Merkel teme notícias falsas na eleição alemã
25 de novembro de 2016Após a revelação de que as redes sociais ajudaram a difundir informações falsas e maliciosas nas vésperas da eleição presidencial dos Estados Unidos, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, espera conter o uso da tecnologia conhecida como bots sociais durante as eleições da Alemanha, em 2017.
A chanceler convidou o especialista Simon Hegelich, da Universidade Técnica de Munique, para informar a liderança de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), sobre os riscos da tecnologia, durante encontro partidário na próxima segunda-feira.
Os chamados bots – de robots, ou robôs – são contas falsas, controladas por computadores e usadas para difundir determinadas opiniões ou estimular tendências em redes sociais. Eles simulam o comportamento de pessoas, publicando mensagens ou "curtindo" postagens no Twitter e no Facebook. Eles podem ser usados para espalhar notícias falsas ou manipuladas e assim confundir o debate político. Na campanha eleitoral dos EUA, esses softwares foram usados a favor dos candidatos presidenciais Donald Trump e Hillary Clinton. Uma notícia falsa divulgada dizia, por exemplo, que o papa Francisco apoiava Trump.
Manipulação da verdade
Hegelich vai alertar os parlamentares de que a tecnologia pode ser usada contra os partidos alemães estabelecidos de modo semelhante ao que foi feito nos EUA, onde, segundo alguns especialistas, a proliferação de notícias falsas ajudou a influenciar a eleição a favor de Trump.
Em entrevista à emissora pública ZDF nesta quinta-feira (24/11), Hegelich disse que o impacto dos bots sociais sobre o processo democrático ainda precisa ser melhor pesquisado. Ele acredita que esse tipo de tecnologia pode ajudar quem tem opiniões extremistas e radicais a ofuscar vozes mais moderadas, criando uma imagem distorcida da realidade. "De repente, o quadro todo é distorcido, e a sociedade parece estar totalmente polarizada", afirmou Hegelich, referindo-se às possíveis consequências do uso dessa tecnologia.
Políticos alemães temem que o partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD) possa se beneficiar do uso de "bots sociais" – mesmo que eles não sejam usados diretamente pelo partido. A AfD tem se destacado por uma forte ligação com seus seguidores através das redes sociais.
Alguns analistas acreditam que pode haver influência externa para tentar enfraquecer Merkel e seus aliados com a difusão de informações falsas sobre política de refugiados, imigração e ameaças de terrorismo.
As agências de inteligência dos EUA e da Alemanha expressaram preocupação com a interferência russa na política interna. Na campanha eleitoral dos EUA, histórias falsas e maliciosas também renderam lucros com publicidade aos sites que as publicaram.
Todos os partidos políticos alemães se comprometeram a não usar "bots sociais" para influenciar o resultado da eleição.
Controle das redes sociais
No domingo, Merkel anunciou que vai se candidatar a um quarto mandato como chanceler. Três dias depois, ela usou um discurso no Parlamento para pedir um debate sobre como notícias falsas podem manipular a opinião pública. "Precisamos lidar com esse fenômeno e, se necessário, regulá-lo", disse Merkel aos parlamentares na quarta-feira.
Merkel levantou a ideia de um código de conduta para as redes sociais, depois que, após as eleições americanas, o Facebook ter prometido tomar medidas para reduzir o número de falsos textos noticiosos compartilhados em sua plataforma.
Na ZDF, Hegelich elogiou Merkel, dizendo que ela está "realmente interessada no assunto dos bots e notícias falsas, do discurso do ódio na internet e está muito bem informada. Fiquei impressionado".
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