Mundo tem 2 bilhões de subnutridos, diz estudo
13 de outubro de 2014Estar saciado e, mesmo assim, passar fome: isso é possível? Sim, mostra o novo Índice Global da Fome (IGF 2014), apresentado nesta segunda-feira (13/10) pela organização Ação Agrária Alemã, junto com a ONG irlandesa Concern Worldwide e o Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI, na sigla em inglês).
"Oitocentos milhões de pessoas passam fome por não terem o suficiente para comer. Aqui o que conta é a quantidade, a ingestão de calorias", informou Shenggen Fan, diretor-geral do IFPRI. "No entanto, 2 bilhões passam fome por não consumirem suficiente quantidade de nutrientes."
Mapa-múndi da fome
As consequências da fome oculta também são, muitas vezes, fatais: é apenas uma questão de tempo até a morte por subnutrição.
A partir do novo IGF, foi elaborado um mapa-múndi, mostrando onde a população está particularmente afetada pela fome e onde há maior necessidade de ação. Porém há lacunas: sobre países como o Congo, Sudão do Sul ou Somália, simplesmente não se dispõe de números confiáveis, que permitam avaliar a situação de forma realista.
Os especialistas do IFPRI compilaram os dados de diferentes organizações das Nações Unidas. Eles consideraram três indicadores para a fome oculta: desnutrição na população em geral, crianças abaixo do peso e mortalidade infantil.
Na avaliação dos dados, os especialistas também compararam os números atuais também com estatísticas de 1990. Apesar de ter havido uma evolução positiva por toda parte, de um modo geral negligenciou-se a qualidade dos alimentos nos últimos anos, apontou Wolfgang Jamann, secretário-geral da Ação Agrária Alemã, em entrevista à DW. Para a ONG, a coleta de dados serve sobretudo ao planejamento estratégico do próprio trabalho e para sugestões à política.
Apoio aos pequenos agricultores
As conclusões são claras, afirma Jamann: "Não se trata exclusivamente do aumento da produtividade, ou seja, de produzir mais alimentos. Também é importante uma produção diversificada, especialmente o cultivo de legumes, mas também, por exemplo, a criação de pequenos animais.
Projetos da Ação Agrária Alemã e da parceira irlandesa Concern Worldwide já mostram, na prática, como garantir uma alimentação saudável. "Para nós, é extremamente importante abordarmos três aspectos em conjunto. Eles são a melhoria da agricultura, a melhoria dos hábitos alimentares e também o uso responsável dos recursos naturais" enumera Jamann.
O secretário-geral da Ação Agrária Alemã acrescenta que há muitas maneiras de adicionar artificialmente nutrientes aos alimentos, "do enriquecimento do solo passando por sementes modificadas até a complementação de vitamina A ou vitamina em pó na alimentação de crianças pequenas".
Apoio para além dos good performers
Wolfgang Jamann diz não rejeitar nem o enriquecimento posterior dos alimentos, nem a assim chamada tecnologia genética verde, se a eficiência dos métodos já foi comprovada na prática. No entanto, muitas soluções tecnológicas não são opção para a maior parte dos pequenos agricultores, enquanto "a maioria dos produtores, mas também a maioria dos famintos, é composta, hoje, por pequenos agricultores". É preciso, portanto, encontrar soluções adequadas às realidades locais e que evitem a exploração excessiva dos recursos naturais, assinala.
Acima de tudo, o desenvolvimento rural deve ser apoiado nos países mais pobres. Jamann diz ver de forma crítica um novo relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o trabalho de ajuda ao desenvolvimento.
Embora a OCDE planeje mais gastos no setor da cooperação econômica, existe "uma tendência de apoiar os chamados good performers, ou seja, países em desenvolvimento ou comunidades bem sucedidas economicamente, estáveis". Isso beneficiaria os países em que são possíveis investimentos privados, porém muitas nações particularmente afetadas pela fome e pela miséria não fazem parte desse grupo. Elas têm que se contentar com ajuda humanitária.