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Merkel e Cameron

18 de novembro de 2011

Posição do Reino Unido quanto à crise de endividamento na zona do euro tem sido criticada como ambivalente. Já britânicos temem dominância alemã. Encontro entre líderes dos dois países foi chance de aparar arestas.

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Merkel (esq.) e Cameron em Berlim
Merkel e Cameron em BerlimFoto: dapd

Apesar das diferenças que os separam, a Alemanha e o Reino Unido desejam trabalhar juntos numa solução para a crise de endividamento na zona do euro. Esta foi uma das mensagens centrais do encontro entre os chefes de governo dos dois países, Angela Merkel e David Cameron, nesta sexta-feira (18/11), em Berlim.

A chanceler federal alemã voltou a pleitear alterações definidas nos acordos da União Europeia (UE), permitindo uma vigilância mais estrita das regras de estabilidade da moeda comum. Merkel insistiu também quanto a um imposto sobre transações financeiras na Europa. Nisso ela esbarrou na discordância de Cameron, o qual só considera tal medida possível se for introduzida em nível global.

O premiê britânico acentuou que seu país deseja operar de forma ativa e positiva na Europa "porque somos uma nação comercial engajada". E lembrou que, embora o Reino Unido não tenha adotado a moeda comum, a estabilidade da zona do euro também lhe diz respeito. Merkel acrescentou que a coesão dos 27 países da União Europeia é importante diante da globalização.

Os britânicos e o euro

A crise de endividamento já provocou duas mudanças de governo na Europa: na Itália e na Grécia. É possível interpretar esses fatos como um sinal de disposição para reformas e de fidelidade ao euro nos dois países.

No Reino Unido, que não pertence à zona do euro, a crise antes reforçou a distância em relação à moeda comum, bem como aos esforços de integração no sentido de uma "governança econômica europeia". A visita de Cameron à Alemanha talvez venha a relativizar a opinião de políticos do Eurogrupo, que consideram a atual atitude dos britânicos pouco construtiva.

Consta que, na última cúpula da UE, o premiê britânico criticou seus colegas da zona do euro por empenho insuficiente na gestão de crise, e fez isso de forma tão severa que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, perdeu a linha e replicou: "O senhor perdeu uma boa oportunidade de ficar calado!". A cena aconteceu em Bruxelas, a portas fechadas.

Diante das câmeras, Cameron tem falado de responsabilidade comum e de solidariedade. Porém, à pergunta se ele estaria frustrado por seu país não participar ativamente da gestão da crise, respondeu: "Não, não estou frustrado, pois não faço parte do euro e não quero que o Reino Unido adote o euro, e acho que isso é o melhor para a economia britânica".

Restrições à Alemanha

No momento, a posição dos britânicos em Bruxelas é dividida. Por um lado, incitam os países do euro a medidas abrangentes contra a crise de endividamento. Mas, quando se trata de ceder certas competências à Europa – por exemplo, a vigilância orçamentária –, não querem nem saber de conversa.

Esta semana, Cameron chegou a antecipar que aproveitaria a crise para retomar da UE certas áreas de competência. E seu ministro das Finanças, George Osborne, deixou claro que está na hora de os países do euro tratarem de seus próprios problemas.

"A zona do euro tem que mostrar ao mundo que acredita em sua moeda. Não podemos ficar esperando o que vai acontecer em Atenas ou em Roma. Deve haver progressos também em Bruxelas. Pois, se não houver, isso terá consequências graves para toda a economia europeia, e assim também para a britânica", declarou Osborne.

E aí está ela novamente: a economia britânica. O governo em Londres preocupa-se com ela, e recebe os planos da Alemanha de um imposto sobre os negócios do mercado financeiro como um atentado contra o coração da economia britânica. Para ser mais exato: contra o poderoso centro financeiro que é Londres, e que cabe aos britânicos defender.

Aos olhos do líder dos eurocéticos ingleses, Nigel Farage, a dominância alemã na atual crise já vai mesmo longe demais. "Vivemos numa Europa dominada pela Alemanha. O projeto europeu foi criado para evitar exatamente isso."

São palavras bombásticas, não há dúvida. Mas nem por isso deixam de ser um indicador de quão grande é o abismo entre as noções que a Alemanha e o Reino Unido têm do futuro da Europa em tempos de crise.

Autor: Leon Stebe (av)
Revisão: Alexandre Schossler