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Médicos trabalham na Síria em condições de alto risco

Cornelia Wegerhoff (rc)13 de outubro de 2013

As Nações Unidas exigem que o governo sírio permita o acesso da ajuda humanitária aos necessitados – em declaração sem caráter vinculativo. ONGs não esperam para breve uma melhora das condições de trabalho no país.

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Tankred Stöbe, da Médicos Sem Fronteiras, em campo de refugiados síriosFoto: Ärzte ohne Grenzen

As exigências das Nações Unidas soam inequívocas: a organização demanda do governo de Bashar al-Assad a adoção de "medidas imediatas" para permitir a ampliação das atividades humanitárias no país. Uma dessas medidas é remover "impedimentos burocráticos e outros obstáculos".

Hassan Ahmed é porta-voz da Sociedade Sírio-Alemã pelas Liberdades e Direitos Humanos, sediada na cidade de Weiterstadt, em Hessen. Ele vê com ceticismo as exigências da ONU por melhor acesso para as equipes humanitárias, e observa: gente demais já perdeu a vida nos esforços de ajuda, seu fracasso não se deveu apenas a "obstáculos".

Nos últimos dias, o sírio Ahmed se preocupa com a segurança de seus amigos, já que alguns membros da associação tentam atravessar a fronteira turca em Aleppo com um caminhão carregado de medicamentos e suprimentos médicos. "Não se sabe quando vão atirar. Não se sabe como vai estar o humor do soldado no posto de fiscalização. E aí, pode ser que o motorista do caminhão acabe pagando com a vida."

Syrien Aleppo Humanitäre Hilfe
Veículos da ajuda humanitária internacional são alvos frequentes de ataquesFoto: picture-alliance/acaba

Até agora, o regime de Assad tem rejeitado categoricamente as missões de ajuda do exterior, alegando que elas também suprem os rebeldes. Ahmed não acredita que a declaração da ONU tenha poderes reais para mudar essa situação.

"Isso tudo soa muito bonito. Ouvimos com frequência exigências como essa, mas nada acontece." Afinal, ao contrário de uma resolução da ONU, uma declaração da organização não tem qualquer valor vinculativo. "Os países podem acatá-la ou simplesmente ignorá-la. Não se trata de uma medida concreta, que vá ajudar de fato as pessoas na Síria."

Medicamentos para clínica subterrânea

A Associação Sírio-Alemã de Ahmed tenta alcançar resultados concretos por conta própria. Para tal, conta com o apoio da organização alemã de ajuda médica Action Medeor, que disponibilizou 190 mil euros, só para o transporte de medicamentos e material médico para Aleppo.

Esses suprimentos deverão abastecer uma estação de tratamento intensivo, que há meses só pode funcionar secretamente naquela cidade síria. Os médicos operam no porão do hospital que existia no local, desde que um míssil de longo alcance destruiu o prédio.

A organização Médicos Sem Fronteiras também enfrenta condições similares, ao tentar auxiliar a população síria. Em 2012, o diretor executivo da entidade, Tankred Stöbe, chegou a montar uma sala de operações numa caverna na província de Idlib. Em setembro último, ele passou quatro semanas na fronteira sírio-iraquiana, onde uma barraca foi convertida em clínica médica.

Nesse período, centenas de refugiados sírios atravessavam a fronteira todos os dias, relata o médico. Eles fogem de seu país não apenas porque suas casas foram bombardeadas, mas também em razão da falta de assistência médica. Mais da metade dos hospitais sírios foi danificada ou destruída na guerra civil.

"As pessoas me informaram que há meses não tomavam mais medicamentos, não tinham mais médicos. Muitos profissionais deixaram o país", explica Stöbe. Para os portadores de doenças crônicas, como diabetes ou hipertensão, a falta de cuidados e medicamentos pode ser fatal.

Ärzte ohne Grenzen aufblasbarer OP-Saal für syrische Flüchtlinge
ONG Médicos Sem Fronteiras opera em hospitais improvisadosFoto: Robin Meldrum/Ärzte ohne Grenzen

Ataques a ambulâncias

A Médicos Sem Fronteiras mantém atualmente seis clínicas em regiões controladas por rebeldes no norte da Síria. Ela apoia, ainda, dezenas de clínicas em outras regiões do país com medicamentos e suprimentos médicos. Stöbe explica que a ONG não tem permissão oficial de entrar na Síria, devido ao bloqueio imposto pelo regime Assad.

"Mesmo onde podemos trabalhar, as condições de segurança são catastróficas. Com frequência temos que retirar nossos profissionais, durante dias, semanas. Trabalhamos em porões, nas casas de civis, em cavernas. Temos que nos esconder, senão somos atacados."

Syrien Bombeneinschlag in Schule
Escola em Raqqa destruida por bombardeio das tropas de AssadFoto: Reuters

Em setembro, um cirurgião da Médicos Sem Fronteiras foi baleado. Até mesmo ambulâncias sofrem ataques. "Todo veículo em movimento é um alvo", relata Stöbe, baseado na experiência própria. Ele e sua equipe tiveram que encobrir todas luzes de seus veículos, pois "tudo o que se move e é considerado uma equipe médica, é declarado inimigo".

"Pausas humanitárias"

Jens Laerke, porta-voz em Genebra do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Unocha), confirmou numerosos ataques à ajuda humanitária na Síria. Como seria de esperar de um funcionário da ONU, ele saúda a declaração da entidade contra os ataques. No entanto, admite, até agora a medida não tem qualquer caráter vinculativo.

Ele reivindica "pausas humanitárias" na guerra civil síria, ou seja, a suspensão dos combates, pelo menos por um determinado período, "para que possamos entrar no país, chegar até as pessoas e providenciar a ajuda de que elas necessitam".