subsequente, a OMS está planejando uma avaliação independente da resposta global à covid-19."

Trump culpa a OMS e a China

Trump, que já havia suspendido temporariamente o financiamento americano à OMS, publicou uma carta na segunda-feira em que classificou a organização de "fantoche da China" e exigiu "grandes melhorias substanciais nos próximos 30 dias".

A OMS prometeu elaborar uma resposta direta à carta de Trump ainda na terça-feira. A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, estava entre os líderes europeus que manifestaram seu apoio à OMS na assembleia antes da publicação dos comentários de Trump. Segundo Merkel, "a OMS é a instituição global legítima que consegue aproximar todos".

A investigação não analisará especificamente a OMS, mas a resposta global de todos os governos e organismos internacionais.

Antes do congelamento do financiamento dos EUA, os americanos respondiam pela maior fatia individual de recursos enviados à OMS. Se os EUA acabarem por adotar um congelamento permanente, é provável que a China venha a preencher parte da lacuna.

EUA criticam redação sobre aborto e patentes

Os EUA também rejeitaram o tom da resolução da Organização Mundial da Saúde sobre a pandemia, embora não tenham bloqueado a adoção do documento na cúpula.

Especificamente, Washington disse "se dissociar" de trechos que garantem cuidados de saúde sexual e reprodutiva durante a pandemia, que foi interpretado pelos americanos como um apoio ao aborto. Os americanos ainda rejeitaram outro segmento apontando que países mais pobres podem desafiar as regras de propriedade intelectual, se necessário, a fim de obter medicamentos em meio à emergência.

"Os Estados Unidos acreditam em proteções legais para o nascituro e rejeitam qualquer interpretação que exija que qualquer Estado facilite o acesso ao aborto", apontaram diplomatas dos EUA.

Eles também disseram que as seções sobre renúncia aos direitos intelectuais enviam "a mensagem errada aos inovadores, que serão essenciais para a solução que o mundo inteiro necessita".

O trecho criticado pelos EUA estabelece que flexibilidades devem ser aplicadas para garantir que as patentes de uma eventual vacina não se transformem em obstáculo para que todos tenham acesso ao produto. A oposição americana nesse aspecto contrariou seu aliado governo brasileiro, que havia negociado a inclusão do trecho em parceria com os europeus.

Rússia acusa Trump

Uma alta autoridade russa também expressou apoio à OMS e à China na noite de segunda-feira, criticando a ameaça de Trump.

"A Rússia é contra qualquer investigação fabricada e acusações sem fundamento. Somos categoricamente contra", disse Valentina Matviyenko, presidente da câmara alta do Parlamento russo, à agência de notícias russa Interfax.

O ex-primeiro ministro australiano Kevin Rudd disse à DW que a ameaça de Trump de retirar fundos da OMS é "irresponsável" e reflete a natureza "caótica" do seu governo.

"Trump é muito ágil em criticar os outros, enquanto a maioria de nós concorda que suas políticas domésticas são caóticas", disse Rudd, presidente do Instituto de Política Asia Society.

No entanto, Rudd reconheceu que tanto a OMS quanto a China "têm perguntas legítimas para responder" e disse que a China "não está livre de responsabilidade".

JPS/afp/ap/rt/ots

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