Cooperação econômica
26 de março de 2007Ministros da Cooperação Econômica dos países do G8, grupo composto dos países mais industrializados e Rússia, se encontram a partir desta segunda-feira (26/03) em Berlim, para discutirem as metas da política de desenvolvimento da presidência rotativa alemã do G8.
Representantes do Brasil, China, Índia, México, África do Sul e de organizações africanas também estão presentes na reunião que tem por título: "Combater a miséria, fomentar a sustentabilidade e fortalecer as cooperações globais". As reformas dos acordos de cooperação com a África e um balanço intermediário das Metas do Milênio da ONU estão entre os principais temas do encontro.
Expectativa positiva
Uschi Eid, especialista em política do desenvolvimento da bancada do Partido Verde no Parlamento alemão, acredita em um balanço positivo do encontro: desde a iniciativa do presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, de apresentar um plano de desenvolvimento para seu continente durante o encontro do G8 em Gênova, em 2001, tem-se trabalhado de forma engajada em uma "nova cooperação para o desenvolvimento da África".
Eid se refere ao apoio à Comissão de Segurança da União Africana, através de ajuda financeira e assessoria, bem como ao Centro Internacional de Treinamento para Manutenção da Paz em Gana. Segundo o plano de ação do G8, deverão ser ajudados, principalmente, os países africanos que seguem as regras democráticas, que levam a cabo reformas sociais e políticas e que abram seus mercados para investidores.
Arranjos estatísticos
Reinhard Hermle, ex-presidente da Associação Alemã de Organizações Não Governamentais (Venro) lembra-se, todavia, que já houve várias promessas. Ele mesmo participou de um encontro de cúpula do G8 na Escócia, em 2005, onde os participantes decidiram investir 50 bilhões de dólares a mais em ajuda ao desenvolvimento. A metade da quantia deveria ir para a África, "mas, desta meta, estamos bem longe", afirmou Hermle.
Como exemplo, ele cita a Alemanha. "O ex-chanceler federal Schröder prometera, até 2010, aplicar 0,51% do Produto Nacional Bruto alemão na ajuda ao desenvolvimento. Embora nós estejamos em 0,36%, nota-se que muita coisa é calculada que não significa nenhum afluxo de dinheiro para a África, como, por exemplo, o desendividamento do Iraque. Esta foi uma ação de contabilidade que não ajudou nada ao Iraque, que há muito não paga suas dívidas."
Pobreza descontada
Efeitos estatísticos semelhantes poderiam também maquiar o balanço intermediário da consecução das Metas do Milênio na reunião dos ministros da Cooperação Econômica. Os chefes de Estado e governo de 189 países-membros da ONU concordaram em reduzir pela metade, até 2015, a pobreza do mundo. Pobre é considerado aquele que dispõe de menos de um dólar por dia.
Hermle considera esta meta como realista: "Mas somente porque países populosos como a Índia e a China fazem grandes progressos econômicos. Ambos os países têm mais de 2,5 bilhões de habitantes. Se a média destes for aplicada à população mundial, o objetivo de redução da pobreza pela metade poderá ser atingido. Isto é um truque estatístico".
O especialista em desenvolvimento comenta que nos países africanos, principalmente, este objetivo não teria sido alcançado e a distância em relação aos países ricos se tornaria ainda maior. Segundo Hermle, o balanço intermediário das Metas do Milênio seria então "desanimador".
Cooperações triangulares
Pela primeira vez, em um encontro dos ministros da Cooperação Econômica do G8, estão presentes representantes dos países emergentes mais importantes – Brasil, China, Índia, México e África do Sul. Heidemarie Wieczorek-Zeul, ministra alemã da Cooperação Econômica e anfitriã do encontro, comenta que o desenvolvimento dinâmico de tais países modifica cada vez mais a estrutura de poder na política e na economia da comunidade internacional.
Planejam-se então as assim chamadas cooperações triangulares, em que países do G8, juntamente com um país emergente, desenvolvem medidas de cooperação econômica em um terceiro Estado.
Esforços próprios são necessários
Para o representante das organizações não governamentais Reinhard Hermle, alguns fatos são evidentes: "É preciso disponibilizar mais dinheiro. A cooperação entre Norte e Sul deve ser melhorada. Os países donatários devem se coordenar melhor para que cada país rico não desenvolva uma política bilateral própria de desenvolvimento. Uma coordenação reduz os custos e torna a ajuda mais eficaz".
Mas, no final das contas, a África somente poderá mudar se ela mesma o quiser, acrescenta a especialista do Partido Verde Uschi Eid: "É errado achar que os problemas da África poderão ser substancialmente resolvidos através da ajuda de desenvolvimento".