Memória
1 de setembro de 2009"Meus queridos pais...", assim começa a carta do soldado Wilhelm Schierholz de 22 de outubro de 1944. "No momento, o tempo me permite escrever novamente uma cartinha. Eu espero que eu possa ver a pátria mais uma vez. Willy Wedeking não poderá mais vê-la, ele caiu em combate em 18 de outubro. Ele foi meu melhor amigo durante todos esses anos. É muito triste, mas nada se pode mudar nessa situação, esta guerra ainda vai fazer mais vítimas...". Em 1° de novembro de 1944, dez dias após ter escrito aos pais, Schierholz morreu na Letônia, aos 33 anos de idade.
A carta de Wilhelm Schierholz é somente uma entre as 30 milhões a 40 milhões de cartas de campanha escritas entre 1939 e 1945 por 18 milhões de soldados. Sob este ponto de vista, o período da Segunda Guerra Mundial também foi uma época de troca de correspondência.
Nem antes nem depois foram escritas tantas cartas. Assim, as cartas do front – por mais macabro que possa soar – documentam uma cultura extraordinária de escrever cartas.
Sinal de vida vindo da pátria
Basicamente, as cartas de campanha são sinais de vida e de sobrevivência entre a linha de frente e a pátria. Trata-se, em primeira linha, de narrativas simples, que mostram à família e aos amigos que o soldado ainda está vivo. Geralmente, isso é mais importante do que o conteúdo em si.
"Mas existem naturalmente também declarações banais", afirma o historiador Veit Didczuneit. "Como está o tempo, eu vou bem, e assim por diante". Mas também se vai mais além. Pode-se reconhecer que era a primeira vez que muito jovens na guerra estavam no exterior e como eles observavam o estrangeiro.
A carta como fonte histórica
O correio de campanha nos dá uma ideia da vida daqueles cujos relatos pouco são encontrados em outros arquivos. Diferentemente de entrevistas biográficas utilizadas pela história oral, as vivências reproduzidas nas cartas ainda estão bastante vivas na memória. A proximidade do acontecimento, ao redigir a carta, como também a identidade pessoal dos atingidos, faz das correspondências uma fonte de qualidade exponencial.
Relatos de dentro da guerra
Cartas de campanha são autênticas, sem dúvida, mas se trata de fontes altamente subjetivas que relatam com a maior clareza a vida dentro da guerra. Elas relatam o estado de espírito do autor. Medos, temores e esperanças ganham expressão ao serem transmitidos para casa. Trata-se de sinais de vida para os familiares e, infelizmente, tais sinais ficaram sendo muitas vezes as últimas palavras enviadas por jovens aos seus pais, irmãos, esposa e filhos.
A censura é algo que não pode ser esquecido, salienta Katrin Kilian, que escreveu um doutorado sobre cartas de campanha. O correio do front foi tema das "Notificações para as Tropas". Tentou-se claramente influir na redação e controlá-las através de averiguação e regulamentações.
Cartas de campanhas são testemunhos autênticos de uma época cuja dimensão de radicalismo só foi investigada, até hoje, com lacunas. Assim escreveu o piloto de combate George Fulde em 1941 a sua irmã: "A Rússia é um deserto miserável que nenhuma pessoa é capaz de imaginar. E, além disso, esse povo bruto e a sujeira. Eu não quero nem pensar o que teria sido de vocês e da Alemanha se os bolchevistas tivessem invadido nosso país, como estava planejado. Mas, graças a Deus, aconteceu o contrário".
Correio de campanha como memorial
Apesar da grande quantidade de cartas, os organizadores tentaram dar uma visão de conjunto à exposição. Sobre cada pessoa que as redigiu, existem dados biográficos detalhados. Os documentos amarelados originais podem ser vistos ao lado dos textos impressos.
Autor: Christoph Richter/Carlos Albuquerque
Redação: Roselaine Wandscheer