Carvão e fotografia
3 de maio de 2010Olhando de um parapeito, para baixo, a visão é a de um espaço cilíndrico. As paredes são de concreto armado, com canos que se enroscam, em meio a alguns andaimes. Cabos de neon mergulham algumas partes da imagem em uma luz brilhante, provocando forte contraste. A sensação se assemelha à de uma instalação espacial.
A placa, ao lado da foto, explica: trata-se da imagem de uma usina nuclear. O fotógrafo Thomas Struth ficou fascinado por aquilo: "Ali, as dimensões são muito únicas e dão mais a impressão de perigo e de algo sinistro, inerentes a uma usina atômica", diz ele. Do lado de fora, completa Struth, as usinas nucleares parecem lisas e abstratas. "Através da perspectiva escolhida por mim, o aspecto ameaçador da edificação vem à tona", conclui.
Futebol e minas de carvão não são tudo
Thomas Struth dedicou-se ao tema "energia" em dois de seus trabalhos, focando, assim, um assunto extremamente polêmico na região industrial do Vale do Ruhr. Pois a mudança de estrutura, ou seja, o adeus ao carvão e ao aço, ainda não foi até hoje completamente digerido pela população local.
Cada uma das imagens expostas na exposição Ruhrblicke (Visões do Ruhr), em um centro cultural da cidade de Essen, revela um aspecto diferente da região. Os 11 fotógrafos convidados têm trajetórias distintas e pertencem a diferentes gerações. O que une todos é a ligação com o Vale do Ruhr, seja porque ali vivem ou porque tratam da região em seus trabalhos.
Também muito distintos são, obviamente, os olhares desses artistas sobre o lugar. Por exemplo, ao tratarem alguns clichês associados à região, como o futebol e as minas de carvão: Andreas Gursky, por exemplo, dedica-se a esses dois temas em algumas de suas fotos de grande formato. Por outro lado, há imagens que buscam retratar aspectos da região para além dos estereótipos, sendo ainda assim, contudo, típicos dessa enorme região urbana. Esse é o caso, por exemplo, dos espaços internos de prédios públicos fotografados por Candida Höfer.
"A peculiaridade desses olhares sobre o Ruhr é a de que há muitos trabalhos novos a serem vistos, que foram feitos especialmente para este projeto", diz Thomas Weski, curador da exposição. As únicas imagens que já existiam anteriormente são as obras do casal Bernd e Hilla Becher, que fotografaram fábricas e indústrias no Vale do Ruhr, em outros lugares da Europa e nos EUA durante toda a vida. "Aqui é possível adquirir uma visão das correntes da fotografia contemporânea na área documental, sempre partindo de um tema: o Vale do Ruhr", completa Wesky.
Cubo japonês como local de exposição
Os lugares nos quais as fotografias estão expostas são pouco convencionais: o escritório de arquitetura Sanaa, por exemplo, construiu na antiga mina de carvão Zeche Zollverein, em Essen, um cubo cinza-claro. Inaugurado em 2006, o lugar foi pouco usado até hoje. O cubo tem janelas enormes, que cortam de forma irregular a fachada. Os amplos espaços internos são bem iluminados. Ao mesmo tempo, as janelas mais parecem quadros na parede, que possibilitam um olhar sobre a antiga coqueria e sobre um bairro residencial, além de emoldurarem a natureza ao redor, criando, assim, um complemento interessante às fotos expostas.
Paredes provisórias criam, para cada fotógrafo, um espaço próprio, mas que ao mesmo tempo está aberto para os outros. Jitka Hanzlová pendurou reproduções em grande formato em suas paredes, por exemplo, mostrando sempre a ligação entre o ser humano e a natureza, ou os rastros do homem em fachadas envelhecidas.
Retrato pessoal da cidade escolhida
Os trabalhos de Jitka Hanzlová nasceram em Essen, onde ela vive. Suas fotografias desviam discretamente o olhar para as peculiaridades e especificidades da região, que enfrenta continuamente problemas como o alto índice de desemprego e uma mudança de estrutura. Uma região, contudo, que tem também um grande potencial a ser explorado. Os retratos, feitos por Hanzlová, de pessoas das mais diversas idades, nos lugares aonde vivem, ressaltam e dignificam a essência de cada indivíduo.
A artista tcheca mudou-se de sua terra natal para o Vale do Ruhr em 1993. "Gosto das contradições que existem aqui", diz ela. Da mesma forma que os outros artistas destas visões do Ruhr, ela construiu uma relação bem especial com o lugar. Algo visível em todas as suas obras.
Autora: Sola Hülsewig (SV)
Revisão: Augusto Valente