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Mercedes Benz sob suspeita de ajudar torturadores

(ef)10 de agosto de 2002

A Justiça da Alemanha está investigando, há dois anos, suspeitas de participação da Mercedes Benz nas mortes e desaparecimentos de 30 mil pessoas, durante a ditadura militar na Argentina, de 1976 a 1983.

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Mães da Praça de Maio, grupo que reúne familiares de vítimas da ditadura argentinaFoto: AP

O desaparecimento de 14 membros do conselho de fábrica da Mercedes Benz, supostamente porque eram incômodos para a empresa alemã, é apenas um dos muitos casos que a Justiça alemã está investigando, sob suspeita de cumplicidade de alemães em assassinatos e homicídios não premeditados, durante a guerra suja na Argentina.

No total, são 39 casos em que as vítimas eram alemãs ou descendentes de alemães, revelou o promotor-chefe Walther Grandpair, em entrevista a Deutsche Welle. Do conselho de fábrica da Mercedes Benz desapareceram oito descendentes de alemães.

Queda de produção

A Justiça alemã está investigando o chefe de produção da Mercedes naquela época, Juan Tasselkraut, por suspeita de cumplicidade em assassinato. A legislação da Alemanha permite isso porque Tasselkraut é alemão. As autoridades argentinas não responderam até hoje a carta precatória que o Ministério Público alemão enviou em 2000 e recusam todo tipo de cooperação nas investigações.

Tasselkraut, de 61 anos, negou, no Tribunal de La Plata, que tenha fornecido endereços de sindicalistas aos militares durante a repressão implacável na Argentina. O ex-diretor de produção disse, ao mesmo tempo, que a produtividade de sua empresa caiu 40% por causa dos membros do conselho de fábrica.

Aparelhos para partos

A cooperação com a repressão não ficou só na entrega de endereços. A Mercedes Benz doava anualmente US$ 2 milhões a centros de tortura dos militares, segundo disse o jurista Pablo Cueva, que, por incumbência da empresa, entregara à polícia política nomes e endereços de membros do conselho de fábrica à polícia política.

Além disso, a firma alemã forneceu aparelhos médicos para a realização de partos, antecipadamente, nas casernas. Durante a ditadura militar, eram mantidas lá presas políticas grávidas e o nascimento de seus bebês era antecipado artificialmente. Elas eram torturadas e assassinadas após o parto e os seus bebês entregues a militares.

Apesar das revelações, é muito difícil esclarecer os crimes. O Ministério Público alemão não pode agir contra a firma Mercedes Benz apenas com base em declarações de pessoas, esclareceu o porta-voz da Promotoria Pública de Nuremberg, Bernhard Wankel, a Deutsche Welle. Por isso, não foi exigida, oficialmente, uma posição da matriz DamlerChrysler.