México e França cobram explicações dos EUA sobre espionagem
21 de outubro de 2013Na próxima quarta-feira (21/10), a presidente Dilma Rousseff desembarcaria na capital americana para uma visita de Estado, se não houvesse cancelado a viagem após as denúncias de que a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos teria monitorado as comunicações do Planalto e da Petrobras.
Agora é a vez de os governos de México e França exigerem esclarecimentos de Washington, após reportagens publicadas, respectivamente, pela revista alemã Spiegel e pelo jornal francês Le Monde apontarem que a espionagem da NSA nos dois países seria muito mais abrangente do que se conhecia até agora.
O chanceler francês, Laurent Fabius, anunciou a convocação do embaixador americano em Paris para se apresentar em seu ministério ainda nesta segunda-feira (21/10). "Nós já havíamos sido alertados em junho e reagimos com rigor, mas aparentemente é preciso continuar", disse Fabius à margem do encontro de ministros do Exterior da União Europeia em Luxemburgo.
Já o Ministério do Exterior do México manifestou seu repúdio através de nota:"O governo mexicano reitera a sua condenação categórica da violação da confiabilidade da comunicação das instituições e cidadãos mexicanos."
Segundo a declaração, o governo do México vai exigir respostas das autoridades dos Estados Unidos "o mais rápido possível". A prática americana, continua o texto, é "inaceitável e ilegal."
Monitoramento de e-mails
Em sua última edição, a Spiegel relata que, já em 2010, um departamento especial da NSA conseguiu, numa operação de espionagem chamada "Flatliquid", monitorar pela primeira vez a conta de e-mail do então presidente Felipe Calderón. De acordo com a revista alemã, a operação foi dirigida a partir de uma subsidiária da NSA na cidade texana de San Antonio. Além disso, as estações de escuta na Embaixada Americana na Cidade do México também exerceram um importante papel na operação.
Segundo os documentos divulgados pelo ex-consultor da CIA Edward Snowden e avaliados pela Spiegel, além do presidente, a NSA também conseguiu acessar os e-mails de outros membros do gabinete de governo, responsáveis, por exemplo, pelo combate ao tráfico de drogas e à migração ilegal.
Dada a profunda visão no sistema político mexicano, a NSA classificou o escritório do presidente mexicano de uma "fonte lucrativa", escreve a Spiegel. Em setembro passado, a imprensa brasileira noticiou que a NSA havia espionado também o atual presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, durante a campanha eleitoral.
Na declaração divulgada neste domingo, o Ministério do Exterior mexicano afirmou que "na relação entre vizinhos e parceiros, não há espaço para atividades como essas, que provavelmente aconteceram". O Ministério pediu esclarecimentos do presidente americano, Barack Obama, e anunciou novos passos diplomáticos. Em encontro anterior com o Peña Nieto, Obama já havia prometido investigações abrangentes das atividades da NSA.
Milhões de dados telefônicos interceptados
Também fazendo alusão a documentos divulgados por Snowden, o jornal Le Monde, por sua vez, divulgou nesta segunda-feira que somente no espaço de um mês – entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013 – foram interceptadas 70,3 milhões de chamadas telefônicas na França. Em alguns dias, foram registrados automaticamente quase 7 milhões de dados telefônicos. Também mensagens de texto foram interceptadas com base em determinadas palavras-chave, afirmou o diário.
De acordo com a reportagem do jornal francês, a espionagem não teria como alvo os suspeitos de terrorismo, mas também foram interceptados dados telefônicos de franceses que, aparentemente, seriam interessantes para a NSA somente devido às suas atividades comerciais ou ao seu trabalho em órgãos do governo.
O jornal afirma ainda que, em janeiro, o serviço de inteligência americano se interessou principalmente pelas contas de e-mail do provedor de internet wanadoo.fr, que soma cerca de 4,5 milhões de usuários, e pelas contas da empresa franco-americana de infraestrutura e soluções de comunicação Alcatel-Lucent.
O ministro do Interior francês, Manuel Valls, afirmou que as revelações do Le Monde seriam chocantes. "Isso exige esclarecimentos precisos das autoridades americanas nas próximas horas", disse Valls.
O Le Monde diz ter recebido os documentos de Edward Snowden do jornalista Glenn Greenwald, que publicou as denúncias do ex-consultor da CIA inicialmente no jornal The Guardian. O jornal francês afirmou que, nos próximos dias, vai publicar novas revelações.
CA/afp/dpa/dw