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Oficiais contra Musharraf

Dennis Stute (ca)24 de janeiro de 2008

Enquanto o presidente Musharraf faz propaganda para o seu país na Europa, ex-oficiais de alto escalão do país exigem sua renúncia. Em entrevista exclusiva à DW-WORLD, o tenente-general Talat Masood explica os motivos.

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Protesto durante visita de Pervez Musharraf a BruxelasFoto: AP

DW-WORLD: Juntamente com mais de cem ex-oficiais, entre eles dúzias de generais, almirantes e marechais-do-ar reformados, o senhor aprovou, na terça-feira (22/01), uma resolução que condena severamente o presidente paquistanês e exige sua renúncia. Isto é especialmente notável por as Forças Armadas serem consideradas o grande poder determinador no Paquistão. Por que Pervez Musharraf deve sair?

Talat Masood: Ele perdeu a confiança popular. Em primeiro lugar, entra em questão sua legitimidade como presidente – em vez de se legitimar no cargo através do novo Parlamento, que será eleito em fevereiro, ele forjou sua eleição, pouco antes do fim do período legislativo, pelo antigo Parlamento.

Präsident Musharraf in Brüssel Beratungen mit der EU
Musharraf em conversações com a UEFoto: AP

Ele utilizou as Forças Armadas para manter-se no poder, com a conseqüência de que a ira do povo se volta agora contra elas. E justamente a luta contra o terrorismo, que as Forças Armadas empreendem atualmente, precisa do apoio da população. Um motivo especial de preocupação é o fato de Musharraf dividir cada vez mais o país – e por isto deve ir embora.

Estas preocupações não vêm muito tarde? O golpe que colocou Musharraf no poder aconteceu em 1999.

Não se devem fortalecer ainda mais erros do passado. Políticos e sociedade civil entenderam que foi um grande erro ter dado apoio à ditadura militar. Desde então, aprenderam uma importante lição: Sem uma democratização, sem o fortalecimento das instituições, o Paquistão não funcionará. O clima também mudou entre os militares. O novo chefe das Forças Armadas falou claramente que elas não mais se intrometeriam na política.

Quais são as acusações contra Musharraf na resolução aprovada?

O ponto decisivo é que, por ter danificado as colunas da sociedade, Musharraf tem ação bastante desestabilizadora. Ele tratou com descaso a Justiça – como, por exemplo, através da demissão dos principais juízes do país – e também a sociedade civil. Atacou também as forças moderadas e liberais no Paquistão. Para tal, sempre tentou se utilizar das Forças Armadas, já que seu ponto forte não estava no apoio da população, mas sim no apoio militar e americano.

Uma acusação na assembléia foi que Musharraf seria a força "desagregadora, centrífuga". Que isto significa?

O Paquistão é um país multiétnico com diversas confissões islâmicas, que não pode ser dirigido de forma centralista, mas que funciona somente como Estado federalista. No entanto, Musharraf não permitiu isto, no afã de concentrar o máximo possível de poder nas próprias mãos. Na província de Baluchistão, por exemplo, existe uma revolta, porque o governo trata a região com muita negligência.

Na Província do Noroeste e em Waziristão, também na fronteira com o Afeganistão, lutam grupos paramilitares mal treinados contra talibãs e Al Qaeda. Seus guerreiros têm, no entanto, o apoio da etnia pachto paquistanesa, que está muito próxima aos pachtos no Afeganistão e considera a presença da Otan como uma ocupação. Ali, o governo perde cada vez mais terreno.

As ações militares acontecem sob pressão dos EUA. Musharraf tem alguma outra escolha?

Ele está em uma situação difícil, que ele mesmo criou. Com sua forma de agir nas regiões das tribos, ele desacreditou a luta contra o terrorismo. As pessoas não sabem mais por quem lutamos ali – se por nós ou pelos Estados Unidos. Nos últimos cinco anos, a política de Musharraf fortaleceu o extremismo. Atualmente, os extremistas atuam em todo o país.

Em Washington, Musharraf é considerado um importante parceiro…

Os EUA estão particularmente interessados na estabilidade nas regiões das tribos na fronteira com o Afeganistão. O presidente norte-americano George W. Bush considerava muito confortável a situação de ter, em Musharraf, um homem que era chefe das Forças Armadas, presidente e, de certa forma, também o primeiro-ministro de fato – por assim dizer o apoio do Paquistão numa só pessoa.

Musharraf tentou ir ao encontro dos desejos da administração Bush e por isto recebeu apoio. Lentamente a Europa, mas também o Congresso e as autoridades norte-americanas estão compreendendo que, sem um governo democrático, é impossível combater o terrorismo.

Com o atentado contra Benazir Bhutto, o Paquistão perdeu uma de suas mais proeminentes figuras políticas. O que pode acontecer após uma renúncia de Musharraf?

Pela Constituição, o presidente do Senado se tornaria presidente interino e teria que convocar eleições livres e justas através de uma comissão eleitoral. Isto não somente recuperaria a confiança dos cidadãos, mas também melhoraria a imagem do Paquistão lá fora. Somente um governo legitimado estaria habilitado a resolver os problemas do país.

O antigo tenente-general Talat Masood serviu 39 anos no Exército paquistanês e, por último, foi o responsável pela produção de armamentos no Ministério da Defesa.