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Na África, papa diz que pobreza gera conflitos e terrorismo

25 de novembro de 2015

Primeira visita de Francisco ao continente africano é cercada por enorme aparato de segurança. Ele visitará países que enfrentam o terrorismo islâmico e uma guerra civil: Quênia, Uganda e República Centro-Africana.

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O papa Francisco durante visita a Nairóbi, no QuêniaFoto: Reuters/G. Tomasevic

O papa Francisco alertou nesta quarta-feira (25/11), após desembarcar no Quênia, que a pobreza deve ser vista como um fator central para o surgimento de conflitos e do terrorismo.

"A experiência mostra que a violência, os conflitos e o terrorismo se alimentam de medo, desconfiança e desespero nascidos da pobreza a da frustração", disse o papa, falando à uma multidão em Nairóbi, ao lado de líderes quenianos.

"A luta contra esses inimigos da paz e da prosperidade tem de ser exercida por homens e mulheres que acreditam destemidamente nos grandes valores espirituais e políticos que inspiraram o nascimento da nação", acrescentou.

A primeira viagem de Francisco ao continente africano é considerada de alto risco por haver o temor de um ataque terrorista do grupo radical islâmico Al Shabab.

Na viagem de seis dias, o pontífice visitará três países – Quênia, Uganda e República Centro-Africana –, aos quais pretende levar uma mensagem de paz, justiça social e diálogo entre o islã e o cristandade.

Vítimas do terrorismo

Nos três países, as comunidades cristãs estão na defensiva por causa de movimentos radicais islâmicos. Quênia e Uganda sofreram grandes ataques executados pelo Al Shabab.

No Quênia, 148 estudantes foram massacrados na Universidade de Garissa em abril de 2015. Em 2013, homens armados realizaram um atentado num centro comercial de Nairóbi, matando 67 pessoas.

Em Uganda, ataques suicidas do Al Shabab mataram 76 pessoas em 2010, durante atentados a restaurantes na capital Kampala.

Por fim, a República Centro-Africana se encontra numa guerra civil há dois anos, que opõe cristãos e muçulmanos. Os três países também são marcados pela falta de respeito aos direitos humanos e pela violência armada.

"Gave crise ambiental"

Ainda em Nairóbi, nesta quarta-feira, o papa discursou na sede dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma, sigla em inglês) e para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat). "A grave crise do meio ambiente enfrentada em nosso mundo exige uma sensibilidade cada vez maior para a relação entre seres humanos e natureza", disse o pontífice.

"Há uma ligação evidente entre a proteção da natureza e a construção de uma ordem social justa e equitativa", prosseguiu o líder da Igreja Católica. "Nós temos a responsabilidade de transmitir a beleza da natureza em sua integridade para as gerações futuras. Esses valores estão profundamente enraizados na alma africana."

As observações do papa antecedem a cúpula da ONU sobre o clima, que reunirá mais de 145 líderes mundiais por 12 dias em Paris. O evento, de 30 de novembro a 11 de dezembro, visa assegurar um pacto mundial para tentar conter o aquecimento global.

Missa para primeiros santos africanos

Nesta quinta-feira, Francisco deverá celebrar uma missa ao ar livre em Nairóbi. Um milhão de pessoas são aguardadas. O governo decretou feriado nacional. O papa também deverá visitar uma favela no país.

Ainda em seu roteiro na África, o papa visitará o santuário de Namugongo, no Uganda, onde celebrará uma missa para celebrar os primeiros santos africanos: 22 jovens mártires cristãos queimados vivos no final do século 19 por ordem do rei Mwanga 2º, de quem eram pajens e que se recusaram a ser escravos sexuais.

No domingo, o pontífice participará da inauguração de uma "porta santa" na catedral de Bangui, a capital da República Centro-Africana, algo visto como uma antecipação simbólica da abertura oficial, em Roma, do "Jubileu da misericórdia".

Em todas as estações, o papa Francisco tem previstas reuniões com comunidades pobres, jovens, cristãos e também muçulmanos. Cerca de 10 mil agentes estão participando do esquema de segurança da primeira visita papal à África.

Segundo o Vaticano, cancelamentos de última hora somente vão ocorrer se houver um risco concreto à segurança dos fiéis.

PV/lusa/afp/ap