Merkel na Ásia
26 de agosto de 2007Angela Merkel visita a China e o Japão durante uma semana, em sua mais longa viagem como chefe de governo da Alemanha. Seu principal objetivo, além de intensificar a cooperação econômica com ambos os países, é conquistar apoio para suas metas de proteção ao clima.
Enquanto as poucas dificuldades da visita ao Japão são de ordem protocolar, as conversações de Merkel na China dificilmente passarão ao largo de questões delicadas, como o respeito aos direitos humanos e à propriedade intelectual.
Merkel declarou que "as relações [alemãs] com a China são tão próximas, que naturalmente se podem abordar questões possivelmente controversas". Desde a retomada das relações diplomáticas, há 35 anos, "os laços se intensificaram e se estreitaram", ressaltou a premiê.
Pontos delicados em que Merkel pretende insistir
Mas isso não necessariamente significa ausência de atrito. A proteção ao clima é algo por que a China não se sente responsável, conforme mostrou Pequim na cúpula do G8 em Heiligendamm, na Alemanha. Na visão dos chineses, apenas os velhos países industrializados devem arcar com as conseqüências de décadas de emissões de dióxido de carbono, a principal causa do efeito-estufa. Por ainda se encontrar em um processo de recuperação econômica, a China não vê por que se comprometer com metas internacionais de proteção ao clima.
Um ano antes do início dos Jogos Olímpicos de Pequim, a Anistia Internacional alertou para a catastrófica situação dos direitos humanos na China. Quanto mais se aproximam as Olimpíadas, maior o perigo de as autoridades chinesas intervirem no trabalho dos jornalistas. Este é um dos pontos em que Merkel pretende insistir, mesmo que com toda cautela. O planejado encontro da premiê alemã com jornalistas já tem um caráter simbólico.
Outros temas sobre os quais Pequim não gosta de falar, por considerar as cobranças ocidentais uma violação da soberania do país, também constam da pauta dos encontros de Merkel com as lideranças políticas chinesas. Isso inclui o trabalho escravo, a proteção do direito de propriedade intelectual, a exportação de produtos prejudiciais à saúde e o papel da China na África.
Programas chineses de espionagem nos computadores do governo alemão
Pouco antes do início da viagem de Merkel, a revista Der Spiegel noticiou que inúmeros computadores do governo alemão foram infiltrados por programas de espionagem provenientes da China. O ataque hacker atingiu a Chancelaria Federal e os Ministérios da Economia, da Pesquisa e do Exterior. De acordo com o Ministério do Interior, todas as tentativas de espionagem através de "cavalos de Tróia" fracassaram até agora.
O governo chinês refutou as acusações divulgadas pela imprensa alemã, justificando que "proíbe atividades criminais que possam prejudicar o desempenho de redes de computador". A Embaixada da China em Berlim qualificou o relato da Spiegel como "especulação irresponsável sem qualquer base de provas".
Liberais contra ajuda econômica à China
Por ocasião da viagem de Merkel, a oposição liberal alemã levantou a questão da ajuda ao desenvolvimento destinada à China. Entre as bancadas parlamentares em Berlim, a continuidade da concessão de ajuda econômica ao país asiático vem recebendo cada vez mais críticas.
O auxílio de 60 milhões de euros concedido à China é considerado desmedido por políticos de diversos partidos. No entanto, até agora apenas o Partido Liberal explicitou a exigência de que o governo alemão suspenda a ajuda. O principal argumento é o fato de a China dispor de 1,3 bilhão de dólares em reservas de divisas. (sm)