Modernismo brasileiro à disposição dos berlinenses
4 de março de 2004Nem só o acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York tem vez na capital alemã. A partir desta quinta-feira (4/3), 49 obras do movimento modernista brasileiro e pertencentes ao acervo do Museu de Arte Brasileira (MAB), da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), estão expostas na galeria da Embaixada do Brasil em Berlim.
A mostra, de iniciativa do Instituto Cultural Brasileiro (ICBRA) de Berlim, fica disponível ao público até o dia 23 de abril.O embaixador brasileiro na Alemanha, José Artur Denot Medeiros, destaca que estas obras representam um patrimônio de valor inestimável para a cultura brasileira. "É uma mostra especial por ter sido concebida para o exigente público alemão e berlinense, que tem demonstrado crescente interesse pela cultura do Brasil."
De acordo com a curadora da mostra, Maria Izabel Branco Ribeiro, a exposição não tem a pretensão de definir nem esgotar o modernismo brasileiro. A idéia das obras é propor a construção de pontes com a realidade brasileira e o panorama artístico internacional. "Elas buscam discutir o conceito oswaldiano da 'antropofagia cultural' como uma chave para o entendimento dessa produção híbrida e multiforme", explica.
As principais obras
A primeira parte da exposição apresenta um conjunto de obras de Anita Malfatti (Homem de Sete Cores, Retrato de Homem e Estudo para a Boba), de 1915 e 1916, que refletem marcas do expressionismo absorvido por Anita durante os anos de estudo na Alemanha.
Em seguida, vêm os trabalhos de Di Cavalcanti, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna, que tem quatro obras expostas, tematicamente brasileiras, mas onde se percebe influências do cubismo e da art- nouveau.
Victor Brecheret está representado com duas estátuas, Deposição e Sem Título, com características da art déco. De Tarsila do Amaral, figura emblemática do modernismo brasileiro, há quatro trabalhos, com destaque para O Sapo, de 1928, desenho sintético e preciso, herança do que ela chamou de "serviço militar cubista".
O quadro Caboclas Montadas, de 1948, do pintor Lasar Segall, com tons de terra, clima expessionista e alusões às máscaras também pode ser visto na galeria. De José Pancetti, o acervo inclui duas paisagens (Campos de Jordão, de 1944, e Bairro de Abissínia, de 1949), e a pintura Retrato de Menina, de 1941, influenciadas por Van Gogh e Cézanne.
Cícero Dias está representado através de Jogos, de 1928, Paisagem, de 1933, e Três Figuras em uma Sacada, de 1933, frutos dos contatos que ele passou a ter com os modernistas do Rio de Janeiro e São Paulo em 1925.
Portinari e Flávio de Carvalho
Duas obras do pintor Cândido Pontinari podem ser conferidas na mostra: Mestiço, de 1934, e Retrato de Rockwell Kent, de 1937, que demonstra as habilidades de retratista do pintor. Portinari dedicou-se principalmente a obras de denúncia social, com influências do cubista Picasso.
O maior número de obras expostas é de autoria de Flávio de Carvalho. Segundo a curadora Maria Izabel, o objetivo é oferecer uma amostra das possibilidades expressivas do desenho linear e do modo como Carvalho fixou o retrato psicológico de artistas e de intelectuais. "São pinturas onde as cores, as formas e a relação imagem e título ilustram o canibalismo-antropofágico cultural, apresentado por Oswald de Andrade, em que o resultado final é muito mais do que a soma do que o originou", destaca.
O acervo inclui pinturas, esculturas, desenhos e gravuras ao todo de 17 artistas consagrados. Além dos trabalhos já citados, o público pode conferir em Berlim obras de Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Antonio Gomide, Clóvis Graciano, Ernesto De Fiori, Ismael Nery, Oswaldo Goeldi e Vicente do Rego Monteiro.
Mostra educativa para europeus
Para facilitar a compreensão do visitante, em especial o europeu, as obras estão dispostas em ordem cronológica e acompanhadas por textos. A exposição é parte de um acordo assinado entre a Embaixada Brasileira em Berlim e a FAAP com o objetivo de divulgar a arte e a cultura brasileiras na Alemanha.
A Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, com a colaboração de pintores, poetas, escritores e artistas plásticos, foi a primeira tentativa formal de propor um modelo de arte nacional no Brasil, após o percurso romântico de José de Alencar para descobrir a alma brasileira, através do romance O Guarani. A intenção era romper com o academicismo europeu vigente, copiado e adotado no Brasil pelos primeiros produtores artísticos em cumprimento a uma política colonialista.