Movimento pacifista se reorganiza ante ameaça de guerra
18 de janeiro de 2003A participação, porém, ficou aquém da expectativa dos organizadores. Em Hamburgo foi realizada um "plantão" em frente do Consulado Geral dos EUA, em Heidelberg a manifestação passou diante de um quartel norte-americano.
O movimento pacifista está se reorganizando na Alemanha e a tendência é aumentarem suas ações, à medida em que se aproxima a data da entrega do relatório dos inspetores de armas da ONU e os EUA continuam transferindo tropas e reforçando sua presença no Golfo Pérsico. Representantes de igrejas, sindicatos, partidos e outras organizações pretendem criar uma aliança contra a guerra no dia 27 de janeiro, em Rostock.
Attac "atacará" dia 15 de fevereiro
Um encontro nacional da rede de adversários da globalização Attac reuniu 350 ativistas em Göttingen. Somente um amplo protesto da sociedade pode deter os preparativos de guerra, disse um porta-voz da ONG que tem 11 mil membros na Alemanha e mais de 80 mil em todo o mundo. A Attac tem recebido, por semana, cerca de 100 novas filiações na Alemanha. Uma grande manifestação está sendo preparada para dia 15 de fevereiro em Berlim.
Em várias cidades pequenos grupos e iniciativas realizam abaixo-assinados contra a guerra. No entanto, há uma grande diferença em relação ao movimento pacifista dos anos 80, que chegou a tirar o país dos eixos. "As estruturas do movimento pacifista atual são pequenas, os grupos que fazem trabalho de base não são grandes, mas o potencial existe", diz Elvira Hoegemann, que juntou assinaturas em Colônia nas últimas semanas, apesar de temperaturas abaixo de zero. Segundo ela, amplas camadas da população têm a convicção moral de que é preciso evitar a guerra. "E onde se vê uma possibilidade de levantar a voz e engajar-se pessoalmente, de repente juntam-se milhares e milhares de pessoas", declarou à Deutsche Welle.
Nova guerra do Iraque reverteria civilização em barbárie
A organização "Médico Internacional contra a Guerra Atômica" (IPPNW) conclamou o governo alemão a se engajar para a formação de uma frente européia contra a guerra do Iraque. Como expôs na quinta-feira (16), em Berlim, o presidente de honra da ONG, o alemão Horst-Eberhard Richter, os preparativos da guerra avançam contra a opinião quase unânime dos povos europeus. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Forsa, 68% dos alemães são da opinião que um ataque militar ao Iraque daria novo alento ao terrorismo.
A IPPNW adverte contra as conseqüências que um novo conflito bélico na região teria para a saúde da população e o meio ambiente. A guerra de 12 anos atrás não foi limpa, nem justa, nem levou em conta a população civil, para Ulrich Gottstein, da sessão alemã. Pelo contrário: a guerra violou a Convenção de Genebra e causou uma imensa destruição, disse Gottstein, que esteve no Iraque poucas semanas após a guerra de 1991 e presenciou o sofrimento da população.
Richter, que tem vários livros publicados contra a insensatez da corrida atômica delineou ainda outras implicações negativas de longo prazo, no caso de uma nova guerra contra o Iraque: "No que se refere a esta guerra, quando ela vier estaremos num processo de 'descivilização'. Os progressos atingidos nos últimos anos, no tocante à diminuição da violência, na luta em prol dos direitos humanos serão detidos ou teremos até um retrocesso causado por uma guerra que só pode ser entendida como uma guerra colonial de conquista."
Não à guerra também nas igrejas
No seio das igrejas alemãs também aumentam as vozes contra uma incursão militar no Iraque. Em várias cidades começaram vigílias e orações de paz nas igrejas. Para o presidente do sínodo da Igreja Evangélica da Renânia, Manfred Sorg, "é preciso evitar a guerra por todos os meios pacíficos".
A frase, pronunciada neste sábado (17) em Bielefeld, durante uma recepção da cúpula da igreja evangélica do estado é uma constante nos sermões das últimas semanas. A Conferência dos Bispos Alemães deve se pronunciar contra a guerra no Iraque na próxima semana, indicou seu presidente o cardeal Karl Lehmann. O Papa João Paulo II fez uma veemente advertência contra a guerra, dez dias atrás.