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Médico congolês recebe Prêmio Sakharov

21 de outubro de 2014

Denis Mukwege, que opera mulheres vítimas de violência sexual, uma estratégia de guerra adotada pelas milícias do país, é honrado por sua luta pelos direitos humanos. Em 2012, ele sofreu tentativa de assassinato.

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Foto: AFP/Getty Images/Hugues Honore

O ginecologista congolês Denis Mukwege será o agraciado de 2014 com o Prêmio Sakharov de direitos humanos e liberdade de pensamento. O anúncio foi feito pelo presidente do Parlamento Europeu, o alemão Martin Schulz, nesta terça-feira (21/10), em Estrasburgo.

O médico de 59 anos fundou o Hospital Panzi, em Bukavu, no leste da República Democrática do Congo, e lá ele tratou milhares de mulheres e meninas vítimas de violência sexual. A clínica tenta, a partir dos tecidos humanos queimados e dilacerados, reconstruir o órgão sexual feminino.

"Normalmente, leva anos até que se consiga chegar a algum resultado. Muitas mulheres precisam fazer longas pausas entre as cirurgias, caso contrário, poderiam não sobreviver a outra operação", explicou o ginecologista.

Persguido por rivais

A iniciativa surgiu após Mukwege notar que o número crescente de estupros violentos durante a guerra civil não era por acaso. "As várias milícias no Congo utilizam a sistemática destruição da mulher como estratégia de guerra", explica.

Segundo ele, a destruição dos órgãos genitais – muitas vezes com uso de ácido e fogo – torna as mulheres inférteis e, consequentemente, enfraquecem o inimigo. O grupo rival não tem como se propagar e, além disso, os homens são humilhados por não terem conseguido proteger as mulheres.

Alternativer Nobelpreis 2013 Denis Mukwege
O ginecologista Denis Mukwege trata mulheres e garotas que foram vítimas de estupros - uma estratégia de milícias na guerra civil do CongoFoto: Stina Berge

Com a ajuda do Unicef, o ginecologista fundou em 1996 a primeira maternidade de Bukavu, que foi aos poucos ampliada até ser o hospital de hoje. Mukwege busca divulgar as crueldades no Congo também à comunidade internacional. O seu ativismo – e a ajuda às mulheres violentadas – lhe rendeu inimigos.

Em 2012, homens armados invadiram sua casa e tentaram matá-lo. Mukwege sobreviveu apenas porque um colega de trabalho distraiu os assassinos e foi executado. Após alguns meses com a família na Bélgica, o médico voltou a Bukavu no início de 2013 e foi recebido por uma multidão de mulheres no aeroporto.

Desde então, 20 dessas mulheres se revezam como "guardas" do ginecologista. Em setembro de 2013, Mukwege foi honrado com o Prêmio Nobel Alternativo por seu compromisso com os diretos humanos.

Mandela foi primeiro premiado

Mukwege receberá o Prêmio Sakharov em 26 de novembro, em Estrasburgo. A honraria leva o nome do cientista soviético Andrei Sakharov, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1975.

Südafrika Bildergalerie Nelson Mandela mit Bill Clinton auf Robben Island
Nelson Mandela (esq.), aqui mostrando ao então presidente americano Bill Clinton a prisão de Robben Island, foi o primeiro vencedor do Prêmio Sakharov.Foto: Ullstein/Reuters

O prêmio é dado anualmente pelo Parlamento Europeu a pessoas que lutam pela defesa dos direitos humanos e pela liberdade de expressão. Criado em 1988, ele teve Nelson Mandela como primeiro contemplado.

Entre outros premiados estão as Mães da Praça de Maio (1992), da Argentina; o ganês e ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan (2003); e a atual vencedora do Prêmio Nobel da Paz, a paquistanesa Malala Yousafzai, no ano passado.

O premiado recebe também uma quantia de 50 mil euros. Os outros dois indicados para a edição deste ano haviam sido o movimento de liberdade pró-europeu Euromaidan, da Ucrânia, e a ativista de direitos humanos Leyla Yunus, do Azerbaijão.

PV/dpa/epd/kna