Música latina não é só samba e salsa
22 de março de 2004Com o objetivo de mostrar à população alemã que a América Latina não tem só salsa e samba, um grupo de sete flautistas de seis países latinos fará concertos de música clássica e popular em Colônia, Bonn e Hamburgo no mês de março. Eles se apresentam acompanhados por pianistas e violonistas.
Estes são os primeiros concertos de flautistas da América do Sul na Alemanha, segundo eles próprios, com um programa formado por obras de Astor Piazzola, Camargo Guarnieri, Antonio Carlos Carrasqueira, Omar Acosta, Guillermo Rifo, Zequinha de Abreu, entre outros.
Segundo a coordenadora de eventos do Centro América Latina (Lateinamerika-Zentrum) de Bonn, Luciana Aguileira, a idéia é divulgar como os músicos latinos interpretam canções de seus países. "A música de muitos países da América Latina vem despertando a atenção de intérpretes europeus. O número de gravações de obras de consagrados como Heitor Villa-Lobos e Astor Piazolla tem aumentado de modo significativo", observa Luciana.
O flautista e coordenador da turnê Paulo Gouveia comenta, entretanto, que em concertos na Alemanha é muito comum encontrar obras de Villa-Lobos sem que os intérpretes tenham a menor idéia do que seja um choro, a base da música deste compositor. "Desta forma, a interpretação sai quadrada e não mostra os elementos folclóricos contidos na obra", justifica.
Apesar de o mercado europeu ainda ser fechado aos artistas sul-americanos, o Centro América Latina está bastante otimista com as apresentações, que deverão atrair um público de cerca de 300 pessoas em Colônia e Bonn. De acordo com Luciana, este é o primeiro passo para o desenvolvimento de futuros projetos de cooperação com instituições alemãs.
A renda das apresentações e as doações arrecadadas serão destinadas a instituições que cuidam de crianças carentes na América Latina. Segundo a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e Caribe, cerca de 220 milhões de pessoas vivem na pobreza na região. Este número corresponde a 43,4% da população dos países em questão, ou três vezes a da Alemanha.
Entre os projetos sociais que necessitam de apoio financeiro, destacam-se o Centro Social de Garanhuns e Brejo Santo, no Ceará, e a integração sócio-econômica de mulheres e jovens carentes das cidades de Joinville e Curitiba, no sul do Brasil.
Feras da música clássica brasileira
Entre os artistas brasileiros, estão os flautistas paulistanos Antonio Carlos Carrasqueira, Paulo Gouveia, Celso Woltzenlogel e a pianista Maria José Carrasqueira.
Antonio Carlos Carrasqueira é considerado o flautista de maior destaque nacional e internacional, requisitado para gravações de choros recém-lançados no mercado brasileiro e já tendo gravado com Zizi Possi, Egberto Gismonti e Yamandú.
Sua irmã, Maria José Carrasqueira, uma das pianistas concertistas mais premiadas no Brasil, apresenta-se há algum tempo no exterior. Paulo Gouveia, residente na Alemanha há 15 anos, realiza atividades de concerto e pedagógicas em diversos países europeus e América Latina, com a coordenação do projeto "Flautistas da América do Sul".
Presidente e fundador da Associação Brasileira de Flautistas, Celso Woltzenlogel foi professor de flauta da Universidade Federal do Rio de Janeiro entre 1968 e 1994.
Além dos músicos brasileiros, apresentam-se em Colônia, Bonn e Hamburgo representantes da Argentina, Chile, Equador, Peru e Venezuela.
Criado em 1961, o Centro América Latina de Bonn ajuda a população carente da América Latina através de doações e eventos, com a intenção de quebrar o círculo vicioso da pobreza nestes países.
Programação variada
Os concertos de música clássica acontecem no dia 22 de março em Colônia, às 19h30, na igreja de São Martinho, e em Bonn, no dia 23, às 19h30, no ginásio Clara-Schumann.
A primeira apresentação em Hamburgo, de música clássica, acontecerá na igreja São João, no dia 25, às 20h, enquanto que a de música popular será no dia 29, às 21h, no centro cultural Fabrik Altona.
Os concertistas participarão ainda do Festival Internacional de Flautistas de 26 a 28 de março na Escola Superior de Música de Hamburgo. É a primeira vez que flautistas brasileiros apresentam-se neste evento.