Com a palavra o cidadão
18 de maio de 2009A aparição da chanceler federal alemã, Angela Merkel, num canal comercial de TV na noite de domingo (17/05) foi intitulada "consulta do cidadão" (Bürgersprechstunde). Durante 75 minutos, a chefe de governo alemã colocou-se à disposição para responder às perguntas dos espectadores.
Na realidade, segundo a imprensa alemã, tratou-se de uma espécie de town hall meeting, segundo o modelo eleitoral norte-americano, que serviu para inaugurar a campanha da União Democrata Cristã (CDU) para as eleições parlamentares de setembro deste ano.
O interesse do público foi moderado: apenas 1,55 milhão de pessoas assistiu ao programa, o equivalente a 5,9% do mercado. A emissora privada RTL, uma das mais populares do país, admitiu que o programa teria potencial para atrair uma audiência maior. Um porta-voz do governo não excluiu a possibilidade de que Merkel venha a participar de outros bürgertalks.
Inspirada em Obama?
Em geral considerada firme e competente pelo eleitorado, a premiê alemã tem também uma imagem de líder fria e sem carisma. Assim, a conversa televisada foi uma oportunidade de mostrar seu lado humano. O desempenho da premiê nas pesquisas de opinião tem sido melhor que o de seu partido.
No estúdio da emissora em Berlim, Merkel encontrou-se com 100 convidados e respondeu a perguntas que iam desde sua estratégia para equilibrar a balança comercial sem aumentar os impostos até os quitutes que a política conservadora gosta de cozinhar nas horas vagas.
A emissão representou um desvio do estilo típico das campanhas eleitorais alemãs, que raramente se concentram na personalidade ou na vida privada dos candidatos. Não faltaram comparações com o estilo do novo presidente norte-americano, Barack Obama, cujo charme perante o eleitorado é notório.
O cidadão comum na crise global
Uma meta importante – e difícil – da conversa frente às câmaras era convencer os eleitores de que Merkel e seu partido compreendem as vicissitudes cotidianas que preocupam o cidadão comum em meio ao colapso da economia global – visto que a CDU é um partido tradicionalmente pró-empresariado.
A economia alemã enfrenta a mais séria recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Cerca de 300 mil postos de trabalho foram cortados desde setembro de 2008, quando o banco estadunidense de investimentos Lehman Brothers declarou bancarrota.
A democrata-cristã permitiu-se um certo otimismo cauteloso. "Acho que já chegamos mais ou menos no ponto mais baixo", disse, insinuando que a situação agora tende a melhorar. À perspectiva de um aumento de impostos, ela contrapôs um "decidido não".
Risco calculado
Os outros temas abordados não eram menos delicados: a legislação de porte de armas será endurecida após o massacre de Winnenden? Como posso me defender do aconselhamento enganador dos bancos? Por que o sistema de saúde prejudica os pediatras em relação a outros médicos especialistas?
Porém a premiê naturalmente não se expôs ao risco cego. Os interlocutores eram cidadãos escolhidos. E, apesar de terem suas perguntas levadas bastante a sério, eles não tinham oportunidade de insistir ou retrucar, já que a "consulta" era mediada por apresentadores, que também direcionavam a gama temática.
No geral, Merkel enfrentou o desafio midiático bastante bem. Como no caso do desempregado de 21 anos que há dois meses não conseguia marcar um horário na Agência do Trabalho. Ela concordou que isso não estava certo.
Porém em seguida perguntou qual era o treinamento profissional do rapaz, que respondeu "nenhum". Merkel o aconselhou então a aproveitar seu tempo livre. "Faça tudo o que puder para se preparar para uma carreira."
Bife rolê, humor e Deus
O clima tornou-se sensivelmente mais relaxado quando a protagonista respondeu perguntas sobre sua vida privada. Ela revelou ser uma boa cozinheira, que domina pratos tipicamente alemães, como sopa de batatas e repolho roxo cozido. Seus bifes à rolê são "muito elogiados" pelos convidados. "E espero que eles não falem só por falar", ressalvou.
Confrontada com as sátiras à sua pessoa, Merkel "se esforça para rir". Importante para ela, que é filha de pastor protestante, é a fé. "É bom que Deus esteja acima das pessoas e nos proteja. Isso me dá força", afirmou.
AV/dpa/ap/rtr
Revisão: Rodrigo Abdelmalack