Mulheres no front
15 de dezembro de 2002Entre 800 mil e um milhão de mulheres serviram no Exército Vermelho de 1941 a 1945, mais de 100 mil juntaram-se ao movimento de resistência na Rússia. A maioria era jovem e alistara-se voluntariamente no exército. E uma parte considerável lutou diretamente no front, como pilotas, atiradoras de elite, enfermeiras, em funções de reconhecimento ou dirigindo tanques. Houve períodos em que as mulheres em uniforme perfaziam oito por cento do contingente total do Exército Vermelho. Muitos são os mitos que existem em torno de sua atuação, até hoje nunca foi feito um balanço objetivo.
Em lugar histórico
Uma apresentação objetiva dos fatos é o que tenta agora a exposição Masha, Nina, Katyusha — Mulheres no Exército Vermelho 1941-1945, à mostra no museu russo-alemão no subúrbio de Karlshorst, em Berlim. O casarão suburbano não aparenta ter sido palco de um capítulo decisivo da história mundial: mas foi aí que o marechal Keitel assinou a capitulação da Alemanha, em maio de 1945, colocando um ponto final na Segunda Guerra Mundial na Europa. Na época da República Democrática Alemã, ele já abrigou um museu soviético, que foi reaberto em 1995, depois de expurgado de todo tipo de propaganda política.
Mulheres normais
Grupos de veteranas já foram visitar a exposição sobre sua história, o livro de visitantes está repleto de inscrições em alfabeto cirílico. Ao que tudo indica, as visitantes reconheceram suas biografias. Mas há também muitas observações em alemão, falando da emoção causada pela exposição. E atestando seu respeito por aquelas mulheres.
Claro que elas não tinham nada das "mulheres-machos" que a propaganda nazista fazia delas e que, no fundo, refletia muito mais o medo masculino do que a realidade de vida das soldadas. A mulher na frente de batalha na União Soviética era também um contraste demasiado chocante para a imagem de mulher do lar e mãe de futuros soldados que o nazismo impôs na Alemanha. E apenas em parte as mulheres o Exército Vermelho correspondiam à imagem de heroínas estilizadas de regimentos exclusivamente femininos. Eram mulheres normais, que sofriam com o dia-a-dia nos campos de batalha, como testemunham as fotografias e os textos da exposição: medo, fome, falta de sono, esgotamento, doenças, ferimentos e morte.
A morte era uma ameaça bastante real para as soldadas, quando caíam em mãos dos inimigos. A fama de que seriam mulheres-machos violentas, "animalescas" e "degeneradas", divulgada pela propaganda nazista, determinava o tratamento que lhes era dado pelas tropas que as capturavam. Muitas eram fuziladas ainda no front, ou enviadas para campos de concentração.
Propaganda ainda vive
Esse tipo de propaganda chega a ser repetido em memórias da guerra, como a que o satirista alemão Vicco von Bülow — conhecido sob o pseudônimo de Loriot — publicou no semanário Die Zeit em 1992: "Durante a guerra estive muitas vezes acampado diante de regimentos femininos. O que essas mulheres faziam com seus inimigos eram as coisas mais bárbaras que já vi na vida". Não há dúvida de que os russos também praticaram muitas atrocidades numa guerra em que a meta era exterminar o inimigo. Mas a verdade é que a Rússia nunca teve batalhões de combate formados exclusivamente por mulheres. Talvez Loriot devesse visitar a mostra, pelo menos para atualizar suas lembranças.
O ingresso para a exposição, que pode ser visitada até 23 de fevereiro, é gratuito.