Museu quer resgatar presença judaica em Colônia
6 de março de 2014Gerry White escava um sítio arqueológico situado no centro de Colônia, cidade localizada no oeste alemão. Entre a prefeitura e o Museu Wallraf Richartz, foram descobertas ruínas de uma mikvá da Idade Média – casa de banhos judaica, possivelmente frequentada naquela época somente por mulheres.
Hoje, uma enorme tenda protege o sítio arqueológico do sol e da chuva. Ali, nas imediações do centro histórico da cidade, foram encontrados vestígios da história de dois mil anos da cidade. No local, especialistas procuram agora partes de muros e de edificações antigas.
Bairro judaico nas ruínas da ocupação romana
Os arqueólogos conseguiram detectar que, na Idade Média, havia ali um bairro judaico, construído bem em cima das ruínas de uma edificação romana. Durante muito tempo, os pesquisadores não tinham certeza se Colônia havia sido povoada continuamente da Antiguidade até a Idade Média.
Marcus Trier, diretor do Museu Romano-Germânico da cidade e coordenador interino das escavações, afirma: "No bairro que circunda a prefeitura, há muito a descobrir: restos do pretório, o palácio do lugar-tenente da Baixa Germânia, vestígios do domínio no início da Idade Média, partes do bairro judaico e porões destruídos durante a Segunda Guerra Mundial".
Tecnologia digital ajuda na reconstrução
Já nos anos 1950 e 1960, os arqueólogos começaram a se interessar pelo que havia debaixo da praça da prefeitura, nas imediações da Catedral de Colônia. Em 1956, foram descobertos vestígios de uma mikvá no local, bem como da sinagoga frequentada pela comunidade judaica, que existia na Idade Média na cidade. As escavações duraram nada menos que 20 anos, embora, neste ínterim, grande parte da praça tenha sido fechada de novo e transformada provisoriamente em estacionamento.
Somente em 2007 é que as escavações foram retomadas, sob a coordenação dos arqueólogos Sven Schütte e Marianne Gechter, tendo sido conduzidas por eles até abril de 2013. Graças à tecnologia digital e a métodos aplicados nas ciências naturais, foi possível reinterpretar os vestígios do tempo no lugar. Maquetes tridimensionais facilitam a reconstrução do que havia ali no passado.
Os arqueólogos procuraram descobrir até onde vão as raízes da comunidade judaica de Colônia. Na praça da prefeitura, eles acharam partes de uma sinagoga, inclusive uma bimá (plataforma sobre a qual fica uma mesa, de onde se lê a torá), bem como restos de comida kosher, quadros negros com provérbios escritos e objetos de decoração.
"No século 4º já havia uma comunidade judaica em Colônia", diz Marcus Trier. Suas dimensões e onde os judeus viviam exatamente não se sabe ao certo. As escavações arqueológicas levam a crer, contudo, que a partir do século 10 muitos judeus viviam na cidade.
"Durante muito tempo, uma convivência que funcionava"
A sinagoga de Colônia na praça da prefeitura é considerada a mais antiga na Europa ao norte dos Alpes. No entorno dela, os arqueólogos encontraram indícios de uma convivência tranquila entre cristãos e judeus. "Era um bairro fechado, mas que mantinha um intercâmbio com os cristãos. Durante um longo tempo, havia uma convivência que funcionava bem", diz Trier. A prova de que isso viria a mudar posteriormente é o pogrom do ano de 1349 e, por conseguinte, a perseguição aos membros da comunidade judaica que se seguiu. Em 1424, todos os judeus foram obrigados a deixar a cidade.
Uma prova extraordinária do pogrom é um brinco de ouro, também encontrado pelos arqueólogos na praça da prefeitura – um exemplo perfeito da ourivesaria saliana do fim do século 10 e início do século 11. A proprietária do brinco provavelmente deve tê-lo escondido para protegê-lo de saqueadores. "Um peça valiosa como essa ninguém perde simplesmente por aí", suspeita Trier.
Peças em exposição: da Antiguidade até a Idade Média
Há planos de criação de um Museu Judaico no local – uma localização autêntica, ou seja, os objetos serão exibidos onde ficava a sinagoga, centro espiritual e religioso. No projeto arquitetônico do Museu serão envolvidos os vestígios da sinagoga e da mikvá, o banho ritualizado judaico.
Este é pelo menos o projeto que venceu a concorrência realizada em 2007, pelo grupo de arquitetos Wandel, Höfer, Lorch+Hirsch, para a construção da sede do Museu. Uma zona arqueológica deverá ter em exposição peças originárias da Idade Antiga até a Idade Média, ligadas através de um caminho subterrâneo, acessível ao público.
O projeto, contudo, desperta críticas, entre outros porque a administração da cidade de Colônia enfrenta problemas financeiros, apresentando já hoje dificuldades para gerenciar os museus existentes na cidade. Quanto mais se discute a respeito, mais se adia o início da construção do Museu.