Merkel e Trump não escondem diferenças
27 de abril de 2018O presidente americano, Donald Trump, e a chanceler federal alemã, Angela Merkel, se esforçaram nesta sexta-feira (27/04), na Casa Branca, para destacar os laços históricos entre Alemanha e Estados Unidos, mas não fizeram questão de esconder suas diferenças.
As divergências, todas mencionadas por Donald Trump em discurso de abertura na entrevista coletiva, vão desde tarifas alfandegárias e balança comercial até o acordo nuclear com o Irã e despesas com defesa, como a contribuição que cada país dá à Otan.
"Nós temos uma relação realmente excelente. Na verdade, sempre tivemos uma grande relação desde o início", disse Trump, tentando afastar a má impressão deixada na primeira vez em que recebeu Merkel, no ano passado.
Mas, ao mesmo tempo em que ressaltaram a cooperação histórica entre os dois países no pós-guerra, ambos também não deixaram de falar dos atuais conflitos que pautam a relação. Para um dos principais, a questão das tarifas comerciais sobre aço e alumínio europeus, Merkel foi breve: "A decisão é do presidente americano".
Merkel viajou para Washington sem ilusões de uma aproximação maior com o presidente americano. Um dia antes de sua chegada à Casa Branca, autoridades do governo alemão revelaram que esperam já para primeiro de maio o fim da isenção concedida pelos EUA às tarifas alfandegárias sobre importações de produtos de aço e alumínio europeus.
No mês passado, Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% sobre produtos de aço e de 10% sobre os de alumínio provenientes da UE, decisão que, no momento, marca o principal ponto de atrito com a Alemanha, maior economia europeia, no campo econômico. Aos europeus foi dado um período de exceção, que expira neste primeiro de maio.
O motivo alegado por Trump para as novas tarifas é o descompasso na balança comercial, que atualmente pende em mais de 50 bilhões de euros anuais para o lado alemão. Berlim argumenta que, em contrapartida, empresas alemãs geram 837 mil empregos nos EUA.
Trump recebeu Merkel no jardim da Casa Branca com um aperto de mãos e beijo no rosto. O encontro ocorre poucos dias depois da passagem do presidente da França, Emmanuel Macron, por Washington. A visita do francês foi marcada por demonstrações públicas de afeto entre os líderes.
Esta é a segunda visita que Merkel faz a Trump desde que ele assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2017. O primeiro encontro dos líderes, em março do ano passado, foi marcado pela recusa do americano de apertar a mão da chanceler, após pedidos de fotógrafos.
Divergências
Apesar de Berlim declarar que a chanceler quer aprofundar as "excelentes" relações econômicas entre os dois países, vários assuntos da agenda internacional opõem os dois líderes políticos.
Um dos temas de divergências é acordo nuclear com o Irã, que Trump deseja romper. Assinado em 2015 por Teerã, Alemanha e as cinco potências do Conselho de Segurança (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China), o pacto visava restringir o programa nuclear iraniano em troca de um relaxamento das sanções ao país.
Durante a coletiva, Merkel afirmou que o acordo foi um primeiro passo, mas "não é suficiente", e se mostrou disposta a seguir falando com o presidente americano sobre como melhorar o pacto e "conter" a influência iraniana na região.
"[O acordo] não é perfeito. É uma peça de um mosaico, um bloco sobre o qual podemos construir uma estrutura", destacou a chanceler.
Trump não deu novos indícios sobre qual será sua decisão, e se limitou a indicar que tinha falado com Merkel sobre como "assegurar que o regime assassino [iraniano] não se aproxime de sequer uma arma nuclear e acabe com sua proliferação de perigosos mísseis".
"Não vão ter armas nucleares. Podem apostar nisso", garantiu Trump.
Outra questão divergente entre os líderes são os gastos alemães com defesa, que está abaixo do estipulado pela Otan. Trump pediu novamente que os aliados aumentassem o orçamento destinado para esse fim.
A Alemanha anunciou que vai elevar de 1,2% para 1,3% do seu PIB os gastos com defesa. Merkel reconheceu que o aumento está aquém dos 2% estipulados pela Otan e destacou que essa é meta do país.
Os líderes divergem ainda sobre o meio ambiente. A Alemanha é um dos maiores defensores do Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases poluentes e combater o aquecimento global. O presidente americano já anunciou que pretende deixar o tratado.
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