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Papa na Alemanha

22 de setembro de 2011

Quase cem deputados boicotam discurso de Bento 16 no Bundestag. Enquanto manifestantes protestam no centro da capital alemã, Papa é recebido por 70 mil fiéis no Estádio Olímpico de Berlim.

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Bento 16 é o primeiro papa a falar no BundestagFoto: dapd

Entre protestos e ovações começou nesta quinta-feira (22/09), em Berlim, a primeira visita do papa Bento 16 à Alemanha na condição de chefe de Estado. Pontos altos da agenda foram o discurso no Bundestag, o primeiro de um papa, e uma celebração religiosa no Estádio Olímpico de Berlim, acompanhada por 70 mil pessoas.

O discurso na câmara baixa do Parlamento alemão foi boicotado por deputados dos partidos A Esquerda, Partido Verde e SPD, que veem na cerimônia um desrespeito à divisão entre Igreja e Estado. Alguns deles participaram de um protesto na capital, organizados por críticos da Igreja Católica e que reuniu entre 6.000 e 8.000 participantes, segundo a polícia.

Cerca de 100 deputados boicotaram o discurso, a maioria delas da bancada de A Esquerda, formada por vários ex-comunistas da antiga Alemanha Oriental. Apenas 28 dos 76 assentos da bancada estavam ocupados. Entre os social-democratas, em torno de 20 não estavam presentes.

Ao entrar no plenário, o Papa foi aplaudido pelos deputados presentes. Grande parte deles se pôs de pé. Além dos deputados, o discurso foi acompanhado pelo presidente Christian Wulff, pela chanceler federal Angela Merkel e por diversos governadores e ministros.

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Cartazes e uma cruz são exibidos em protesto contra o PapaFoto: picture alliance/dpa

Discurso no Bundestag

No seu aguardado discurso, Bento 16 deixou de lado qualquer referência aos recentes escândalos de abuso sexual na Igreja Católica ou às reivindicações por maior abertura na Igreja. A Igreja Católica alemã perdeu cerca de 180 mil membros em 2010 e muitos fiéis pedem que o Vaticano reveja suas posições sobre temas como o divórcio e a ordenação de mulheres.

O Papa fez um discurso de teor teológico e filosófico, abordando temas como ética e dignidade humana. Ele também elogiou o papel político do movimento ambientalista. "Eu diria que o surgimento do movimento ecológico na política alemã, nos anos 70, pode não ter escancarado janelas, mas foi e permanece sendo um grito por ar fresco, o qual não se pode ignorar."

Outro tema foi a ética na política. Nas palavras do Papa, o trabalho de um político não deve ser medido pelo sucesso pessoal e muito menos pelo ganho pessoal, mas pela busca da justiça. "A política deve ser esforço pela justiça e criar as condições básicas para a paz."

O Papa, que tem 84 anos e vivenciou o regime de Hitler, também fez referência ao passado nazista da Alemanha. Ele lembrou a luta daqueles que se opuseram ao regime nazista. O discurso durou cerca de 20 minutos.

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O Papa é ovacionado pelos fiéis no Estádio Olímpico de BerlimFoto: dapd

Missa no Estádio Olímpico

Logo após o discurso, o Papa se encontrou com representantes da comunidade judaica na Alemanha. Em seguida se deslocou até o Estádio Olímpico, onde já era aguardado por 70 mil fiéis. Ele foi recepcionado pelo prefeito Klaus Wovereit, um homossexual assumido.

Bento 16 fica até este domingo na Alemanha. De Berlim ele partirá para Erfurt, capital da Turíngia, onde se encontrará com representantes da Igreja Evangélica da Alemanha (EKD, na sigla em alemão). Na Turíngia, o Papa passará por várias estações da vida do reformador Martinho Lutero. Depois seguirá para Freiburg, no sul do país.

O papa Bento 16 havia chegado no final da manhã à Alemanha. Logo ao chegar, ele reclamou de uma crescente indiferença perante a religião na sociedade alemã, "que privilegia considerações utilitaristas". Na visão do Papa, a religião é a base para uma bem-sucedida convivência em sociedade.

O Papa foi recebido no aeroporto por Wulff e Merkel e seguiu para o Palácio Bellevue, residência oficial do presidente da Alemanha. No seu discurso ao Papa, Wulff abordou temas delicados, como os escândalos de abuso sexual e a carência de padres na Igreja Católica. Importante também é o avanço no ecumenismo, afirmou o presidente, que é católico e casado pela segunda vez.

AS/dpa/rtr/afp