Missão controvertida
22 de abril de 2010Em declaração governamental diante do Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, nesta quinta-feira (22/04), a premiê alemã, Angela Merkel, reiterou considerar imprescindível o mandato da Bundeswehr no Afeganistão. A missão é extremamente impopular na Alemanha.
"As consequências de uma retirada agora seriam mais devastadoras do que os atentados de 11 de setembro de 2001", assegurou Merkel. "O Afeganistão afundaria no caos e na anarquia."
Apesar da morte de sete soldados das Forças Armadas alemãs em apenas duas semanas, Merkel defendeu a continuação da missão no país asiático: o mandato seria indispensável para a defesa da população alemã e dos países aliados.
"Por esse motivo, quem exigir agora a retirada imediata da Alemanha do Afeganistão, talvez até mesmo independentemente de seus parceiros aliados, age de forma irresponsável", disse Merkel.
Minuto de silêncio
A chanceler federal pediu mais apoio para os soldados alemães no Afeganistão, porque a "Bundeswehr só poderá cumprir sua tarefa se tiver confiança no respaldo da população", disse em sua quinta declaração de governo.
A premiê alemã anunciou ainda que irá participar, no próximo sábado na cidade de Ingolstadt, das cerimônias fúnebres em memória de quatro soldados alemães mortos em lutas com rebeldes no Afeganistão.
Com um minuto de silêncio, o Bundestag homenageou os 43 soldados alemães que até agora morreram naquele país asiático. O presidente do Bundestag, Norbert Lammert, correligionário de Merkel, disse que, em tempos de terrorismo internacional, a segurança e a liberdade devem ser defendidas justamente onde os terroristas têm seus refúgios e centrais de comando.
Declaração de governo
Na Alemanha, uma declaração de governo tem a função de informar o Parlamento sobre a política governamental em determinadas áreas. Em seguida, as diversas bancadas de oposição tomam a palavra.
Sigmar Gabriel, presidente do Partido Social Democrata (SPD), explicou que na Alemanha, como também nos EUA e outros países, o ceticismo se espalha. As pessoas querem saber por que os soldados arriscam suas vidas. Gabriel reivindicou que a missão alemã no Afeganistão, que já dura oito anos, seja avaliada por especialistas.
O presidente da bancada do partido A Esquerda, Gregor Gysi, reiterou a exigência de retirada imediata das tropas alemãs. "Não se pode combater o terrorismo através da guerra, pois se acaba gerando mais terrorismo", disse. Segundo o político esquerdista, o governo alemão saberia exatamente que não há justificativa convincente para a missão. "Por esse motivo, inventam uma nova a cada dia."
Jürgen Trittin, líder da bancada verde no Bundestag, também exigiu uma avaliação da missão. Dirigindo-se ao governo alemão, Trittin declarou que "com retórica de guerra, não se consegue êxito em uma missão de estabilização".
Nova estratégia
Há quase quatro anos os alemães assumiram o comando da tropa internacional de estabilização (Isaf) no norte do Afeganistão. Mesmo com o envio, em breve, de milhares de soldados norte-americanos para reforçar a segurança do norte afegão, os alemães deverão continuar no comando da região.
A estratégia, todavia, deverá mudar. Os alemães deverão deixar seus acampamentos por mais tempo e mais frequentemente, para retomar, juntamente com forças de segurança afegãs, áreas de refúgio de talibãs.
Nesta quarta-feira, o general norte-americano Stanley McChrystal, comandante da Isaf, esteve em Berlim, onde se encontrou com o ministro alemão da Defesa, Karl-Theodor zu Guttenberg.
Em entrevista à TV pública alemã ARD, McChrystal afirmou que a nova estratégia para o Afeganistão seria a única e última possibilidade de fazer com que a missão da Isaf tenha êxito.
Quanto à pergunta se a Alemanha deveria se preparar para mais mortes devido à nova estratégia, McChrystal disse que "sair e interagir com a população implica sempre certo risco". No entanto, tratar-se-ia apenas de um risco temporário. No final, disse o general, a nova estratégia trará mais segurança também para os soldados alemães.
CA/apn/dpa
Revisão: Augusto Valente