Morre ídolo da canção americana Tony Bennett, aos 96 anos
22 de julho de 2023Ícone da canção americana, do jazz ao easy listening, morreu Tony Bennett nesta sexta-feira (21/07) em Nova York, aos 96 anos. Não foi divulgada a causa da morte, mas sete anos atrás ele fora diagnosticado com mal de Alzheimer. Em 2021, tuitou: "A vida é um presente – mesmo com Alzheimer."
Nascido em 3 de agosto de 1926, no condado nova-iorquino de Queens, o filho de imigrantes italianos Anthony Dominick Benedetto cresceu escutando os cantores Al Jolson e Bing Crosby, e instrumentistas de jazz como Louis Armstrong e Joe Venuti.
Aos dez anos, já cantava em público, aos 13 ganhava dinheiro como garçom-cantor em restaurantes italianos. Depois de servir o Exército, terminada a Segunda Guerra Mundial foi estudar a técnica do bel canto, o que contribuiria para manter sua voz em forma por muitas décadas.
Numa abordagem pouco usual, paralelamente observava e procurava imitar o estilo e fraseado de jazzistas como o saxofonista Stan Getz e o pianista Art Tatum. A atriz e cantora Pearl Bailey reconheceu seu talento, convidando-o em 1949 para abrir seus shows.
Após um deles, o comediante Bob Hope ficou tão impressionado com a voz do ítalo-americano, que o convidou para se apresentar a seu lado. E foi quem sugeriu o nome artístico: "[Hope] pensou por um momento, aí disse: 'Vamos te chamar Tony Bennett'", contaria o cantor em sua autobiografia The good life, de 1998.
Da melodia comercial ao jazz
Em 1950, Bennett assinou contrato com a Columbia Records. Como crooner de melodias pop comerciais, emplacou os sucessos Because of you, Blue velvet e Stranger in paradise, entre outros.
Mas em meados da década de 50 o cantor se orientava cada vez mais na direção do jazz. Seu primeiro long-play foi Cloud 7, em 1955. Mais tarde, gravaria ao lado de Herbie Mann, Nat Adderley, Art Blakey e a orquestra do Count Basie, entre outras celebridades jazzísticas.
Em 1962 tornou-se o primeiro vocalista popular masculino a se apresentar no Carnegie Hall (um ano antes, Judy Garland fora a primeira mulher). Data do mesmo ano uma de suas interpretações mais famosas: a canção I left my heart in San Francisco, escrita uma década antes, originalmente para um cantor de ópera.
Numa época em que o "jazz brasileiro" estava em todas as bocas, era inevitável Bennett se deixar seduzir pela bossa nova. Começando no álbum I wanna be around..., de 1963, interpretou evergreens de Tom Jobim como Corcovado, Samba do avião, Samba de Orfeu e Insensatez – naturalmente em versão inglesa.
Após a quase morte, novo triunfo na virada do milênio
A partir de 1965, a Columbia pressionou seus artistas para lançarem material "contemporâneo" – ou seja, covers dos sucessos da parada. Bennett resistiu o quanto pôde, chegando a ficar fisicamente doente após gravar Tony sings the great hits of today!, em 1970.
Em reação, primeiro passou para a Verve, a divisão de jazz MGM Records, e em 1975 fundou sua própria gravadora, a Improv. Apesar de lançar dois álbuns de jazz altamente conceituados, ao lado do pianista Bill Evans, dois anos mais tarde a companhia falia.
Sem gravadora nem muitas possibilidades de concertos fora de Las Vegas, Bennett sucumbiu à dependência de narcóticos. Sua recuperação só começaria depois de uma overdose de cocaína quase fatal, em 1979.
Frank Sinatra certa vez definiu o antigo garçom-cantor como "o melhor do business". Vindo de uma era em que as big bands definiam a música pop americana, Bennett soube conquistar as plateias jovens do fim do milênio, em aventuras musicais celebradas em programas de TV e no álbum ao vivo Tony Bennett: MTV unplugged, de 1994.
À medida que a idade avançava, suas colaborações também se tornaram mais diversificadas, incluindo Aretha Franklin, Barbra Streisand, Stevie Wonder Paul McCartney e o vocalista do U2 Bono. Ao longo de sua venerável carreira, Tony Bennett lançou mais de 70 álbuns – o último Love for sale, em 2022, ao lado de Lady Gaga – e conquistou mais de 20 prêmios Grammy, inclusive pelo conjunto de sua obra.
av (ots)