França-Alemanha
12 de junho de 2010Embora a chanceler federal Angela Merkel tenha respondido ao diário Frankfurter Allgemeine Zeitung que as relações entre Alemanha e França vão bem, obrigada, fato é que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, teve sua visita a Berlim cancelada pouco antes de sua prevista chegada à cidade.
E o mais interessante: Paris e Berlim justificaram o cancelamento alegando razões diferentes. Enquanto o jornal Le Figaro escreve que Sarkozy teria desistido da viagem a Berlim por não estar de acordo com os recentes planos de contenção de despesas da Alemanha, a assessoria de Merkel em Berlim apontou dificuldades de encaixar a visita do presidente francês na agenda da premiê alemã. O encontro foi adiado para a próxima segunda-feira (14/06).
Opiniões divergentes
Merkel quer que todos os chefes de Estado e de governo dos 27 países-membros da UE assumam juntos a coordenação da política econômica e financeira do bloco. Sarkozy, por sua vez, favorece uma liderança econômica que reúna apenas os 16 países da zona do euro.
Para isso, a França reivindica a criação de um novo grêmio, ou seja, de uma secretaria de coordenação para a zona do euro, capaz de conduzir a política financeira dos Estados em comum acordo com o Banco Central Europeu (BCE). O governo alemão acredita que, caso isso aconteça, a independência do BCE estaria ameaçada.
Van Rompuy: não a novo grêmio
O presidente permanente do Conselho da UE, Herman van Rompuy, revidou a criação de um grêmio como esse durante sua visita a Berlim na última quinta-feira (10/06). No entanto, segundo ele, uma melhor coordenação da política financeira da UE é urgentemente necessária, o que ficou claro com a atual crise e com o endividamento dos cofres públicos. Diante das dissonâncias entre os dois maiores Estados europeus (Alemanha e a França), alertou Van Rumpoy, "não se deveria acirrar esse debate".
Sarkozy continua mantendo resistência aos pacotes de contenção de despesas para a consolidação do orçamento público. Para o presidente francês, isso ameaça a conjuntura. Já o governo alemão acaba de aprovar medidas austeras de economia para os próximos anos. Vários outros países da UE também definiram pacotes de contenção de gastos.
Mudar os acordos da UE?
Antes do encontro de cúpula da UE, a ser realizado na próxima quinta-feira (17/06), a Alemanha força uma discussão sobre um acirramento do controle orçamentário dos países da zona do euro através da Comissão Europeia e dos outros países-membros da UE.
O governo alemão pretende incluir no Tratado da UE as mudanças necessárias no Pacto de Estabilidade. Essas mudanças precisariam, então, ser ratificadas por todos os países-membros da UE – um procedimento que a França vem rejeitando terminantemente até agora.
Uma ratificação de tratados que modificam a UE só poderia provavelmente acontecer à custa de muito esforço. O presidente do Conselho da UE, Herman van Rompuy, afirmou em Berlim que essas mudanças no Tratado do bloco seriam prioritárias e precisariam ser aprovadas unanimemente. "Nesses tempos de crise, precisamos de consenso e de linhas comuns, que asseguraremos seguir", disse ele.
Juntos, Merkel e Sarkozy querem que a UE proíba as chamadas vendas a descoberto e apostas de alto risco. Os dois chefes de governo escreveram até mesmo uma carta conjunta à Comissão Europeia reivindicando tal proibição.
Consta que esse instrumento especulativo contribuiu de forma decisiva para a crise de endividamento público da Grécia. Na Alemanha, as vendas a descoberto estão proibidas desde o último 19 de maio. A Comissão Europeia reafirmou que o bloco deverá defender essa proibição durante o próximo encontro de cúpula do G20, postura essa que esbarra principalmente na resistência britânica.
Suposto plano de salvação para a Espanha
Segundo informações do diário econômico Financial Times Deutschland, a UE se prepara para destinar um empréstimo de bilhões de euros à Espanha. É possível que o Estado espanhol tenha que, dentro em breve, salvar bancos e caixas econômicas no país, porque esses estarão à beira da falência em função de créditos imobiliários podres.
Se a Espanha não conseguir os meios necessários para a salvação dos bancos, Madri deverá apelar para a UE e para o Fundo Monetário Internacional (FMI). O pacote de salvação disponibilizado pela UE tem um volume total de 750 bilhões de euros.
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Revisão: Roselaine Wandscheer