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PolíticaMianmar

Mianmar dá adeus a jovem morta em ato contra golpe militar

21 de fevereiro de 2021

Facebook bloqueia contas ligadas à junta que tomou o poder no país. ONU e Alemanha condenam repressão violenta contra manifestações pacíficas a favor da democracia.

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Multidão levanta as mãos em torno de caixão com decoração colorida
Mya Thwate Thwate Khaing se tornou símbolo da luta contra o golpe militar em MianmarFoto: AP Photo/picture alliance

Milhares de pessoas participaram neste domingo (21/02) na capital de Mianmar do funeral da primeira pessoa morta durante protestos contra o golpe militar no país, um dia depois que forças de segurança mataram mais dois manifestantes e feriram dezenas.

Mya Thwate Thwate Khaing morreu na sexta-feira no hospital onde estava internada desde que foi baleada na cabeça pela polícia no dia 9 de fevereiro – dois dias antes do seu 20º aniversário –, quando participava de protesto na capital, Naypyidaw.

Um grande cortejo adornado acompanhou o carro funerário que transportou o corpo para um crematório, onde mais pessoas aguardavam o corpo de jovem, que se tornou um símbolo do movimento contra o golpe militar. 

Muitos levantaram as mãos em saudações de três dedos – um sinal de desafio e resistência adotado pela vizinha Tailândia – durante a passagem do veículo preto e dourado que transportava o caixão. 

Novos protestos

Manifestantes voltaram a se reunir em diversas localidades de Mianmar para protestos de rua contra os militares, que já acontecem há mais de duas semanas.

Em Yangon, a maior cidade do país, cerca de mil manifestantes começaram o dia em uma cerimônia realizada sob um viaduto em homenagem a Mya Thwate Thwate Khaing. "Quero dizer, através dos meios de comunicação, ao ditador e aos seus associados, que somos manifestantes pacíficos", disse o manifestante Min Htet Naing, acrescentando: "Parem o genocídio! Parem de utilizar armas letais!".

Foram registrados também protestos em Myawaddy, na fronteira com a Tailândia, e em Inle Lake, uma popular atração turística, onde dezenas dos famosos barcos de madeira de cauda comprida do local foram atracados perto da costa, levando várias pessoas que cantavam slogans contra a junta militar.

Manifestantes também saíram às ruas em Mandalay, segunda maior cidade do país, onde as forças de segurança mataram a tiros duas pessoas no dia anterior, perto de um estaleiro onde as autoridades tinham tentado forçar os trabalhadores a carregarem um navio.

Os trabalhadores do estaleiro, ferroviários, caminhoneiros e muitos funcionários públicos juntaram-se a uma campanha de desobediência civil contra a junta militar. Uma das vítimas, descrita como um adolescente, foi baleada na cabeça e morreu no local, enquanto outra foi baleada no peito e morreu a caminho do hospital.

Pessoas carregam cartazes na rua, sob viaduto
Manifestação contra golpe militar e homenageando Mya Thwate Thwate Khaing em YangonFoto: AP Photos/picture alliance

Foram também relatados vários outros feridos gravemente. Relatos de testemunhas e fotografias de cartuchos de balas indicaram que as forças de segurança utilizaram munições reais, além de equipamento convencional de controle de motins.

Reação internacional

As novas mortes atraíram uma reação rápida e forte por parte da comunidade internacional. O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou neste domingo no Twitter o "uso da violência fatal em Mianmar", afirmando: "O uso de força letal, intimidação e assédio contra manifestantes pacíficos é inaceitável. Todos têm direito a uma reunião pacífica”.

"Estou horrorizado com mais perdas de vidas, incluindo de um adolescente em Mandalay, enquanto a junta governante aumenta sua brutalidade", escreveu no Twitter Tom Andrews, investigador independente da ONU para os direitos humanos em Mianmar. "De canhões de água a balas de borracha e gás lacrimogêneo, e agora tropas reforçadas atirando à queima-roupa contra manifestantes pacíficos. Esta loucura deve acabar, agora!''

O Ministério do Exterior da Alemanha condenou a violenta repressão e pediu a libertação imediata de todos os presos, em particular a líder destituída Aung San Suu Kyi e o presidente Win Myint, para permitir o "instituições legitimadas democrática e constitucionalmente a retomarem o seu trabalho'.'

Cingapura, que junto com Mianmar faz parte do grupo de 10 membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, emitiu nota condenando o uso de força letal como "imperdoável''.

As autoridades continuaram as prisões que começaram no dia do golpe, 1º de fevereiro, quando Suu Kyi e membros do governo foram detidos. De acordo com a Associação de Assistência Independente para Presos Políticos, 569 pessoas foram presas, acusadas ou condenadas, com 523, incluindo Suu Kyi e Win Myint, ainda detidos.

Facebook bloqueia contas de militares

Neste domingo, o Facebook anunciou que retirou do ar a página administrada pela unidade militar de informação de Mianmar "por repetidas violações dos padrões de nossa comunidade, que proíbem o incitamento à violência.'' O portal de mídia social já havia bloqueado outras contas vinculadas aos militares.

O golpe militar, no dia 1° de fevereiro, atingiu a frágil democracia de Mianmar depois da vitória do partido de Aung Sang Suu Kyi nas eleições de novembro de 2020.

Os militares tomaram o poder alegando irregularidades durante o processo eleitoral do ano passado, apesar de as autoridades eleitorais terem negado a existência de fraudes. Desde então, milhares de pessoas têm se manifestado contra o golpe militar.

md (Lusa, AP)