Mobilização controversa
3 de agosto de 2009Há sete anos que cerca de 3.500 soldados alemães estão estacionados no Hindukush, região montanhosa no leste e centro do Afeganistão. Porém, sua missão nunca foi tão perigosa quanto agora. Alguns políticos falam até mesmo em "guerra", embora o governo alemão continue evitando o termo.
Distinção teórica
Com regularidade assustadora, soldados da Bundeswehr têm estado envolvidos em confrontos armados com a milícia talibã. Trata-se de um claro indício de que a missão alemã não transcorre de acordo com os planos.
Em 2001, o então ministro alemão da Defesa, Peter Struck, ainda traçava uma linha unívoca entre as tropas sob comando norte-americano, "que devem lutar contra o Talibã e a Al Qaeda" e as alemãs, que participariam de uma tropa de paz.
A meta original era, portanto, uma distinção clara entre a missão antiterrorismo Enduring Freedom e o mandato das Nações Unidas para a Tropa Internacional de Assistência à Segurança (Isaf). Na prática, as fronteiras se confundiram rapidamente.
Há muito, os alemães não se ocupam em primeira linha da construção de poços, estradas e escolas, mas sim atiram, lutam e matam. A planejada missão de estabilização do Exército alemão no Afeganistão se transformou em missão de combate.
Proteção ou convite ao terrorismo?
O atual ministro da Defesa, Franz-Josef Jung, defende a presença das tropas nacionais em solo afegão contra os que exigem a sua retirada. "Temos um mandato importante lá, que também serve à segurança das cidadãs e cidadãos na Alemanha. Pois o Afeganistão não pode voltar a ser um campo de treinamento para o terrorismo."
Assim como seu antecessor Struck, Jung já afirmou certa vez: a Alemanha é defendida também no Hindukush. Trata-se de uma tese controversa: especialistas em terrorismo afirmam que, pelo contrário, o perigo de um atentado na Alemanha aumentou desde que a Bundeswehr está estacionada no Afeganistão.
Nos últimos anos, diversas mensagens de vídeo propagaram ameaças de ataques terroristas à Alemanha, caso o país não retire suas tropas do Afeganistão. A questão "ficar ou sair?" tem sido debatida de forma acalorada, sobretudo nesta época de campanha eleitoral na Alemanha.
Grandes partidos x população
Para o copresidente do partido A Esquerda Oskar Lafontaine, não há dúvida: a mobilização é errada. "O mais tardar desde os bombardeios em massa dos norte-americanos, muitos afegãos perderam toda a família. Para eles, vingar-se é um dever. Por isso, não há condições para uma missão pacífica das Forças Armadas alemãs no Afeganistão."
Segundo pesquisas, dois terços da população alemã são da mesma opinião. E Lafontaine provoca: o governo Merkel-Steinmeier – ou seja, a coalizão entre cristão-conservadores (CDU-CSU) e social-democratas (SPD) – toma decisões contra a maioria do povo.
Recentemente o especialista em segurança da União Social Cristã (CSU), Hans-Peter Uhl, também reivindicou uma estratégia de retirada. De resto, os grandes partidos – União Democrata Cristã (CDU), SPD, Partido Liberal Democrático (FDP) e Partido Verde – são pela manutenção da missão no Afeganistão.
À frente de todos está o ministro do Exterior e candidato social-democrata à chancelaria federal, Frank-Walter Steinmeier, que afirma: "O Afeganistão só está perdido se desistirmos dele".
Afeganistão estável: um sonho distante
Em princípio, o perito em defesa do Partido Verde, Winfried Nachtwei, diz estar de acordo com Steinmeier. Mas ele exige o fim dos "eufemismos": Berlim precisa finalmente assumir toda a verdade.
De um lado, diz, há vitórias humanitárias: hospitais, escolas e estradas foram construídos. Mas a papoula, matéria-prima para a produção da heroína, floresce por toda parte, os narcotraficantes se enchem de dinheiro e o grau de segurança piorou constantemente nos últimos anos. O sonho de um Afeganistão democrático e estável jamais esteve tão longe.
Autor: Benjamin Wüst
Revisão: Alexandre Schossler