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Morte de Fidel Castro repercute pelo mundo

26 de novembro de 2016

Quer aliados ou opositores, líderes políticos internacionais registram morte do líder socialista cubano como grande virada de página na história do século 20. Obama diz que a história julgará "essa figura singular".

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Fidel Castro discursa na Praça da Revolução de Havana no Dia do Trabalho, em 2006
Castro discursa na Praça da Revolução de Havana no Dia do Trabalho, em 2006Foto: picture-alliance/dpa/A. Ernesto

Logo em seguida ao anúncio da morte do líder cubano Fidel Castro, aos 90 anos, chefes de governo e de Estado de todo o mundo se apressaram em apresentar suas mensagens de condolências neste sábado (26/11).

Em comunicado, o presidente da França, François Hollande, observou que Castro encarnava tanto as "esperanças" como as "decepções" da Revolução Cubana.

"Como protagonista da Guerra Fria [...] ele representava para os cubanos o orgulho de rejeitar a dominação externa", disse, referindo-se à decisão do revolucionário, no início da década de 1960, de distanciar seu país dos Estados Unidos. Esse afastamento foi mantido até 2015, mesmo depois de a presidência cubana ser assumida, em 2008, pelo irmão mais novo de Fidel, Raúl Castro.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que a história "registrará e julgará o imenso impacto" da "figura singular" que foi Fidel Castro. O presidente acrescentou que a Casa Branca estende a "mão da amizade" ao povo cubano depois da morte de Fidel e lembrou que, como presidente, "trabalhou arduamente" para abrir um novo capítulo nas relações entre os Estados Unidos e Cuba.

Como observou o ministro italiano do Exterior, Paolo Gentiloni, na rede social Twitter, a morte de Castro marca "a virada de uma das grandes e trágicas páginas da história do último século". O presidente da China, Xi Jinping, limitou-se a declarar que "o camarada Castro viverá para sempre".

Havana decretou nove dias de luto nacional por seu antigo presidente, que será cremado já neste sábado. As cinzas serão enterradas na cidade de Santiago, no sul, após quatro dias de procissão através do país.

Rússia e Castro: velhos camaradas

O chefe de Estado russo, Vladimir Putin, louvou o histórico líder: "O nome desse destacado homem de Estado é corretamente considerado o símbolo de uma era na história do mundo moderno [...] Fidel Castro era um amigo sincero e confiável da Rússia."

Por sua vez, o primeiro-ministro Dimitri Medvedev tuitou uma foto sua ao lado do líder cubano, comentando que este tinha "um interesse pronunciado nos eventos do mundo e da Rússia".

As relações entre a república insular caribenha e a extinta União Soviética se aprofundaram no fim da década de 50 e início da de 60, devido ao impasse entre Havana e Washington. Para diversos analistas, essa foi a época em que o mundo esteve mais perto de uma guerra nuclear.

O ex-líder soviético Mikhail Gorbatchov afirmou que Castro deixou um legado significativo para Cuba. "Fidel se levantou e fortaleceu seu país durante o mais duro bloqueio americano, quando a pressão sobre ele era colossal. E ele ainda conduziu sua nação para fora desse bloqueio, a caminho do progresso independente." Por isso, Castro será recordado como um "político proeminente", que teve a capacidade de "deixar uma marca profunda na história da humanidade", concluiu Gorbatchov.

Amigos e admiradores em diversos continentes

O presidente Michel Temer disse que Fidel Castro foi um líder de convicções. "Ele marcou a segunda metade do século 20 com a defesa firme das ideias em que acreditava".

Uma breve história do líder da Revolução Cubana

Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou como "a perda de um irmão mais velho" a morte de Castro, que para ele foi "o maior de todos os latino-americanos".

"Para os povos de nosso continente e os trabalhadores dos países mais pobres, especialmente para os homens e mulheres da minha geração, Fidel foi sempre uma voz de luta e esperança", escreveu Lula no Twitter. Sobre o ex-metalúrgico, Castro declarara, certa vez: "Tem alma de campeão, admiro a sua perseverança. É o otimismo e a esperança da região."

Também aliado próximo do regime cubano, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pronunciou palavras combativas na estação de TV Telesur: "Vamos continuar vencendo e continuar lutando. Fidel Castro é um exemplo da luta por todas as pessoas do mundo. Vamos seguir adiante com esse legado." O antecessor de Maduro, Hugo Chávez, é citado como "filho espiritual" de Fidel.

Igualmente aliada de Cuba na era socialista, a Índia registrou pesar pela morte do líder latino-americano, com o presidente Pranab Mukherjee prestando "condolências comovidas pelo triste falecimento do líder revolucionário cubano, antigo presidente e amigo da Índia".

Em Bruxelas, a chefe da política externa da União Europeia, Federica Mogherini, rendeu homenagem ao "homem decidido e figura histórica", frisando: "Ele morre em tempos de grandes desafios e incertezas. E de grandes mudanças em seu país." Agora, a UE deseja cooperar mais estreitamente com Cuba, acrescentou a política italiana.

Membros da comunidade cubana em Miami celebram morte de líder odiado Fidel Castro
Membros da comunidade cubana em Miami celebram morte de líder odiadoFoto: picture-alliance/dpa/G. Viera

Cuban-americans festejam

Depois que Fidel Castro assumiu o governo, em 1959, muitos cidadãos fugiram da ilha, estabelecendo-se nos Estados Unidos, sobretudo em Miami e Nova Jersey.

Em grande parte, esses exilados eram adeptos do presidente Fulgencio Batista, deposto pela revolução castrista; outros consideravam a política do socialista excessivamente opressiva. No fim de 2014, Cuba e Estados Unidos anunciaram a retomada e normalização de suas relações bilaterais, após 54 anos.

Na cidade de Miami, milhares de imigrantes cubanos, de diferentes gerações, comemoraram neste sábado a notícia da morte do ex-presidente. "Estamos todos celebrando, isso é como um carnaval", comentou o cuban-american Jay Fernandez, de 72 anos à agência de notícias AP. "Satã, Fidel agora é teu, dá a ele o que ele merece, não deixa ele descansar em paz!"

A notícia da morte do revolucionário caribenho polarizou a imprensa dos EUA. Para o New York Times, ele foi alguém que "demonizou 11 presidentes americanos e por um breve tempo propeliu o mundo até a beira da guerra nuclear".

Apesar disso, Castro "se tornou uma figura internacional de destaque, cuja importância no século 20 excedeu de longe o que se poderia esperar do chefe de Estado de uma ilha caribenha com 11 milhões de habitantes", completou o diário nova-iorquino.

O Washington Post, por sua vez, relembrou o estadista revolucionário como "um fanal espiritual da extrema esquerda mundial", enquanto "seus detratores o viam como um líder repressivo, que transformou Cuba num Gulag de fato".

AV/afp/ap/efe/lusa/dpa/abr