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Memórias de quem sofreu na pele

lk14 de novembro de 2002

Hans Jürgen Massaquoi, filho de uma alemã e um liberiano, relata em livro suas experiências de criança e jovem na Alemanha nazista.

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Neger, Neger, Schornsteinfeger! (Negro, negro, limpador de chaminés!). Esta rima aparentemente inofensiva, conhecida por todas as crianças na Alemanha, é o título da tradução alemã das memórias de Hans Jürgen Massaquoi, que se chamam no original Destined to Witness: Growing Up Black in Nazi Germany (Destinado a testemunha: crescendo negro na Alemanha nazista).

Trata-se da descrição plástica, detalhada, fascinante e convincente das vivências de um garoto que, apesar do nome alemão, tinha um defeito grave na Alemanha nazista: sua pele era escura.

Hans Jürgen nasceu em Hamburgo em 1926, filho de uma enfermeira alemã e neto do cônsul da Libéria na Alemanha. Nos primeiros anos de sua vida, cresceu protegido, na mansão do avô. Quando sua família liberiana retornou à pátria, pouco antes da subida dos nazistas ao poder, o garoto foi morar com a mãe num bairro operário.

No pátio da escola, aos seis anos, foi confrontado pela primeira vez com o fato de ser "diferente": quando as crianças começaram a gritar em coro Neger, Neger, Schornsteinfeger! toda vez que o viam. Custou para que elas se acostumassem com sua aparência e o deixassem em paz. Mas Hans Jürgen nunca chegou a "fazer parte" do grupo, de grupo nenhum naquela época.

"O Führer vai dar um jeito para que a Alemanha nunca mais dê abrigo a essa gentinha traidora e não-ariana como os judeus, os negros e outros excluídos", discursava o diretor da escola perante todos os alunos, olhando firme para o garoto de pele escura.

Maldição e bênção

– Foi por causa da cor da pele que Hans Jürgen não pôde entrar para a Juventude Hitlerista, o que queria fazer em seu primeiro entusiasmo pelo regime. Mas tampouco pôde prestar serviço militar, deixando assim de ser convocado para a guerra, da qual muitos dos seus ex-colegas não regressaram. Os bombardeios, o frio, a fome, porém, também fizeram parte de suas vivências até 1948, o último ano que ele aborda em suas memórias.

Massaquoi foi viver nos Estados Unidos, onde fez carreira como jornalista. Ele se sente alemão, mas a cor da pele continua sendo seu estigma, uma vida inteira, mesmo décadas após o fim do regime nazista.