Museu do Holocausto é inaugurado em Amsterdã sob protestos
10 de março de 2024A Holanda inaugurou neste domingo (10/03) o seu primeiro Museu Nacional do Holocausto, com a presença do presidente israelense, Isaac Herzog, o que provocou protestos de grupos pró-palestina.
Em seu discurso, Herzog disse que o novo museu é um lugar que recorda "os horrores que surgem do ódio, do antissemitismo e do racismo", afirmando que o antissemitismo "está crescendo atualmente em todo o mundo". Ele também destacou que, durante as atrocidades do regime de Adolf Hitler, "muitas pessoas" observaram em silêncio a deportação de judeus na Holanda, mas "também houve quem se levantasse" contra os nazistas.
Na cerimônia, realizada na Sinagoga Portuguesa, vizinha ao museu, Herzog também exigiu a libertação dos reféns sequestrados pelo grupo radical islâmico Hamas.
Por várias vezes durante a cerimônia foram ouvidos gritos dos manifestantes que, do lado de fora, protestavam contra a presença de Herzog. Eles gritavam palavras de ordem pela libertação Palestina e pelo fim da ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza.
O evento de inauguração também contou com a presença do rei holandês, Willem-Alexander. Ao longo da semana passada, mais de 200 mesquitas pediram que o monarca não comparecesse à cerimônia, salientando o valor simbólico da presença de Herzog na Holanda, dada a guerra em Gaza. O Museu, por sua vez, argumentou que Herzog já havia sido convidado para o evento antes do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, estopim da guerra na Faixa de Gaza.
Além de Herzog, vários outros dignitários também compareceram, incluindo o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, o presidente austríaco, Alexander van der Bellen, e Manuela Schwesig, presidente da câmara alta do parlamento alemão, o Bundesrat.
Manifestantes criticam a presença de Herzog
Milhares de pessoas reuniram-se na Praça Waterloo, no centro de Amesterdã, para protestar contra a presença de Herzog. O protesto foi organizado por grupos pró-palestinos, bem como por organizações judaicas anti-sionistas. Atos semelhantes ocorreram em outras partes da capital holandesa.
Os participantes gritavam frases como "Cessar-fogo agora" e "Parem de bombardear crianças". Algumas pessoas seguravam cartazes que diziam "Judeus contra o genocídio".
A organização pró-Palestina holandesa The Rights Forum classificou a presença de Herzog como "um tapa na cara dos palestinos que só podem assistir impotentes como Israel assassina seus entes queridos e destrói suas terras"
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, mais de 30 mil palestinos foram mortos desde o início do conflito.
Em outra ação em Amsderdã, a ONG Anistia Internacional colocou "sinais de desvio" ao redor do museu no intuito de encaminhar Herzog para a Corte Internacional de Justiça (CIJ), na cidade vizinha de Haia, onde a África do Sul abriu um processo contra Israel acusando-o de genocídio. Israel nega as acusações.
Perto do museu, um grupo pró-Israel menor também se reuniu com bandeiras e fotos dos reféns sequestrados por militantes do Hamas, considerado uma organização terrorista pelos EUA, pela UE e por Israel, entre outros. Policiais estiveram presentes para diminuir a tensão entre as duas manifestações.
Num comunicado divulgado antes da inauguração, o Bairro Cultural Judaico que administra o museu disse estar "profundamente preocupado com a guerra e as consequências que este conflito teve, principalmente para os cidadãos de Israel, de Gaza e da Cisjordânia".
Mais de 100 mil judeus holandeses mortos
O Museu Nacional do Holocausto de Amsterdã, que abre ao público oficialmente nesta segunda-feira, fica no bairro que acolheu os judeus que esperavam a deportação da capital holandesa. Estima-se que cerca de 102 mil judeus holandeses tenham sido assassinados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Só 25% dos judeus da Holanda sobreviveram ao Holocausto que, no total, matou mais de 6 milhões de pessoas.
O novo museu fica no prédio onde funcionava uma antiga faculdade, que foi usada como rota de fuga secreta para centenas de crianças judias.
Para a viabilização do projeto do museu, a Alemanha contribuiu com quatro milhões de euros e a Áustria, com 400 mil euros.
O diretor do museu, Emile Schrijver, lamentou que tenha demorado tanto para que a história dos 102 mil judeus assassinados fosse contada. "Depois da guerra, o foco principal foi a resistência dos holandeses", disse, afirmando tratar-se de uma memória dolorosa para a comunidade judaica.
"Mas a história deve permanecer visível", enfatizou Schrijver. "Também por causa do antissemitismo reemergente de hoje".
Com mais de 400 objetos, fotos, filmes e instalações, o museu conta a história da perseguição sistemática que ocorreu diante dos olhos dos cidadãos holandeses. Uma das salas está coberta de cima a baixo com leis e regulamentos relativos à exclusão de judeus no passado.
O horror do assassinato em massa também está documentado por meio de botões encontrados no campo de extermínio alemão de Sobibor, na Polônia então ocupada. Lá, cerca de 34 mil judeus holandeses foram assassinados. O botão é um item particularmente simbólico, por tratar-se de um dos últimos objetos que as pessoas tocaram quando foram forçadas a se despir antes de serem levadas para as câmaras de gás.
le (Reuters, AP, dpa)