Milhares de alemães saem às ruas contra movimento anti-islã
18 de fevereiro de 2020Milhares de pessoas saíram às ruas de Dresden, no leste da Alemanha, na noite desta segunda-feira (17/02) para protestar contra uma marcha em comemoração a 200ª edição dos protestos promovidos pelo movimento xenófobo e anti-islã Pegida na cidade.
O ato do Pegida na Praça Neumarkt, no centro da cidade, contou com a participação de milhares de pessoas e com a presença de Björn Höcke, polêmico líder de uma ala ultranacionalista do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD). Entretanto, duas manifestações contrárias no mesmo local conseguiram abafar ao menos parcialmente as comemorações.
Os oponentes do Pegida – sigla em alemão para "Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente" – fizeram bastante barulho ao ponto de levar os líderes do movimento xenófobo a reclamar e ameaçar cancelar discursos, segundo informações da imprensa local.
Manifestantes dos dois lados estavam próximos uns do outros, separados apenas por cordões policiais. Segundo a polícia do estado da Saxônia, os protestos ocorreram de forma pacífica.
Inicialmente, os organizadores da contramanifestação afirmaram que aguardavam cerca de mil pessoas, mas durante a noite o total de participantes foi calculado em 2,5 mil.
A oposição pública ao Pegida ganhou o apoio de alguns dos principais partidos políticos do país. A União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, e o Partido Liberal Democrático (FDP) convocaram uma contramanifestação com o lema "A democracia precisa de uma espinha dorsal".
Entre os que apoiaram a iniciativa dos partidos estava a Associação das Comunidades Judaicas da Saxônia e as Igrejas Católica e Protestante do estado, além da organização Dresden Nazifrei ("Dresden livre de nazistas"). O governador Michael Kretschmer e vários secretários estaduais também ofereceram apoio.
Lutz Bachman, líder do Pegida, já foi condenado diversas vezes por incitamento ao ódio, entre outras acusações, o que contribuiu para que o movimento perdesse apoio. Em discurso na marcha desta segunda-feira, Lutz criticou políticos alemães e da União Europeia (UE), acusando-os de serem "criminosos políticos", enquanto os contramanifestantes o chamavam de "traidor".
A presença de Höcke gerou controvérsia dentro da própria AfD. Alexander Wolf, membro do comitê executivo do partido, disse que o comparecimento de Höcke na marcha do Pegida seria algo arriscado pouco antes das eleições na cidade-estado de Hamburgo, no domingo.
"Por mais legítimo que o tema [da marcha do Pegida] possa ser, uma demonstração dessas sempre vem acompanhada de riscos", disse Wolf.
Höcke já afirmara no passado sua admiração pelo Pegida. Em 2016, chegou a declarar que "sem eles, a AfD não estaria onde está hoje".
O político lidera a ala radical da AfD conhecida como Der Flügel. O grupo fundado como um movimento partidário interno que se opõe a uma orientação excessivamente moderada da AfD e consegue influenciar conteúdos e indicações políticas dentro do partido.
O Departamento Federal para a Proteção da Constituição (BfV) classifica a Der Flügel como uma entidade suspeita de ter inspirações de extrema direita.
Numa decisão incomum, um tribunal alemão decidiu que Höcke pode ser chamado de fascista por causa de suas declarações de cunho xenófobo e racista e que relativizam os crimes nazistas. Ele tem suas atividades vigiadas pelo serviço secreto interno.
Entre várias de suas declarações polêmicas, Höcke chegou a afirmar a Alemanha necessita de "uma guinada de 180 graus na política da memória", sugerindo uma revisão da forma como o país lida com o passado nazista.
A primeira marcha do Pegida em Dresden ocorreu em outubro de 2014, mobilizando um número expressivo de pessoas que manifestavam sua revolta contra muçulmanos e a política do governo federal de acolhimento aos refugiados, naquilo que consideram uma "ditadura de Merkel".
No auge do movimento, dezenas de milhares de pessoas participaram dos atos, mas o comparecimento vem diminuindo significativamente, assim como o interesse da imprensa.
RC/dpa/edp
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