"Mesquitas devem criar discurso contra a radicalização"
27 de setembro de 2016A prisão, na terça-feira passada (20/09), em Colônia, de um refugiado de 16 anos que planejava um atentado chamou novamente a atenção para o papel que as comunidades islâmicas na Alemanha podem desempenhar na prevenção e combate ao terrorismo. O jovem, morador de um abrigo para refugiados, foi denunciado às autoridades por membros de uma associação muçulmana.
Em entrevista à DW, o especialista em terrorismo internacional, segurança interna e salafismo Marwan Abou Taam diz que denúncias como essa são exceção, já que, segundo ele, as comunidades islâmicas alemãs não estão preparadas para reagir a uma possível radicalização de seus integrantes.
"Temos uma certa sobrecarga estrutural e de qualificação dentro das comunidades muçulmanas. Não há nelas conhecimento teológico suficiente e capacidade para responder ao radicalismo", alerta Taam, que é consultor da polícia alemã.
O especialista afirma que as associações têm que desenvolver um discurso para fazer frente a essa ameaça. "O radicalismo só pode ser combatido de forma credível com um discurso que vêm das comunidades", afirma.
DW: É um caso isolado uma associação muçulmana dar tal dica às autoridades alemãs?
Marwan Abou Taam: Em quase todos os estados alemães, a polícia está em intenso diálogo com associações islâmicas, e policiais estão presentes nas comunidades locais. Nos últimos anos formou-se uma relação de confiança por meio de contatos pessoais. Ou seja, os caminhos se tornaram mais curtos e as barreiras de comunicação foram removidas. Assim, informações também podem fluir. Ainda assim, podemos dizer que há um número muito reduzido de denúncias.
Por que isso acontece?
Porque a cena de radicais normalmente não se mostra nas comunidades que estão em contato com a polícia. Temos, por um lado, as estruturas do "islã legal" na Alemanha, e, por outro, estruturas que tendem ao salafismo. E, naturalmente, não existe nenhuma relação de confiança por parte da polícia em relação aos salafistas.
Como as associações muçulmanas estão presentes nos abrigos de refugiados?
São os próprios refugiados que escolhem suas casas de oração. Por isso, as comunidades religiosas e, em particular, os teólogos, têm uma responsabilidade muito grande, porque, no caso do extremismo islâmico, a radicalização ocorre com base na religião.
Quando a violência é justificada pela religião, então a religião só pode se defender desenvolvendo um discurso oposto. O radicalismo só pode ser combatido de forma credível com um discurso que vêm das comunidades. Há mais credibilidade se um ímã diz "não, o que vocês ensinam não é o islã" do que se um assistente social diz a mesma coisa.
É feito o suficiente?
Ainda vejo grandes lacunas. Temos uma certa sobrecarga estrutural e de qualificação dentro das comunidades muçulmanas. Não há nelas conhecimento teológico suficiente e capacidade para responder ao radicalismo.
A grande questão é como as comunidades religiosas se adaptam a esse respeito. Nelas temos, na maioria das vezes, teólogos leigos que se dedicam mais à prática religiosa do que a lidar intelectualmente com o fenômeno da radicalização, da sociedade e com os problemas da juventude. Isso contribui para que jovens entrem nas cenas radicais, onde eles têm conversas numa linguagem juvenil e onde aparentemente também lhes é dado algo de fundo religioso.
Nas comunidades religiosas muçulmanas estão geralmente pessoas que podem traduzir, que podem ajudar a encontrar tal médico. Você pode realmente encontrar assistência social nesses lugares. Quando refugiados entram em contato com a pessoa errada, pode se criar uma dependência que pode conduzir à radicalização.
Até que ponto as organizações islâmicas monitoram o que seus membros ou visitantes fazem em suas várias mesquitas?
Uma comunidade muçulmana é, antes de tudo, uma associação e tem integrantes que se conhecem e que conhecem a liderança da entidade. Durante as orações, as mesquitas ficam abertas, e qualquer um que queira rezar, pode entrar. O ímã, lá na frente, nem sempre sabe, portanto, quem está rezando atrás de si. Quando as comunidades percebem que pessoas com determinadas ideias se dedicam com interesse à comunidade, de forma permanente e intensa, é de interesse das próprias comunidades entrar em contato com a polícia.