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Na crise do euro, Portugal enxerga luz no fim do túnel

17 de setembro de 2012

Credores da UE e do FMI confirmam que portugueses estão no caminho certo para a recuperação econonômica. Depois da Irlanda, país é o segundo a ter sucesso com medidas de austeridade aliadas a reformas.

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Foto: Getty Images

Após a quinta visita a Lisboa, membros da troika – formada por União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) – confirmaram que Portugal está no caminho certo para sair da crise. Verificados os avanços das reformas e os esforços de austeridade, os credores internacionais deram luz verde para mais uma parcela do pacote de 78 bilhões de euros concedido ao país.

Além disso, Portugal também recebeu um ano a mais de prazo para reduzir sua dívida. A meta é reduzir o deficit orçamentário para no máximo 3% até 2014.

"Portugal se comportou exemplarmente na implementação de todas as reformas impostas", confirmou à DW Matthias Kullas, do Centro de Política Europeia (CEP). "A necessidade de créditos estrangeiros diminuiu, os custos trabalhistas foram reduzidos e a competitividade aumentou", afirma.

Para tanto, o país realizou esforços, como a venda de propriedades estatais e, principalmente, reformas estruturais. Essas incluem cortes das aposentadorias, reforma do seguro-desemprego – que prevê remuneração durante no máximo 18 meses –, uma flexibilização da jornada de trabalho, assim como a simplificação dos processos de contratações e demissões.

Portugal Sparmaßnahmen Pedro Passos Coelho
Passos Coelho surpreendeu com novas medidas de austeridadeFoto: Reuters

Dolorosas, porém necessárias

Hans-Joachim Böhmer, da Câmara de Comércio Luso-Alemã, em Lisboa, diz que a maioria da população acatou as medidas iniciais, mesmo que a contragosto. "Em Portugal, sabe-se que medidas de adaptação são necessárias. Elas são sustentadas por governo, oposição e população." Segundo Böhmer, há um consenso de toda a sociedade de que, apesar de dolorosas, medidas corretivas são necessárias.

Mas tal consenso foi posto à prova no início de setembro. Por conta do desempenho econômico, o governo precisou realizar mais cortes. No último dia 7 de setembro, o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, surpreendeu ao anunciar um aumento da contribuição de trabalhadores à seguridade social de 11% para 18%. Ao mesmo tempo, para combater a taxa de desemprego recorde de 15,7%, a contribuição dos empregadores foi reduzida de 23,75% para 18%.

Na sequência, o ministro das Finanças, Vitor Gaspar, anunciou novas reformas, entre elas, cortes das aposentadorias, uma redução acelerada do número de funcionários públicos e um aumento do imposto de renda.

As novas medidas anunciadas desencadearam uma onda de indignação. A imprensa reportou a frustração dos cidadãos sobre os cortes. "Em apenas cinco dias, dois golpes no estômago, que podem provocar graves danos. O clima social e político incerto foi consolidado", escreveu o jornal Público.

Hans-Joachim Böhmer AHK Portugal
Böhmer diz que portugueses sabem que medidas são necessáriasFoto: AHK

Neste final de semana, milhares de pessoas saíram às ruas em cerca de 40 cidades portuguesas para protestar contra os novos cortes. Os manifestantes, entre eles vários políticos da oposição, pediram mudanças na política econômica ou a renúncia de Passos Coelho.

Esperança nas exportações

Segundo especialistas, para colocar sua economia nos eixos, Portugal precisa continuar voltado para o exterior. O mercado interno não promete grande crescimento para os próximos anos, enquanto os mercados externos têm um grande potencial.

"Na Europa, a Alemanha é um mercado importante", afirma Böhmer. Fora do continente, as exportações portuguesas são destinadas principalmente a "países de economia dinâmica, como China e Angola, mas onde taxas de crescimento adequadas já foram alcançadas e serão alcançadas também no futuro".

Kullas também vê as exportações como motor de crescimento, mas sublinha que, ao mesmo tempo, Portugal precisa investir mais em educação. "Portugal precisa trabalhar em longo prazo para melhorar a educação oferecida à população. Isso aumentaria a capacidade de inovação da economia, de modo que o país se tornaria novamente competitivo nos mercados internacionais", considera.

No momento, Portugal concorre mais com a China do que com países como a Alemanha. "Em longo prazo, isso é insustentável para um país como Portugal. Muito ainda precisa ser feito", aponta Kullas.

Portugal Jugendliche Arbeitslosigkeit
Jovens portugueses, vítimas do desemprego, protestam contra medidas de austeridade em LisboaFoto: Getty Images

Portugal age

Entretanto, quando comparada com os países do euro em crise, a situação dos portugueses é melhor. Portugal foi o segundo país, depois da Irlanda, a provar que medidas de austeridade aliadas a reformas podem funcionar. Diferentemente da vizinha Espanha e especialmente da Grécia, Portugal já enxerga a luz no fim do túnel.

Por conta de seu mercado imobiliário altamente regulado, Portugal não foi atingido por uma "bolha", como a Espanha. E a entrada na zona do euro também não provocou um boom imobiliário semelhante ao vivenciado pelos espanhóis.

Na comparação com a Grécia, Kullas vê a diferença principalmente na disposição para implementar reformas. "A Grécia tomou muitas decisões, mas colocou poucas em prática. Essa é uma enorme diferença com relação a Portugal. Os portugueses decidem e de fato implementam", afirma.

Os problemas portugueses são parecidos com os gregos, mas, para solucioná-los, Portugal é "claramente mais eficiente e mostra dispor da vontade e das habilidades necessárias", ressalta o especialista.

Autor: Ralf Bosen (lpf)
Revisão: Marcio Damasceno