Dilma na mídia
26 de agosto de 2010Embora em países diferentes, o alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), o inglês The Guardian, o espanhol El País e o francês Libération parecem ter a mesma percepção de Dilma Rousseff: desconhecida até há pouco, a candidata petista tem pouco ou nenhum carisma; mesmo assim, tudo indica que ela pode vencer a eleição já no primeiro turno.
A reportagem "O terceiro mandato paternalista de Lula", publicada no site do FAZ, chega a afirmar que a disputa não será vencida por Dilma, mas pela popularidade do presidente em fim de mandato. O jornal cita ainda outro fator que beneficia a candidata do PT: "José Serra ainda não conseguiu mostrar o que quer fazer de diferente e melhor do que Lula".
O jornal alemão traça semelhanças entre a participação de Lula no programa eleitoral de Dilma e o enredo de novelas. "Lula chama Dilma carinhosamente de 'minha filha', mas também de 'minha presidente'", ressalta o autor, reproduzindo diálogos exibidos no vídeo de campanha da candidata.
Mas, na visão do FAZ, nem o passado guerrilheiro nem o câncer recém-tratado de Dilma deverão influenciar a escolha do eleitorado brasileiro.
Influência da televisão
Um editorial do The Guardian publicado em 25 de agosto afirma que, "desde o início, já se sabia que Dilma Rousseff teria grande vantagem sobre os adversários, pois foi escolhida como sucessora por um dos presidentes mais populares da história do Brasil".
O jornal se mostra impressionado com a campanha eleitoral de Dilma exibida na televisão: "Não é preciso falar português para notar que suas primeiras inserções na TV simplesmente destroem as dele [de José Serra]".
A publicação inglesa enaltece a performance estratégica de Dilma diante das câmeras, salientando "a importância da televisão num país em que os níveis de analfabetismo ainda são altos".
O The Guardian adverte que um futuro governo da candidata de Lula ainda é misterioso, mas avalia que Dilma não deve se afastar demais do estilo de governo do seu predecessor. Quanto à falta de experiência em pleitos eleitorais, o jornal conclui: "Ela não precisa saber como se faz uma campanha – ela tem o Lula. E você já viu os vídeos dela?"
"Futuro negro" para a oposição?
O francês Libération também destaca a influência das imagens televisivas na campanha de Dilma, mas atribui o resultado favorável das pesquisas eleitorais "exclusivamente" à popularidade do chefe atual de governo.
O El País concluiu que a falta de carisma de Dilma não a abala e já admite a possibilidade de a oposição brasileira estar diante de um futuro negro.
"Para o PSDB foi muito difícil fazer oposição a Lula, apesar dos escândalos que assolaram o Executivo [...]. Agora então vai ser praticamente impossível, caso a candidata de Lula – que ele converteu em triunfadora quando era uma grande desconhecida – acumular tanto poder como profetizam as pesquisas.
A ponto de, enquanto nos círculos próximos ao governo já se especula quem poderiam ser os novos ministros, a oposição falar em uma possível fusão de partidos para que o país não fique órfão da mesma."
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Rodrigo Rimon