Na Alemanha 3ª onda da pandemia pode ser pior que anteriores
26 de março de 2021Autoridades de saúde da Alemanha afirmaram nesta sexta-feira (26/03) que a terceira onda da pandemia, caracterizada pela alta do número diário de novos casos de covid-19, será "mais difícil de conter" do que as duas primeiras.
A piora nos indicadores tanto deve-se à variante B117, mais severa e transmissível, e identificada inicialmente no Reino Unido, quanto ao relaxamento recente de algumas medidas de isolamento.
As declarações foram feitas por Lothar Wieler, presidente do Instituto Robert Koch (RKI), e pelo ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, encerrando uma semana turbulenta, com o comando da Alemanha tomando decisões polêmicas para reduzir o número de novos infectados.
O que as autoridades disseram?
Há "claros sinais" de que a atual terceira onda da covid-19 na Alemanha "pode ser ainda pior que as primeiras duas", disse Wieler. Em entrevista coletiva ao lado de Spahn, o presidente do RKI fez um apelo para que se reduzam seus contatos sociais durante o feriado de Páscoa.
Ele afirmou que a alta na taxa de infecção está neutralizando eventuais ganhos no controle da pandemia obtidos com a vacinação, cuja primeira dose foi aplicada em cerca de 10% da população do país.
Spahn alertou que a trajetória atual de infecções pode deixar os hospitais da Alemanha sobrecarregados nas próximas semanas, e pediu que a população reduza seus contatos sociais, tenha encontros somente ao ar livre e siga as regras de distanciamento social.
"Os números estão subindo muito rápido, e as variantes estão tornando a situação especialmente perigosa. Se isso não for controlado, corremos risco que nosso sistema de saúde atinja seu limite em abril."
O ministro também informou que a exigência de que todos os passageiros apresentem um exame para covid-19 com resultado negativo antes de embarcarem em voos para a Alemanha teve seu início adiado para a próxima terça-feira (30/03). Antes, a regra só afetava os oriundos de países considerados de alto risco. A data foi postergada para dar às companhias aéreas e aos viajantes mais tempo para se prepararem.
Ele reconheceu que as exigências de testagem para quem chega de viagens não terá grande impacto na taxa de infecção: "Não tenho ilusões. Essa regra, isolada, não será decisiva para o feriado de Páscoa. A situação é muito grave, e a taxa de infecção na Alemanha está muito alta."
O presidente do RKI, Wieler, alertou que o número de novas infecções diárias na Alemanha poderã chegar a 100 mil, caso não se tomem suficientes medidas preventivas. Assim, o país "terá algumas semanas muito difíceis pela frente". Ambos também apelaram para que todos que tiverem oportunidade de se vacinar, o façam.
Qual é a situação da pandemia na Alemanha?
As declarações das autoridades de saúde alemãs foram feitas num momento em que os números de novos casos na Alemanha sobem continuamente. Na sexta-feira, o RKI registrou 21.573 novos casos, cerca de 4 mil a mais do que uma semana antes.
A incidência pela média móvel de sete dias na Alemanha chegou a 119 novos casos por 100 mil habitantes, contra 113 na véspera. A incidência de novos casos é uma das principais variáveis utilizadas na Alemanha para guiar o relaxamento ou endurecimento das restrições.
O número de novas mortes diárias por covid-19 no país, pela média de sete dias, é de 181. O indicador está relativamente estável há uma semana, e costuma demorar para refletir o aumento do número de casos.
Que medidas foram decididas nesta semana?
A combinação de números de novos casos em alta, uma campanha de vacinação irregular e a ira da população sobre propostas de novas restrições tornaram esta semana especialmente tumultuada para o governo da chanceler federal Angela Merkel.
Na quarta-feira, a chefe de governo recuou de planos anunciados menos de 24 horas antes, endurecendo o confinamento da temporada de Páscoa, de 1º a 5 de abril. No dia seguinte, Spahn anunciou as novas medidas para os viajantes.
O governo também está analisando se seria legalmente possível proibir temporariamente as viagens de férias no exterior. A iniciativa seria um novo recuo em relação a medidas decididas nesta semana, quando Merkel e os governadores dos 16 estados alemães mantiveram em vigor as restrições a viagens domésticas, mas permitiram viagens internacionais a destinos populares como a ilha espanhola Maiorca.
Além disso, a Alemanha deu aval nesta sexta-feira ao fundo de recuperação pós-pandemia da União Europeia, no valor de 750 bilhões de euros (R$ 5 trilhões), quebrando um tabu sobre a contração de dívida comum pelo bloco. O fundo integra um orçamento de 1,8 trilhões (R$ 12 trilhões) até 2027, que teve a concordância dos 27 países do bloco em dezembro.
"O voto é um sinal claro da solidariedade e força europeia", justificou o ministro da Economia, Olaf Scholz, afirmando ser do interesse da Alemanha que todo o bloco saia bem da crise. "Uma recuperação forte na Europa é um pré-requisito importante para o sucesso e a prosperidade da própria Alemanha", afirmou.
bl (Reuters, AFP, DPA)