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Migração

Ruth Reichstein (sv)20 de novembro de 2008

As autoridades tentam, há anos, controlar o fluxo de migrantes para os países da União Européia. Com fronteiras cada dia mais vigiadas, o bloco enfrenta agora uma nova onda migratória: a das crianças.

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Travessia do Marrocos para a Espanha é o sonho de muitas crianças africanasFoto: AP

No último ano, mais de 3.500 refugiados morreram afogados no Mar Mediterrâneo na tentativa de deixar a África e chegar às Ilhas Canárias, território espanhol. A União Européia (UE) encara a imigração ilegal como um de seus grandes problemas.

Enquanto as fronteiras externas do bloco vêm sendo cada vez mais vigiadas, o Parlamento Europeu em Estrasburgo aprovou uma diretriz que permite aos países-membros da UE manter imigrantes ilegais detidos por um período de até 18 meses. Além disso, ao ser deportado, o imigrante ilegal pode receber de todos os países da UE uma negativa de visto de entrada pelos próximos cinco anos.

Ilusão e criminalidade

Mas no continente africano a população continua buscando saídas para a sua situação de pobreza, miséria e muitas vezes perseguição. Uma nova onda migratória vem se estabelecendo entre a África e a Europa: a das crianças refugiadas. Do porto de Tânger, cidade marroquina situada junto ao Estreito de Gibraltar, a cada 20 minutos sai um ferry boat em direção a Algeciras, na Espanha.

Os 14 quilômetros que separam a África da Europa são vistos por muitas crianças como a travessia para a "terra de seus sonhos". A maioria delas, que têm entre 9 e 17 anos, acredita que "já chegaram" à Europa quando conseguem alcançar Tânger, conta Mohammed Serifi Villar, funcionário da Unicef na cidade.

Tudo não passa, porém, de uma ilusão, diz Villar, já que a maioria acaba tendo que viver anos a fio na região portuária de Tânger. E muitos acabam se transformando em meninos de rua ou pequenos criminosos.

Nova tendência

Flüchtlingsboot kentert in der Straße von Gibraltar
Guarda costeira espanhola observa embarcação com refugiados no Estreito de GibraltarFoto: dpa

"A família marroquina mudou de estratégia. Já que os adultos praticamente não têm mais qualquer chance de trabalhar legalmente na Europa por não terem os pré-requisitos para tal, eles acabam ficando no campo e enviando as crianças, sozinhas, a Tânger, para que daqui elas cheguem à Europa. Essa tendência é nova e, com ela, tornou-se ainda mais difícil conseguir um visto para a Europa", explica Villar.

Não há estatísticas a respeito do número exato de crianças que realmente conseguem deixar o Marrocos e chegar à Espanha. No porto de Tânger circulam, a cada fim de semana, aproximadamente mil menores. Segundo estimativas de ONGs, somente na Espanha vivem hoje cerca de 7 mil crianças refugiadas, todas elas ilegais no país. Ao completarem 18 anos, elas têm a chance de legalizar seus papéis, trabalhar regularmente e talvez até levar o resto da família para a Espanha.

Conceito europeu

Para concretizar esse sonho, as famílias costumam fazer de tudo, como pagar entre 3 mil e 5 mil euros, por exemplo, para transportadores ilegais. Os perigos da viagem não assustam as crianças, conta Villar. Muitas delas já foram deportadas da Espanha e continuam tentando regressar ao país. Medo da morte elas não conhecem.

"Este é um conceito muito ocidental, aqui não há esse tipo de cultura. Se você tentou uma vez, sobreviveu, então vai tentar de novo. Você conseguiu tocar no Eldorado. Para o jovem, o perigo faz da viagem uma verdadeira aventura", relata Villar.

Soluções criativas

Seja como for, o sonho de uma vida melhor parece superar qualquer medo de morrer no meio do caminho. E faz também dos pequenos candidatos à emigração grandes inventores. Simon, um dos assistentes sociais que trabalha no porto de Tânger, conta que há pouco encontrou cinco adolescentes com um cachorro na região portuária.

"Perguntei o que eles estavam fazendo com aquele cachorro e um deles me respondeu que era uma cadela, levada para atrair o cão de guarda da vigilância policial. Assim eles poderiam passar sem serem notados, o que funcionou. A migração é uma aposta constante e nunca vai cessar. Pode até diminuir, mas nunca vai acabar. E ninguém vai conseguir fazer com que essas crianças não estejam sempre aptas a tentar mais uma vez", conclui Simon.