Mudança climática também prejudica a saúde
13 de setembro de 2018Combater o aquecimento global não é bom apenas para o planeta, mas também para a saúde. A poluição causada pelo dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa afeta o bem-estar, piora a qualidade de vida de milhões de pessoas.
Assim, uma boa abordagem para combater as mudanças climáticas é alertar para os riscos que a poluição cria para a saúde das pessoas, como chamou a atenção nesta quinta-feira (13/09), em Brasília, um debate sobre clima e saúde na Embaixada da Alemanha no Brasil.
Pesquisas internacionais mostram que há forte apoio da população a medidas de redução de emissões quando os benefícios delas à saúde e à qualidade de vida são destacados. Além disso, o foco na saúde torna mais compreensível uma questão que pode soar abstrata para muitas pessoas.
"É mais fácil, para a população, entender números de mortes do que conceitos abstratos sobre material particulado e níveis de poluição", afirma a gestora do Instituto Saúde e Sustentabilidade, Evangelina Vormittag, que participou do debate.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que, nos próximos 30 anos, as mortes em consequência das mudanças climáticas aumentarão em 250 mil pessoas a cada ano. Nessa conta entram, por exemplo, as vítimas da malária e de outras doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e zika, já que a elevação das temperaturas amplia o habitat de muitos insetos transmissores e expande as áreas afetadas por essas doenças.
Um outro exemplo: o valor nutricional das plantas também é afetado pela poluição, e de forma alarmante. Cientistas da Universidade de Harvard descobriram que um nível elevado de dióxido de carbono no ar resulta em arroz e trigo com menos nutrientes. Isso, por sua vez, pode causar deficiência de zinco em 175 milhões de pessoas e de proteína em 122 milhões de pessoas até 2050, além de colocar mais de 1 bilhão de mulheres e crianças em risco de anemia e outras doenças.
E há ainda o próprio calor, cada vez mais duradouro e forte. "O calor sozinho não mata", diz o cientista Hans-Guido Mücke, da Agência Ambiental Alemã e gestor no Centro Colaborativo da OMS para Controle de Poluição e Qualidade do Ar. Mas ondas prolongadas de temperaturas altas agravam os riscos para pacientes com múltiplas doenças.
Os efeitos mais imediatos da poluição atmosférica são sentidos por quem respira o ar contaminado. Gases poluentes são culpados não só pelo aquecimento global, como também causam problemas de saúde.
Nas grandes cidades, a poluição do ar agrava e causa doenças como asma, câncer de pulmão, pneumonia e gripes: só no estado de São Paulo, 11,2 mil pessoas morrem todos os anos por problemas agravados pela péssima qualidade de ar, um número que pode aumentar para 180 mil até 2050, segundo uma pesquisa do Instituto Saúde e Sustentabilidade. No mundo todo são 4,2 milhões de pessoas.
Outro tipo de poluição do ar, só que dentro de casa, é causada pela queima de lenha e carvão para cozinhar, iluminar e aquecer residências em áreas pobres e sem acesso à eletricidade ou ao gás de cozinha. Segundo a OMS, esse tipo de poluição causa 3,8 milhões de mortes por ano em todo o mundo.
O uso de combustíveis como lenha e carvão em lugares pequenos e mal ventilados eleva a concentração de partículas poluentes, explica Mücke. Com o preço de gás subindo e o poder aquisitivo das camadas mais pobres diminuindo, isso voltou a ser uma causa de preocupação no Brasil.
Entre as medidas de redução da poluição está a substituição de veículos pesados, como ônibus ou caminhões, por modelos elétricos. Veículos pesados, que representam 5% da frota de São Paulo, são responsáveis por 40% a 47% dos gases tóxicos e poluentes, segundo pesquisadores da USP. Mas só filtrar os gases de exaustão já faria uma diferença: se todos os ônibus usassem filtros, o ar já seria 40% mais limpo.
Cientistas alemães também descobriram que fachadas verdes podem diminuir o calor nas ruas e filtrar partículas finas e dióxido de carbono do ar.
Outra sugestão para melhorar o ambiente e a saúde das pessoas é aumentar as áreas de pedestres e de lazer, como foi feito em Barcelona, onde carros não podem entrar nos chamados superblocos, áreas de três por três quadras. A cidade quer criar mais de 500 superblocos para combater poluição, ruído ambiental, acidentes e até sedentarismo.
Já cidades holandesas, como Roterdã e Amsterdã, e também Copenhague, na Dinamarca, incentivam seus cidadãos a usarem bicicletas como meio de transporte. Isso também ocorre cada vez mais em cidades brasileiras, mas os avanços no Brasil ainda são tímidos.
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