Morre o multitalento Peter Ustinov
29 de março de 2004“Os médicos tentaram de tudo, mas não havia mais nada que fosse possível fazer.” Com estas palavras Leon Davico, amigo de Peter Ustinov confirmou a morte do multitalento na noite de domingo em uma clínica de Genebra, na Suíça, em decorrência de problemas no coração e diabetes. “Ele era uma personalidade única, uma pessoa com quem realmente se podia contar”, acrescentou o amigo.
A trajetória profissional de Ustinov não deixa dúvidas de que ele teve uma singular carreira de sucesso em diversas atividades ligadas à arte. Ele foi ator, autor de livros e peças teatrais, diretor e era também bastante engajado socialmente.
Sua estréia como ator ocorreu quando tinha apenas 19 anos, nos palcos de Londres. No começo da década de 50 ele se tornou mundialmente conhecido ao interpretar personagens marcantes em produções de Hollywood, como o imperador Nero em Quo Vadis ou o sádico comerciante de escravos em Spartacus (1959). Por esta última atuação, Ustinov recebeu um Oscar de melhor ator coadjuvante. Por seu desempenho em Topkapi (1964), Ustinov foi agraciado pela segunda vez com uma estatueta na mesma categoria.
Um de seus personagens de maior sucesso nas telas foi Hercule Poirot, o detetive belga da obra de Agatha Christie, em filmes como Morte no Nilo, Encontro com a Morte e Morte na Praia. Sua última atuação no cinema não foi menos glamourosa. Ustinov interpretou o príncipe Frederico, o Sábio no longa alemão Lutero, sobre a vida do teólogo e reformador Martinho Lutero.
Mais do que um ótimo ator
Sua enorme popularidade em diversos países não é decorrente apenas de sua arte de interpretar. Ustinov era um multitalento. Em mais de meio século de carreira, ele escreveu nove roteiros, mais de dez romances, bem como mais de 20 peças teatrais.
Ustinov tinha especial apreço pela música clássica. Por isso, encenou óperas nos mais importantes teatros do cenário mundial, como Berlim, Hamburgo, Dresden, Salzburgo, Londres, Paris e Moscou. Outro talento de Ustinov era sua veia cômica. Ele excursionou pelo mundo atuando em one man shows, interpretando sozinho no palco situações e personagens hilariantes.
Cidadão do Mundo
Peter Ustinov era embaixador especial do Unicef e bastante envolvido em questões sociais. Além de apoiar uma maior compreensão entre os povos, criou uma fundação com o intuito de melhorar a qualidade de vida das crianças no mundo.
Em reconhecimento à sua carreira e engajamento, Ustinov recebeu a comanda de cavaleiro da Ordem do Império Britânico da rainha Elisabeth, ostentando desde então o título de Sir.
O presidente alemão Johannes Rau qualificou-o de cidadão do mundo. Filho de um alemão descendente de russos e de uma francesa, Sir Peter Ustinov nasceu e cresceu na Inglaterra, viveu nos Estados Unidos e ainda no final da vida morou na Suíça. No próximo dia 16 de abril completaria 83 anos.
Certa vez, ao lhe perguntarem se acreditava no paraíso, Ustinov respondeu: “Não, eu não acredito nessas coisas. Mas eu estou disposto a ser surpreendido e ficar admirado a todo o momento”.