"Muito à direita": neta de Mussolini deixa partido de Meloni
12 de setembro de 2024Uma neta do ditador fascista italiano Benito Mussolini anunciou nesta quinta-feira (12/09) que estava deixando o partido da primeira-ministra Giorgia Meloni por ele ser muito de direita e por discordar da visão da sigla sobre minorias.
Rachele Mussolini, vereadora em Roma mais votada na última eleição, em 2021, disse que vai trocar o Irmãos da Itália pelo Forza Itália, de centro-direita, mas que integra a coalizão de Meloni.
"Chegou a hora de virar a página e me juntar a um partido que sinto estar mais alinhado com minhas sensibilidades moderadas e centristas", disse Rachele, que tem 50 anos, à agência de notícias italiana Ansa.
O Irmãos da Itália tem raízes no Movimento Social Italiano (MSI), herdeiro do fascista que governou a Itália na época da Segunda Guerra Mundial.
Desde que virou primeira-ministra, em 2022, Meloni tem tentado apresentar seu partido como uma agremiação conservadora não extremista – algo que, segundo críticos, não condiz com as posições intransigentes da sigla em relação a temas como imigração, aborto, famílias homoafetivas e barrigas de aluguel.
O Forza Itália, fundado por Silvio Berlusconi, também se apresenta como defensor de valores tradicionais cristãos, mas é visto como mais liberal em relação a direitos civis.
Discordância sobre boxeadora olímpica
Em agosto, Rachele discordou da postura de Meloni no caso da boxeadora olímpica Imane Khelif, da Argélia, que foi falsamente acusada por detratores de ser homem após derrotar uma atleta italiana no ringue.
Meloni declarou à época que a luta não havia sido travada entre iguais porque Khelif teria sido reprovada em um teste de gênero no campeonato mundial de boxe de 2023.
"Até que se prove o contrário, Imane Khelif é uma mulher. E ela sofreu uma caça às bruxas indigna", disse Mussolini.
Meia-irmã é defensora de direitos LGBTQ+
Também neta de Mussolini, meia-irmã de Rachele e ex-correligionária de Meloni, a eurodeputada Alessandra Mussolini, de 61 anos, foi de homofóbica convicta a fervorosa ativista dos direitos LGTQ+, repelindo na TV e nas redes sociais ataques do governo de Meloni a esse grupo.
Alessandra e Meloni chegaram a militar juntas no MSI, antes de ela migrar para o Força Itália de Berlusconi, em 2008, onde continua até hoje.
Ao participar de um programa de TV italiano em 2006, Alessandra debatia com Vladimir Luxuria, primeira política trans do país, quando saiu-se com a frase: "Mais vale um fascista do que um maricas."
No passado, ela também se opôs fortemente à adoção de crianças por casais do mesmo sexo.
Mas nos últimos anos Alessandra deixou esses discursos e a defesa beligerante do legado do avô de lado para encampar a defesa da comunidade LGBTQ+.
"Chega de sexo e sexualidade, todo mundo é tão fluido quanto quiser", afirmou em 2022. Em 2023, ao discutir com um jornalista sobre a parada LGBTQ+ num programa de entrevistas, questionou: "O que vocês perdem com um pouco de música, um pouco de orgulho, um pouco de liberdade? Tranquem-se em casa e peguem uma bíblia."
ra (Reuters, EFE, ots)