ZPR
29 de janeiro de 2009"Há ameaças de que a situação em muitos países em desenvolvimento possa piorar e se tornar ainda mais dramática neste ano. Cada percentual a menos no crescimento econômico empurra aproximadamente 20 milhões de pessoas para a pobreza", afirmou a ministra nesta quinta-feira (29/01), ao fazer um pronunciamento perante o Parlamento alemão. Com o objetivo de contornar a crise, Wieczorek-Zeul reivindicou "um programa global de investimento para os pobres do mundo".
Mais fracos sofrem mais
A ministra salientou ainda que os mais fracos "têm que pagar, com suas existências diariamente ameaçadas, pelo colapso das bolsas em moedas fortes". Com a crise, caem, nos países mais pobres, as receitas fiscais e as chances de exportação, desta forma colocando a infra-estrutura dessas regiões em risco. Já hoje, mais de 1 bilhão de pessoas passa fome no mundo. "Há perigo de que a crise se transforme, num continente como a África, numa catástrofe com milhares de famintos e mortos", analisou a ministra.
Wieczorek-Zeul exigiu, por isso, que os países ricos levem em consideração os interesses dos pobres ao desenvolver seus programas de apoio à conjuntura. Segundo ela, os países em desenvolvimento precisam urgentemente de mais investimento. A máxima do momento deveria ser, de acordo com a ministra, "aproveitar a crise" para destinar mais verbas a quem precisa. Wieczorek-Zeul sugeriu ainda que se crie uma rede internacional, capaz de fazer um uso justo e adequado dos bilhões perdidos através da fuga de capital para paraísos fiscais.
Ajuda ao desenvolvimento: sem cortes
A ministra prometeu ainda que não haverá cortes em relação aos recursos destinados pelo governo alemão à ajuda ao desenvolvimento. Para 2009, o Ministério do Desenvolvimento tem um orçamento previsto de 5,8 bilhões de euros, que representam 12% a mais do que as verbas que lhe foram destinadas no ano anterior.
Além disso, o pacote de ajuda econômica do governo alemão separou 100 milhões de euros a mais para a ajuda ao desenvolvimento. A meta de destinar até 0,51% do PIB ao setor, até o ano de 2010, ainda está, no entanto, longe de ser alcançada pelo país.
Wieczorek-Zeul fez também um balanço das "metas do milênio" das Nações Unidas, estabelecidas pela comunidade internacional em 2000, a fim de conter a pobreza e a miséria no mundo até o ano de 2015. De acordo com a ministra, nenhuma outra meta parece tão distante da realidade quanto a melhoria da saúde das mães e dos recém-nascidos. Segundo ela, ainda hoje morrem por dia, em todo o mundo, aproximadamente 1.500 mulheres durante o parto.
Brasil: recursos destinados à proteção do meio ambiente
Embora o número oficial de pobres no mundo tenha diminuído, somente neste ano mais de 100 milhões de pessoas voltaram a viver sob condições miseráveis. Em entrevista ao jornal Saarbrücker Zeitung, a ministra alemã defendeu ainda a perpetuação da ajuda ao desenvolvimento a países emergentes como o Brasil ou a Índia.
Um dos exemplos de cooperação necessária, segundo a ministra, se dá entre Alemanha e Brasil no setor de proteção do meio ambiente. "Se o Brasil só pensasse em seu próprio progresso econômico, a floresta amazônica já teria sido devastada há muito tempo, acarretando consequências imprevisíveis para o clima em todo o mundo", acentuou Wieczorek-Zeul.
Leste e sul do continente: resistência
Durante um encontro que deverá acontecer em Praga, o comissário da União Europeia para ajuda ao desenvolvimento, Louis Michel, pretende convencer os representantes da pasta de cada país do bloco a se aterem aos objetivos de ajuda a países pobres e emergentes.
Com Wieczorek-Zeul o comissário não terá que gastar muito tempo, já que a ministra alemã defende até mesmo um aumento da ajuda ao desenvolvimento, a fim de atingir o patamar de 0,7% do PIB de cada país. "Se é possível mobilizar bilhões para salvar os setores financeiro e bancário, com o que concordo expressamente, então deverá ser possível também salvar o mundo da fome, da pobreza, do desemprego e das mudanças climáticas", afirmou a ministra.
Outros países da UE (principalmente aqueles do leste e do sul do continente), no entanto, mostram-se mais resistentes a destinar mais recursos à ajuda ao desenvolvimento. O atual presidente tcheco do Conselho da UE, Jan Kohout, deu apenas declarações vagas sobre o assunto. Muitos dos ministros do bloco afirmam enfrentar dificuldades, em tempos de crise, de justificar um aumento da ajuda ao desenvolvimento perante seus eleitores em casa.