Merkel será chanceler federal da Alemanha
10 de outubro de 2005Três semanas após as eleições e após vários encontros entre as lideranças das duas maiores bancadas no Parlamento (Bundestag), foi anunciado nesta segunda-feira (10/10) o início de negociações para uma "grande coalizão" de governo entre o Partido Social Democrata e a aliança entre União Democrata Cristã e União Social Cristã.
Com isso, a Alemanha terá uma chanceler federal: Angela Merkel, da aliança CDU/CSU. É a primeira vez na história do país que uma mulher chefia o governo. E é a segunda ocasião em que uma grande aliança entre democrata-cristãos e social-democratas é firmada – a primeira foi no fim dos anos 60.
Nascida na ex-Alemanha Oriental, Merkel é vista como "discípula" de Helmut Kohl, que governou o país por 16 anos (de 1982 a 1998). Líder política de linha-dura, ela defende a liberalização da economia alemã e o estreitamento dos laços com os Estados Unidos, o que lhe rendeu o apelido de "Margaret Thatcher germânica".
Por causa do seu estilo "seco", entretanto, ela teve dificuldade em conquistar a simpatia da população alemã. Sua rejeição era especialmente alta justamente entre seus conterrâneos – problema que ficou evidenciado nos fracos resultados da aliança CDU/CSU no Leste, nas eleições de 18 de setembro.
Resultado indefinido
Após o resultado indefinido das eleições, em que nenhum partido conseguiu a maioria no Parlamento – para eleger o chanceler, uma legenda ou grupo político, precisa ter 50% mais um mandato no Bundestag –, começaram as negociações para formar o governo. Entretanto, o SPD e a CDU/CSU não conseguiriam nem chegar perto dos 50% no Parlamento com seus aliados de primeira hora (verdes e liberais, respectivamente). Por isso, viram-se obrigados a dividir o poder.
A decisão sobre a formação da grande coalizão havia sido oficializada por Merkel e Schröder, mas ainda se fazia suspense sobre quem chefiaria o governo, embora obviamente a candidata da CDU/CSU – que teve 1% a mais de votos que o SPD e quatro mandatos a mais no Parlamento – fosse a franca favorita para o cargo.
Foram necessárias várias reuniões, entre quinta-feira e domingo, para a divisão do poder. O SPD perdeu o chefe de governo – Gerhard Schröder vai deixar o cargo –, mas ficou com a Vice-Chancelaria e com oito ministérios, contra sete dos democrata-cristãos. O acordo, porém, depende de ratificação pelo Parlamento alemão.
"Divisão do bolo"
A aliança conservadora CDU/CSU cedeu aos social-democratas os ministérios das Relações Exteriores (acumulado pelo vice-chanceler), do Trabalho, da Saúde, das Finanças, da Justiça, dos Transportes, do Meio Ambiente e o de Cooperação Econômica. A aliança de apoio a Merkel ficou com a chefia da Casa Civil, Defesa, Interior, Agricultura, Educação, Família e a nova pasta de Economia, Europa e Novas Tecnologias (a ser ocupada pelo líder da CSU, Edmund Stoiber).
A grande coalizão é, na avaliação de economistas e especialistas em mercado financeiro, o pior resultado possível para a disputa eleitoral alemã. Isso porque, em tempos de crise, os investidores preferem uma política clara.